domingo, 22 de janeiro de 2012

A falta de ousadia do governo Dilma

A falta de ousadia do governo Dilma

A falta de ousadia do governo Dilma

Coluna Econômica - 23/01/2012

Por que os países perdem o bonde da história?

A lógica é mais ou menos recorrente. O tempo da história nacional é muito mais longo que o prazo do mandato dos governantes. Decisões estratégicas levam anos para se consolidar, mostrar sua lógica, ganhar corações e mentes. O reconhecimento se dá através da história, não de imediato.

Já os governantes pavimentam sua gestão por marcas próprias, pessoais, que sejam captadas imediatamente pelo eleitorado e pela opinião pública.

Em alguns momentos, casa o discurso com o rompimento de paradigmas. Foi assim quando Vargas (assessorado pelo Sr. Crise) rompeu com a inércia financeira da República Velha; quando JK completou o ciclo da indústria de base estatal com a atração de multinacionais; quando Fernando Collor brandiu o discurso da abertura e da desregulamentação que rompeu com a inércia pós-Geisel; e quando Lula desfraldou a bandeira das políticas sociais universalistas, civilizando a irracionalidade fiscal pós-Marcílio Marques Moreira.

Mas ainda não existe no país nem governantes nem grupos de inteligência capazes de definir políticas de longo prazo, institucionalizadas, casando pragmatismo e ações estratégicas, como fizeram os fundadores nos Estados Unidos do século 19.

E se o governante não consegue identificar os fatores portadores de futuro para a etapa seguinte, ou o país fica estagnado nas conquistas do período anterior; ou desanda.

Com Lula encerra-se um ciclo relevante, de início de políticas sociais inclusivas, formação de um mercado interno parrudo, de consumo de massa, uma melhor articulação nos investimentos públicos através do PAC (Programa de Aceleração do Cresciment). Dilma Rousseff teve papel relevante na montagem desse modelo.

Agora, como conceito essa etapa se completou, exigindo apenas continuidade na consolidação.

Dilma se conferiu o papel de consolidar desse modelo, aprimorando as ferramentas gerenciais, reduzindo a margem de manobra da fisiologia. É necessário, mas não suficiente. Se ela não tirar os olhos do dia-a-dia fará um governo morno, mas não um salto à altura da obra de seu antecessor.

É necessário que o círculo próximo da presidência disponha de estrategistas que, apontando o futuro, tire os olhos da presidente da análise exclusiva do dia-a-dia.

Mercado interno robusto é um ativo relevante, mas não é auto-sustentável. É ponto de partida, não de chegada. Pode-se gerar processos de desenvolvimento com políticas sociais inclusivas - que alargam o mercado consumidor - ou com moeda apreciada - que ilude o eleitor.

O bom aproveitamento desse ativo exige a elaboração de estratégias. Sejam quais forem os caminhos, não podem desviar-se do objetivo principal: fortalecer a produção e o emprego internos.

Por fortalecer não se entende meras medidas protecionistas. O protecionismo dos anos 80 legou uma indústria acomodada, provinciana, sem condições de competitividade. Significa estratégias que induzam à competição com produtos importados.

Enquanto não se tem a musculatura, garante-se a competitividade através de um câmbio competitivo. Depois, políticas públicas induzem à busca da gestão, da inovação, das modelagens de venda, das parcerias, do adensamento da cadeia produtiva.

Dilma ainda não se deu conta de que seu governo precisa ir muito além do que meramente consolidar os ganhos da etapa anterior.

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