Para isto serviu que a Espanha e a UE reconhecessem Guaidó como presidente
Roberto Montoya 03.May.19
A
intentona golpista de 30 de Abril na Venezuela fracassou. Ainda tardará
até que sejam conhecidas todas as suas componentes e cumplicidades. Uma
estava à partida adquirida: a do papel dirigente dos EUA, e a
cumplicidade de países que agem como seus vassalos. O artigo foca-se em
Espanha. Mas o papel do governo do PS em Portugal é igualmente
vergonhoso. Veja-se a cínica e inqualificável declaração feita ontem:
“total condenação de intervenções estrangeiras na Venezuela que visem
manter artificialmente e contra a vontade da grande maioria da população
uma situação política que impede a livre escolha pelos venezuelanos do
seu futuro”.
No
final do seu insólito “ultimato” de oito dias endereçado em 26 de
Janeiro passado por Pedro Sanchez ao seu colega venezuelano, Nicolás
Maduro, para que convocasse imediatamente eleições gerais, a Espanha
reconheceu Juan Guaidó como “presidente encarregado” da Venezuela.
A maioria dos países membros da União Europeia tinha esperado que a Espanha, o segundo maior investidor na Venezuela, desse esse passo para de imediato se pronunciar no mesmo sentido.
Na Venezuela e em outros países latino-americanos confiavam que Sanchez não se submeteria à pressão dos EUA e se distanciaria dos governos mais reaccionários oferecendo a Espanha como mediadora de negociações entre o Governo de Maduro e oposição.
Mas não foi assim. E mais, o reconhecimento de Guaidó por parte de Sanchez teve lugar dias depois de serem conhecidas as declarações do superfalcão Conselheiro de Segurança de Donald Trump, John Bolton, reconhecendo os verdadeiros interesses que moviam os Estados Unidos a substituir Nicolas Maduro no Palácio de Miraflores por um líder da oposição afim dos seus objectivos.
Objectivo: o petróleo venezuelano
“Faria economicamente uma grande diferença para os Estados Unidos “, declarava Bolton em entrevista à Fox Business “, se pudéssemos ter as empresas petroleiras norte-americanas investindo e produzindo petróleo na Venezuela. Temos muito em jogo, fazer com que isto aconteça da maneira correcta. ”
A Venezuela possui as maiores reservas de petróleo reconhecidas no mundo e exportava 500 mil barris de petróleo por dia para os EUA.
Alguns dias antes dessas declarações à Fox, Bolton anunciava um novo pacote de sanções contra a grande empresa estatal venezuelana (PDVSA). O influente conselheiro de Trump gabou-se então de que as novas sanções afectariam 7.000 milhões de dólares em activos PDVSA, e que causariam 11.000 milhões de dólares em perdas para a Venezuela em 2020.
Trata-se dos activos da empresa CITGO, filial da PDVSA com sede no Texas, e responsável pela refinação do petróleo venezuelano exportado para os EUA, empresa que conta também com mais de 6.000 estações de serviço em território norte-americano.
O governo Trump ofereceu a Guaidó transferir-lhe esses activos quando assuma o poder.
Esta medida e o anúncio de sanções para as empresas e países que se atrevam a comprar e/ou transportar petróleo venezuelano fazem parte do estrangulamento levado a cabo pelos EUA para impedir que o Governo obtenha fundos para comprar produtor de primeira necessidade e medicamentos para a povoação.
Seguem o mesmo modus operandi que os EUA utilizaram no início dos anos 70 com o governo de Salvador Allende antes golpe de Estado de Pinochet: asfixiar economicamente o governo, causar mal-estar social e desespero e, assim, o colapso do sistema.
A medida dos EUA obriga os compradores de petróleo venezuelano a pagar por ele em dinheiro vivo antes de os seus navios deixarem os portos venezuelanos, pois caso contrário os pagamentos que sejam feitos no exterior serão imediatamente congeladas pelos EUA, e a Venezuela não os poderá cobrar.
Isso fez já com que a maior empresa indiana de petróleo, Reliance Industries, um grande cliente da Venezuela, reduzisse drasticamente a compra de petróleo à PDVSA.
As empresas indianas compravam em média entre 500 mil e 600 mil barris de petróleo por dia à empresa petroleira venezuelana.
O Secretário de Estado, Mike Pompeo, reconhecia há um mês, após uma reunião com o ministro indiano dos Negócios Estrangeiro, Vijay Gokhale: “Estamos a pedir à Índia o mesmo que a todos os países, que não sejam a corda salva-vidas económica do regime de Maduro “.
Após essa reunião, a Reliance Industries decidiu não continuar vendendo à PDVSA o diluente necessário para comercializar o crude extra pesado.
Mas Nicolás Maduro continuou a resistir ao bloqueio. Passaram mais de três meses desde que Guaidó se autoproclamou “presidente encarregado” durante um protesto de rua, numa operação coordenada com os EUA e os países conservadores da América Latina, que o reconheceram minutos depois, mas o regime venezuelano não sucumbiu como esperavam.
Os Estados Unidos e os sectores mais duros da oposição venezuelana, agora representada pela Vontade Popular, o partido de López e Guaidó, teriam durante estes três meses tentado negociações secretas com sectores críticos das Forças Armadas e do Partido Socialista Unido governamental da Venezuela (PSUV ) a fim de encontrar apoios que permitissem forçar a queda de Maduro.
O deslize de Bolton
Embora Donald Trump tenha ameaçado que “todas as opções” estavam em aberto, parecia tentar evitar uma intervenção militar, pelo menos directa. A Rússia alertou que não permitiria uma operação militar na Venezuela, enquanto os EUA advertiam por sua vez Moscovo de que não tolerariam que continuasse a vender armas a Maduro e a treinar militarmente os seus oficiais.
Por seu lado, Jair Bolsonaro descartou publicamente que o Brasil fosse participar numa acção militar contra a sua vizinha Venezuela, embora a Colômbia tenha demonstrado ter maior disposição nesse sentido. De facto, grupos paramilitares ultradireitistas colombianos operam há anos tanto em zonas fronteiriças como no interior da Venezuela, com a permissão do governo colombiano, antes com Uribe e agora com Duque.
Na conferência de imprensa em que Bolton anunciou o congelamento dos activos da petroleira venezuelana nos EUA deixou acidentalmente à vista dos meios de comunicação um bloco de notas onde estava escrito a esferográfica negra: “5.000 militares para a Colômbia “, juntamente com uma anotação sobre as negociações de paz com os taliban. Jim Young, fotógrafo da agência Reuters, tirou uma foto do bloco que foi difundida aos assinantes do seu serviço.
Quando diferentes meios de comunicação questionaram posteriormente tanto o Pentágono como ao Governo da Colômbia sobre o assunto, ambos negaram que houvesse qualquer plano nesse sentido.
A mesma agência Reuters, pouco suspeita de apoiar a causa bolivariana, publicava por sua vez na segunda-feira 30 de Abril outra informação inquietante, que poderia estar relacionada com a anotação manuscrita de Bolton. Erik Prince, fundador da Blackwater, a poderosa e polémica empresa privada militar que forneceu milhares de mercenários à administração Bush para operações de alto risco no Iraque e no Afeganistão e esteve envolvida em várias matanças de civis de alto perfil, organizou um plano para enviar 5.000 homens em apoio de Juan Guaidó.
Citando quatro fontes diferentes, a poderosa agência de notícias britânica sustentou que o exército de mercenários seria recrutado na Colômbia e em outros países da América Latina.
“Ele (Prince) tem uma solução para a Venezuela, tal como tem uma solução para muitos outros lugares”, foi a única coisa que a Reuters conseguiu que Lital Leshem - director de relações com investidores do Frontier Resource Group, a nova empresa de Erik Prince com características semelhantes às da Blackwater - reconhecesse.
Este vendeu a Blackwater a um fundo de investimento em 2010 e agora chama-se Academi.
Segundo a agência Reuters o plano, para o qual Prince procuraria US $ 40 milhões de investidores privados, incluiria tanto recolha de informações, como operações de comando e de combate, e ainda de “estabilização” uma vez que Guaidó assumisse o cargo.
Prince doou US $ 250.000 para a campanha eleitoral de Trump - e este nomeou a sua irmã, Betsy DeVos, como secretária da Educação - e, segundo publicava o The Washington Post em 2017, teria desempenhado um papel fundamental de intermediação entre colaboradores de Putin e de Trump .
Nesta nova aventura golpista de Guaidó e López não pareceram ter conseguido arrastar nem o conjunto da oposição, nem a maior parte do grande patronato, nem aqueles amplos sectores da população que têm vindo nos últimos meses a participar nos seus comícios de rua.
Um inadmissível ingerência externa
Nesta nova intentona golpista, apoiada publicamente de forma inédita não só pela Administração Trump, mas também pelo Secretário-Geral da OEA, Luis Almagro, e pelos governos da Colômbia, Brasil, Argentina, Chile e outros países latino-americanos, não estava em jogo apenas a sobrevivência do regime de Nicolás Maduro, mas a soberania de um país. E muitos cidadãos comuns terão visto claramente para que fim era procurada a sua cumplicidade, e não secundaram o desesperado apelo de Guaidó para que saíssem à rua em massa.
Raramente foi vista fora das guerras internacionais uma ingerência tão directa nos assuntos internos de um país por parte dos máximos responsáveis de um numeroso grupo de países e dirigentes políticos.
O Governo de Nicolás Maduro cometeu graves erros políticos nos últimos quatro anos, especialmente desde que a oposição obteve maioria absoluta nas eleições legislativas.
Fez uma má gestão da crise económica e não enfrentou com firmeza casos muito graves de corrupção na Administração pública.
A revolução bolivariana perdeu fôlego não só pelas consequências da crise internacional e da inegável agressão externa de que foi e continua sendo vítima, mas também pelas suas próprias incoerências e erros, o que fez com que o processo estagnasse, fossem perdidas muitas das conquistas alcançadas, e se perdesse o apoio de uma parte considerável de sua base social.
No entanto, nenhuma dessas críticas que alguma esquerda faz mal em tentar ocultar podem servir seja a quem for para justificar nem a guerra económica que a Venezuela suporta desde há vinte anos, nem a sistemática e histórica política golpista do sector mais ultra da oposição que agora encabeçou esta nova intentona golpista com um nada oculto apoio externo.
Tal como fizeram em Janeiro após a autoproclamação de Guaidó como “presidente encarregado”, mostraram praticamente em uníssono seu apoio ao golpe os presidentes de EUA, Colômbia, Brasil, Argentina, Chile, Panamá e outros países da América Latina, enquanto Cuba e Bolívia mantiveram em todos os momentos o seu apoio a Nicolas Maduro, e México e Uruguai defenderam a sua postura de não-ingerência em outros países.
A União Europeia optou desta vez para uma postura expectante, defendendo uma saída pacífica, mas o italiano Antonio Tajani, Presidente do Parlamento Europeu, juntou-se aos apelos aos militares venezuelanos a que se associassem ao golpe de Guaidó.
Por sua parte, o ministro das Relações Exteriores espanhol, Josep Borrell, pareceu surpreso com a tentativa golpista de Guaidó, que três meses antes a Espanha reconhera como “presidente encarregado”, mas não foi senão mais tarde que Sanchez rejeitou claramente qualquer acção militar. Já então se sabia que Leopoldo López e sua família tinham entrado na Embaixada do Chile em Caracas. Depois mudaram-se para a de Espanha.
Era evidente que o golpe tinha fracassado. Ainda assim, a ministra porta-voz do Governo espanhol, Isabel Celaá, sustentou que Guaidó continuava a ser a pessoa “legitimada para levar por diante uma transformação democrática” na Venezuela, pelo que contava com o apoio de Espanha.
Será que o governo espanhol não conhecia há três meses as consequências que poderia ter o reconhecimento de Guaidó como presidente “encarregado”, sendo dirigente do Vontade Popular, o partido mais violento da oposição e sendo Leopoldo López - membro de uma das mais conhecidas famílias da oligarquia venezuelana - um dos 400 signatários do golpe de 2002?
Não se lembrava o governo Sanchez que a aposta tanto de Felipe González como de José María Aznar contra Hugo Chávez desde o início do seu mandato, em 1999, serviu para encorajar o golpe de Estado de Abril de 2002?
É previsível - e desejável - que Pedro Sánchez volte a curto prazo a formar governo. Terá a batata quente de López na sua embaixada em Caracas.
¿Irá López converter-se num novo Assange, mas neste caso para a peregrinação dos Albert Rivera - que imediatamente se solidarizou com o golpe de Guaidó - Gonzalez, Aznar, os enviados de Trump, Bolsonaro e reaccionários d todo o mundo?
Ou será que o novo governo que se constituirá proximamente dotará por fim a Espanha de uma política externa independente, soberana, progressista?
Fonte: https://blogs.publico.es/dominiopublico/28559/para-esto-sirvio-que-espana-y-europa-reconocieran-a-guaido-como-presidente/
A maioria dos países membros da União Europeia tinha esperado que a Espanha, o segundo maior investidor na Venezuela, desse esse passo para de imediato se pronunciar no mesmo sentido.
Na Venezuela e em outros países latino-americanos confiavam que Sanchez não se submeteria à pressão dos EUA e se distanciaria dos governos mais reaccionários oferecendo a Espanha como mediadora de negociações entre o Governo de Maduro e oposição.
Mas não foi assim. E mais, o reconhecimento de Guaidó por parte de Sanchez teve lugar dias depois de serem conhecidas as declarações do superfalcão Conselheiro de Segurança de Donald Trump, John Bolton, reconhecendo os verdadeiros interesses que moviam os Estados Unidos a substituir Nicolas Maduro no Palácio de Miraflores por um líder da oposição afim dos seus objectivos.
Objectivo: o petróleo venezuelano
“Faria economicamente uma grande diferença para os Estados Unidos “, declarava Bolton em entrevista à Fox Business “, se pudéssemos ter as empresas petroleiras norte-americanas investindo e produzindo petróleo na Venezuela. Temos muito em jogo, fazer com que isto aconteça da maneira correcta. ”
A Venezuela possui as maiores reservas de petróleo reconhecidas no mundo e exportava 500 mil barris de petróleo por dia para os EUA.
Alguns dias antes dessas declarações à Fox, Bolton anunciava um novo pacote de sanções contra a grande empresa estatal venezuelana (PDVSA). O influente conselheiro de Trump gabou-se então de que as novas sanções afectariam 7.000 milhões de dólares em activos PDVSA, e que causariam 11.000 milhões de dólares em perdas para a Venezuela em 2020.
Trata-se dos activos da empresa CITGO, filial da PDVSA com sede no Texas, e responsável pela refinação do petróleo venezuelano exportado para os EUA, empresa que conta também com mais de 6.000 estações de serviço em território norte-americano.
O governo Trump ofereceu a Guaidó transferir-lhe esses activos quando assuma o poder.
Esta medida e o anúncio de sanções para as empresas e países que se atrevam a comprar e/ou transportar petróleo venezuelano fazem parte do estrangulamento levado a cabo pelos EUA para impedir que o Governo obtenha fundos para comprar produtor de primeira necessidade e medicamentos para a povoação.
Seguem o mesmo modus operandi que os EUA utilizaram no início dos anos 70 com o governo de Salvador Allende antes golpe de Estado de Pinochet: asfixiar economicamente o governo, causar mal-estar social e desespero e, assim, o colapso do sistema.
A medida dos EUA obriga os compradores de petróleo venezuelano a pagar por ele em dinheiro vivo antes de os seus navios deixarem os portos venezuelanos, pois caso contrário os pagamentos que sejam feitos no exterior serão imediatamente congeladas pelos EUA, e a Venezuela não os poderá cobrar.
Isso fez já com que a maior empresa indiana de petróleo, Reliance Industries, um grande cliente da Venezuela, reduzisse drasticamente a compra de petróleo à PDVSA.
As empresas indianas compravam em média entre 500 mil e 600 mil barris de petróleo por dia à empresa petroleira venezuelana.
O Secretário de Estado, Mike Pompeo, reconhecia há um mês, após uma reunião com o ministro indiano dos Negócios Estrangeiro, Vijay Gokhale: “Estamos a pedir à Índia o mesmo que a todos os países, que não sejam a corda salva-vidas económica do regime de Maduro “.
Após essa reunião, a Reliance Industries decidiu não continuar vendendo à PDVSA o diluente necessário para comercializar o crude extra pesado.
Mas Nicolás Maduro continuou a resistir ao bloqueio. Passaram mais de três meses desde que Guaidó se autoproclamou “presidente encarregado” durante um protesto de rua, numa operação coordenada com os EUA e os países conservadores da América Latina, que o reconheceram minutos depois, mas o regime venezuelano não sucumbiu como esperavam.
Os Estados Unidos e os sectores mais duros da oposição venezuelana, agora representada pela Vontade Popular, o partido de López e Guaidó, teriam durante estes três meses tentado negociações secretas com sectores críticos das Forças Armadas e do Partido Socialista Unido governamental da Venezuela (PSUV ) a fim de encontrar apoios que permitissem forçar a queda de Maduro.
O deslize de Bolton
Embora Donald Trump tenha ameaçado que “todas as opções” estavam em aberto, parecia tentar evitar uma intervenção militar, pelo menos directa. A Rússia alertou que não permitiria uma operação militar na Venezuela, enquanto os EUA advertiam por sua vez Moscovo de que não tolerariam que continuasse a vender armas a Maduro e a treinar militarmente os seus oficiais.
Por seu lado, Jair Bolsonaro descartou publicamente que o Brasil fosse participar numa acção militar contra a sua vizinha Venezuela, embora a Colômbia tenha demonstrado ter maior disposição nesse sentido. De facto, grupos paramilitares ultradireitistas colombianos operam há anos tanto em zonas fronteiriças como no interior da Venezuela, com a permissão do governo colombiano, antes com Uribe e agora com Duque.
Na conferência de imprensa em que Bolton anunciou o congelamento dos activos da petroleira venezuelana nos EUA deixou acidentalmente à vista dos meios de comunicação um bloco de notas onde estava escrito a esferográfica negra: “5.000 militares para a Colômbia “, juntamente com uma anotação sobre as negociações de paz com os taliban. Jim Young, fotógrafo da agência Reuters, tirou uma foto do bloco que foi difundida aos assinantes do seu serviço.
Quando diferentes meios de comunicação questionaram posteriormente tanto o Pentágono como ao Governo da Colômbia sobre o assunto, ambos negaram que houvesse qualquer plano nesse sentido.
A mesma agência Reuters, pouco suspeita de apoiar a causa bolivariana, publicava por sua vez na segunda-feira 30 de Abril outra informação inquietante, que poderia estar relacionada com a anotação manuscrita de Bolton. Erik Prince, fundador da Blackwater, a poderosa e polémica empresa privada militar que forneceu milhares de mercenários à administração Bush para operações de alto risco no Iraque e no Afeganistão e esteve envolvida em várias matanças de civis de alto perfil, organizou um plano para enviar 5.000 homens em apoio de Juan Guaidó.
Citando quatro fontes diferentes, a poderosa agência de notícias britânica sustentou que o exército de mercenários seria recrutado na Colômbia e em outros países da América Latina.
“Ele (Prince) tem uma solução para a Venezuela, tal como tem uma solução para muitos outros lugares”, foi a única coisa que a Reuters conseguiu que Lital Leshem - director de relações com investidores do Frontier Resource Group, a nova empresa de Erik Prince com características semelhantes às da Blackwater - reconhecesse.
Este vendeu a Blackwater a um fundo de investimento em 2010 e agora chama-se Academi.
Segundo a agência Reuters o plano, para o qual Prince procuraria US $ 40 milhões de investidores privados, incluiria tanto recolha de informações, como operações de comando e de combate, e ainda de “estabilização” uma vez que Guaidó assumisse o cargo.
Prince doou US $ 250.000 para a campanha eleitoral de Trump - e este nomeou a sua irmã, Betsy DeVos, como secretária da Educação - e, segundo publicava o The Washington Post em 2017, teria desempenhado um papel fundamental de intermediação entre colaboradores de Putin e de Trump .
Nesta nova aventura golpista de Guaidó e López não pareceram ter conseguido arrastar nem o conjunto da oposição, nem a maior parte do grande patronato, nem aqueles amplos sectores da população que têm vindo nos últimos meses a participar nos seus comícios de rua.
Um inadmissível ingerência externa
Nesta nova intentona golpista, apoiada publicamente de forma inédita não só pela Administração Trump, mas também pelo Secretário-Geral da OEA, Luis Almagro, e pelos governos da Colômbia, Brasil, Argentina, Chile e outros países latino-americanos, não estava em jogo apenas a sobrevivência do regime de Nicolás Maduro, mas a soberania de um país. E muitos cidadãos comuns terão visto claramente para que fim era procurada a sua cumplicidade, e não secundaram o desesperado apelo de Guaidó para que saíssem à rua em massa.
Raramente foi vista fora das guerras internacionais uma ingerência tão directa nos assuntos internos de um país por parte dos máximos responsáveis de um numeroso grupo de países e dirigentes políticos.
O Governo de Nicolás Maduro cometeu graves erros políticos nos últimos quatro anos, especialmente desde que a oposição obteve maioria absoluta nas eleições legislativas.
Fez uma má gestão da crise económica e não enfrentou com firmeza casos muito graves de corrupção na Administração pública.
A revolução bolivariana perdeu fôlego não só pelas consequências da crise internacional e da inegável agressão externa de que foi e continua sendo vítima, mas também pelas suas próprias incoerências e erros, o que fez com que o processo estagnasse, fossem perdidas muitas das conquistas alcançadas, e se perdesse o apoio de uma parte considerável de sua base social.
No entanto, nenhuma dessas críticas que alguma esquerda faz mal em tentar ocultar podem servir seja a quem for para justificar nem a guerra económica que a Venezuela suporta desde há vinte anos, nem a sistemática e histórica política golpista do sector mais ultra da oposição que agora encabeçou esta nova intentona golpista com um nada oculto apoio externo.
Tal como fizeram em Janeiro após a autoproclamação de Guaidó como “presidente encarregado”, mostraram praticamente em uníssono seu apoio ao golpe os presidentes de EUA, Colômbia, Brasil, Argentina, Chile, Panamá e outros países da América Latina, enquanto Cuba e Bolívia mantiveram em todos os momentos o seu apoio a Nicolas Maduro, e México e Uruguai defenderam a sua postura de não-ingerência em outros países.
A União Europeia optou desta vez para uma postura expectante, defendendo uma saída pacífica, mas o italiano Antonio Tajani, Presidente do Parlamento Europeu, juntou-se aos apelos aos militares venezuelanos a que se associassem ao golpe de Guaidó.
Por sua parte, o ministro das Relações Exteriores espanhol, Josep Borrell, pareceu surpreso com a tentativa golpista de Guaidó, que três meses antes a Espanha reconhera como “presidente encarregado”, mas não foi senão mais tarde que Sanchez rejeitou claramente qualquer acção militar. Já então se sabia que Leopoldo López e sua família tinham entrado na Embaixada do Chile em Caracas. Depois mudaram-se para a de Espanha.
Era evidente que o golpe tinha fracassado. Ainda assim, a ministra porta-voz do Governo espanhol, Isabel Celaá, sustentou que Guaidó continuava a ser a pessoa “legitimada para levar por diante uma transformação democrática” na Venezuela, pelo que contava com o apoio de Espanha.
Será que o governo espanhol não conhecia há três meses as consequências que poderia ter o reconhecimento de Guaidó como presidente “encarregado”, sendo dirigente do Vontade Popular, o partido mais violento da oposição e sendo Leopoldo López - membro de uma das mais conhecidas famílias da oligarquia venezuelana - um dos 400 signatários do golpe de 2002?
Não se lembrava o governo Sanchez que a aposta tanto de Felipe González como de José María Aznar contra Hugo Chávez desde o início do seu mandato, em 1999, serviu para encorajar o golpe de Estado de Abril de 2002?
É previsível - e desejável - que Pedro Sánchez volte a curto prazo a formar governo. Terá a batata quente de López na sua embaixada em Caracas.
¿Irá López converter-se num novo Assange, mas neste caso para a peregrinação dos Albert Rivera - que imediatamente se solidarizou com o golpe de Guaidó - Gonzalez, Aznar, os enviados de Trump, Bolsonaro e reaccionários d todo o mundo?
Ou será que o novo governo que se constituirá proximamente dotará por fim a Espanha de uma política externa independente, soberana, progressista?
Fonte: https://blogs.publico.es/dominiopublico/28559/para-esto-sirvio-que-espana-y-europa-reconocieran-a-guaido-como-presidente/
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