domingo, 5 de julho de 2015

O bullying diário

O bullying diário contra a presidenta Dilma Rousseff - Jornal do Romário







O bullying diário contra a presidenta


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Por Alexandre Ribondi
“Muita mentira, mas não inventada
pelos dois senhores (que ouço) que apenas repetem, como papagaios, o que
é dito e clamado nas redes sociais e na mídia nacional”.
Hoje à tarde, sentado num café, ouvi da
mesa ao lado dois senhores que lamentavam a imensa vergonha de ver a
presidente do Brasil ir aos Estados Unidos de pires na mão, já que o
nosso país está quebrado.
Tudo isso é mentira, é claro, mas não
foi inventada pelos dois senhores que apenas repetem, como papagaios, o
que é dito e clamado nas redes sociais e na mídia nacional.
E não é para se surpreender, porque
qualquer brasileiro sabe que da Dilma Rousseff já se inventou de tudo.
Que a filha dela se tornou dona de 20 empresas e está milionária. Que
ela liberou R$ 13 milhões para erguer estátua do Lula. Que proibiu
divulgação de investigações de acidentes aéreos acontecidos no nosso
céu.
Que é lésbica de dar porrada. Que foi
assaltante de banco e terrorista (informação dada pela Folha de S.
Paulo, que, em seguida, desmentiu, com pedidos de desculpas). Que quer
deturpar a língua portuguesa ao pretender ser chamada de 'presidenta'.
Podemos até nos perguntar se ela
consegue dormir, que calmante tarja preta ela toma, se sofre de
tremedeira e suores. Eu teria tudo isso, porque uma coisa é fato: a
imprensa e a elite brasileiras, enlouquecidas com a possibilidade de o
governo de Dilma continuar levando o Brasil para o bom caminho e, com
isso, firmar a plataforma eleitoral de Lula na próxima eleição não têm
mais pudor em difamar, atacar moralmente e psicologicamente, mentir,
inventar. Isso tem nome e certamente não é jornalismo nem oposição. Isso
é bullying.
Mas tanto a elite quanto a imprensa
sabem que já tiveram vitórias anteriores. Quando, em 1888, a princesa
Isabel saiu de casa para assinar a Lei Áurea (a que acabou com a
escravidão), ela avisou ao marido, o Conde d'Eu, que provavelmente seria
deposta.
Mas ela tinha reservas financeiras, no
banco, para garantir a inserção dos negros na sociedade brasileira e
esperava certa compreensão. Que não veio. Jornais e fazendeiros gritaram
aos quatro ventos que o Brasil iria à falência com o fim da escravatura
- o que nunca aconteceu, naturalmente.
Mas a monarquia foi banida do território
nacional, e a República nunca tratou de convidar os antigos escravos a
participarem da nova sociedade. O resultado foi a manutenção da elite
nos mesmos padrões e a criação de uma horda de mendigos, famintos,
marginais. Todos pretos.
Mais de 50 anos depois, imprensa e elite
voltaram a atacar quando o ditador Getúlio Vargas, inventou de criar o
salário mínimo, em 1936. Foi um deus-nos-acuda. Os jornais estamparam em
suas manchetes que o Brasil estava à beira da falência.
O Brasil não faliu, mas a elite ainda
afirma que se o salário mínimo subir muito, o país acaba. E quando
Vargas voltou, nos anos 50, como presidente eleito, os ataques às suas
reformas sociais foram tão intensas que o resultado pertence à história:
um suicídio no Palácio do Catete.
O bullying praticado contra Dilma Rousseff parte do princípio de que
uma mulher pode ser desrespeitada - assim como é do senso absurdamente
comum a ideia de que um retirante nordestino operário sindicalista não
podia nunca ter chegado à presidência da República.
Lembram-se de quando Lula, esse
pé-rapado com apenas quatro dedos numa das mãos, benzeu uma garrafa do
elegantíssimo vinho Romanée-Conti? Disseram que esse é o vinho dos ricos
e dos corruptos.
Ora, os detratores de Lula bebem
Romanée-Conti e isso é natural. Quem não pode beber é nordestino pobre. O
bullying funciona assim mesmo: quer humilhar, ofender, esmagar a
auto-estima  da pessoa atacada.
Para os difamadores de Dilma, uma mulher
que tem voz de comando, que desafia a monstruosa ordem estabelecida,
que coordena um grupo de homens engravatados, só pode ser feia e mal
amada.
E lésbica, naturalmente - o que, para
eles, é ofensa. E como ela teve a ousadia e a coragem de vencer para um
segundo mandado presidencial, os ataques começaram na manhã seguinte.
A psicologia já sabe que as pessoas que
praticam o bullying adulto mostram suas forças quando se sentem
ameaçados pelo êxito do outro. Surge aí um sentimento de irritação, de
rancor, em relação ao sucesso que o outro possa ter.
Mas, infelizmente, ainda não há leis que
proíbam o bullying contra adultos. Se alguma atitude for tomada contra a
imprensa, que se tornou uma latrina de mentiras, conspirações e
desacatos, sempre poderão alegar que a liberdade de expressão está sendo
ameaçada e que a bolivarianização do Brasil caminha a passos largos.
Então, o que resta fazer, no momento, é
contar com o poder transformador e impactante das redes sociais e
discutir ideias, encontrar soluções, por a boca no trombone, mostrando
que o Brasil não é um poço de analfabetos políticos e que os herdeiros
dos donos de escravos não vencerão sempre.  Isso vai passar a ter nome:
anti-bullying.

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