sábado, 2 de julho de 2011

ENCALHE

ENCALHE: "Crônicas do Motta
( PUBLICADO NO Esquerdopata )
Não faz muito tempo li qualquer coisa sobre a intenção de um grupo de empresários – ou seriam banqueiros? – de criar um partido político, usando como argumento maior de sua odisseia o fato de que a nova agremiação não teria políticos e seria dirigida por pessoas acostumadas a administrar seus bens.
Vi também que o prefeito paulistano Gilberto Kassab procurou afastar a legenda que está criando de qualquer tipo de ideologia política – como se isso fosse possível. O incrível Kassab chegou a dizer que o tal partido não será de esquerda, nem de direita, nem de centro (1). Seria, então uma espécie de Suíça, um elemento neutro na política nacional – neutralidade, nesse caso, indicando que está pronto para “negociar” apoio à sua conveniência.
Claro que iniciativas como essas duas não devem ser levadas a sério por ninguém que tenha interesse mínimo pela política. São ações que podem ser classificadas de extravagantes, uma bobagem que não resiste a qualquer tipo de discussão um pouco mais séria.
Administrar uma empresa (2), por melhor que seja o administrador e melhores os resultados da companhia, não tem nada, absolutamente nada, a ver com o ato político de governar uma cidade, um Estado, um país – sim, porque governar é, antes de mais nada, fazer política. São coisas completamente diferentes, que são levadas ao público como semelhantes apenas com o objetivo de confundir as pessoas.
No fundo, no fundo, tais iniciativas mostram o quanto a oposição brasileira está perdida, sem discurso, sem perspectiva, vivendo apenas de “escândalos” pautados pelos jornalões, em guerra permanente contra o governo petista.
Dilma e aliados podem estar tranquilos enquanto a tal “elite” do país se concentra nessas besteiras: partidos sem ideologia e sem políticos. Haja desespero!

LEIA TAMBÉM ( UM PLUS A MAIS… )
Revista ÉPOCA, 13/6/2011
ENTREVISTA – JOÃO DIONÍSIO AMOEDO
“NOSSOS CANDIDATOS TERÃO METAS DE GESTÃO”
O banqueiro já gastou quase R$ 1 milhão ( 3 ) na criação de um partido para defender um Estado menor ( 4 )
Ricardo Mendonça
João Dionísio Amoedo começou sua carreira como estagiário do Citibank, em 1988, e chegou ao posto de banqueiro, como sócio do BBA, membro do conselho do Unibanco e, agora, conselheiro do Itaú-BBA. Há cerca de um ano, tomou uma decisão inusitada. Com alguns amigos do mercado, resolveu criar um partido para defender os princípios da gestão e de um Estado menor. Ele diz ter recebido incentivo de alguns dos mais conhecidos nomes do setor, como os banqueiros Pedro Moreira Salles e Fernão Bracher, além do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga. Entusiasmado, chamou o escritório Pinheiro Neto, um dos mais tradicionais do país, para a confecção do estatuto. E contratou empresas de marketing para coletar assinaturas. Se o Novo ( nome do partido ) conseguir 500 mil até outubro, disputará prefeituras em 2012.
QUEM É
Engenheiro e administrador de 48 anos que atua desde 1988 no mercado financeiro. Foi sócio do BBA e vice-presidente e membro do conselho do Unibanco. Hoje, é conselheiro do Itaú-BBA e da João Fortes Engenharia. É sócio da Casa das Garças, centro de estudos de tendência liberal ( 4 ) no Rio de Janeiro
O QUE FEZ
Com um grupo de amigos do mercado financeiro, criou o Novo, partido político que pretende levar princípios da iniciativa privada para o setor público
ÉPOCA – O Brasil tem 27 partidos políticos hoje. Não é suficiente?
João Dionísio Amoedo – Tem bastante, não há dúvida. Mas temos a sensação de que ainda não é suficiente porque não há uma representatividade ideal da sociedade civil nesses partidos. Talvez por falta de uma identificação mais clara sobre os objetivos de cada um. Não identificamos em nenhum partido o objetivo de melhoria da gestão pública como foco principal.
ÉPOCA – Quais são os diferenciais do Novo?
Amoedo – O primeiro é o fato de começar de um movimento da sociedade civil. Diferentemente de todos os outros, que nasceram com políticos.
ÉPOCA – O PT nasceu de um movimento da sociedade civil, não?
Amoedo – É… Não era um grupo político. Mas já tinha uma identificação clara por ser de um grupo específico, não é? E surgiu há 30 anos. Nos últimos dez ou 15 anos, não lembro de nenhum. Acho que o exemplo do PT é importante até como lembrança do último partido que não nasceu já com algum político.
ÉPOCA – O que mais distingue o Novo?
Amoedo – Outra diferenciação é deixar bem claro no estatuto qual é seu papel. O partido tem o dever e a obrigação de, primeiro, selecionar seus candidatos. Segundo, dar suporte ao candidato, na fase inicial e depois de eleito. Suporte técnico, digo. E a terceira coisa é cobrar: nossos candidatos terão metas de gestão, o que não vi em nenhum outro partido.
ÉPOCA – Há mais novidades?
Amoedo – O último ponto importante é diferenciar a gestão partidária da atuação parlamentar ou executiva. Entendemos que as duas figuras não podem se confundir. Uma coisa é ser dirigente do partido e ter todas as obrigações que mencionei. Outra é ser deputado, vereador, prefeito e ter atuação no âmbito do governo. O partido tem de fiscalizar e monitorar quem ele elegeu. Se essa figura se confunde, você acaba gerando um conflito de interesses.
ÉPOCA – E a atuação simultânea em cargo eletivo e na iniciativa privada pode?
Amoedo – Olha… Acho que não faz muito sentido… Acho que as atividades têm de ser bastante segregadas.
ÉPOCA – Isso vocês não colocaram? Pode ter cargo e ser consultor, por exemplo?
Amoedo – Eu acho que nós não colocamos isso no estatuto. Tem o conselho de ética, nós colocamos, certamente, que o candidato tem de estar dentro das regras, mas acho que nós não fomos tão explícitos nisso. Talvez agora devamos ser mais explícitos. Isso seria uma coisa básica da ética, do entendimento de cada um. A gente vai aprendendo… Talvez algumas coisas tenham de ser explícitas para depois não ter questionamento.
ÉPOCA – Vai incorporar essa ideia, então?
Amoedo – Certamente. Porque é difícil você ter as duas atividades sem criar algum tipo de conflito. Há outro diferencial: somos contra mais de uma reeleição para o mesmo cargo no Legislativo.
ÉPOCA – Por quê?
Amoedo – Se alguém esteve oito anos como deputado estadual, pode até ser federal na próxima eleição, senador, mas não mais deputado estadual. É para promover a renovação. Senão, você terá um deputado estadual por 16, 20 anos. Estará bloqueando a entrada de novas pessoas. Com oito anos, já teve tempo para dar sua contribuição. E aquilo não deve se tornar uma profissão.
ÉPOCA – No meio político, o tema “gestão” costuma ser mais associado ao PSDB e ao DEM. Eles não dão conta do recado?
Amoedo – Não está muito claro. Acho que esse tema não está muito ligado a partidos. Pense no caso dos governadores. Três estão ligados nisso. Tem lá em Minas, que é o PSDB, em Pernambuco, que é PSB, e no Rio PMDB. Então isso está muito mais ligado ao entendimento do político do que propriamente a um programa partidário. O que queremos é que o partido tenha isso.
Gostaríamos de levar conceitos básicos do mundo privado para o público. (…) por exemplo, a ideia de que os recursos são escassos
ÉPOCA – O que quer dizer “o partido político sem políticos”, slogan do site do Novo?
Amoedo – Eu não diria que não queremos políticos agora, isso seria muito forte. Eu diria o seguinte: como o mais importante, em nosso caso, é que as pessoas que nunca se envolveram com política participem, e como a atividade política tem um desgaste, não atrai, seria mais fácil para essas pessoas participarem de um partido que não tem políticos ( 5 ) no primeiro momento.
ÉPOCA – Um vídeo no site fala em tratar o governo como uma empresa e o eleitor como cliente. Essa ideia de administração pública não parece muito simplista?
Amoedo – Gostaríamos com isso de levar conceitos básicos do mundo privado para o mundo público. Mesmo sabendo que horizontes de tempo, o público e as necessidades são bastante diferentes. Mas acho que há conceitos que podem ser aplicados no segmento público. Por exemplo, a ideia de que os recursos são escassos. Assim, você tem de estabelecer prioridades. Segundo: qualquer despesa adicional tem contrapartida, custos, não é? Terceiro: você tem de ser transparente na gestão. Quarto: tem de ter metas, prestar contas. Então são esses tipos de conceito que gostaríamos de ver no setor público. E a ideia da pessoa como cliente é só para deixar clara uma coisa: o governo funciona com os impostos que nós pagamos, então nada mais justo que ter as contrapartidas. A ideia é que a pessoa deve cobrar isso do governo, como cobra de uma empresa que presta um serviço ( 6 ) pelo qual pagou.
ÉPOCA – O Novo tem posição sobre temas da atual agenda política, como Belo Monte, lei anti-homofobia, Código Florestal?
Amoedo – Estamos começando a nos posicionar sobre algumas coisas. Mas, como estamos ainda em formação, temos a preocupação de não ter assuntos muito definidos, pois atrapalhariam o objetivo de atrair pessoas. É estranho você pedir participação, mas já ter temas fechados. Mas há alguns princípios básicos. Entendemos que o Estado deve ter uma atuação menor na sociedade. Entendemos também que há outras prioridades, quando falamos em kit homofobia, por exemplo. Existem outras prioridades, como educação, saúde e segurança.
ÉPOCA – Um kit contra a homofobia pode estar relacionado com as duas coisas, educação e segurança, não?
Amoedo – Ah, pode. Mas a dúvida é a seguinte: vale a pena? Admitindo que os recursos são escassos e finitos, vamos gastar dinheiro nisso? Ou melhorar a qualidade das escolas, o sistema de avaliação e a remuneração dos professores?
ÉPOCA – Para viabilizar o partido, serão necessárias cerca de 500 mil assinaturas. Em que estágio vocês estão?
Amoedo – É um processo trabalhoso e burocrático, pois você precisa das assinaturas, nome completo e título de eleitor. E depois precisa validar nos cartórios. Temos hoje fichas de todo tipo, pessoas que assinaram, mas que têm dados incompletos; ficha completa, mas com incompatibilidade de assinatura. De maneira geral, estamos próximos de 200 mil.
ÉPOCA – É difícil convencer as pessoas a assinar pela criação de mais um partido?
Amoedo – De cada 100 pessoas abordadas, 30 assinam ( 7 ). Essa é a média.
ÉPOCA – Quem está fazendo essa coleta?
Amoedo – Fazemos pela internet. Alguns nos procuram e pedem um lote para distribuir entre amigos e parentes. E contratamos umas três ou quatro empresas que fazem a divulgação e o marketing. São elas que fazem a abordagem em rua.
ÉPOCA – Quanto vocês já investiram na criação desse partido?
Amoedo – Entre divulgação, site e consultoria jurídica, deu quase R$ 1 milhão. Meu e do grupo inicial. Mas vai passar disso.
ÉPOCA – Em sua avaliação, o Novo é um partido de esquerda, de centro ou de direita?
Amoedo – Discutimos muito isso ( sic ). Essa classificação, que no passado foi mais clara, não ajuda muito hoje. Entre os 27 partidos, é difícil dizer o que é direita, centro ou esquerda ( 4 ). Nossa ideologia é focar na gestão e ter o Estado menor. Eu diria que nos aproximamos mais de um partido de centro, ou centro-direita.

NOTAS DESTE BLOG ENCALHE, QUE TEM VONTADE DE VOMITAR CADA VEZ QUE LÊ OU ESCUTA JARGONICES DE SIGNIFICADO OBSCURO COMO “METAS”, “GESTÃO COM FOCO EM RESULTADOS”:
( 1 ) Mais ou menos como aquele que não quer ficar mal com ninguém numa conversa, dizendo que não torce – quando na verdade torce, sim – para time algum, ou dizendo que torce para quem estiver ganhando, só para evitar os conflitos que viriam de uma tomada clara de posição.
( 2 ) Uma esperteza, claro. Empresas fecham, entram em concordatas, caem na falência, chegam até mesmo a ser salvas ou bancadas pelo Estado. Mas o digníssimo Partido Novo [ VER ACIMA ] pretende administrar o Estado inspirando-se, obviamente, na experiência das empresas “vencedoras” que, também obviamente, precisam prestar contas a seus acionistas, gerar lucros imensos e pagar os bônus a seus CEOs, nem que para isso precisem despedir centenas – às vezes até milhares – de funcionários.
( 3 ) Botou do próprio bolso? Isso, sim, é amor pelo país!
( 4 ) Não sou especialista, mas “tendência” liberal e “Estado menor”, para mim, significam IDEOLOGIA liberal e, nos termos americanos, “Estado menor” é preconização da direita
( 5 ) Um dos grandes desgastes à imagem dos políticos vem, especificamente, da impressão geral – e generlizada - de que eles são corruptos, ladrões e querem enriquecer às nossas custas, entre outras impressões desabonadoras à categoria. Os empresários, porém, dão-se uma auto-imagem de “salvadores”, que nos “dão empregos”… No entanto, os tais “políticos”, sempre mui criticados, sobretudo pela classe-média, quando esta fica à margem das migalhas, não nascem nestes cargos. Geralmente, vivem em meio e junto à sociedade exercendo ofícios e atividades diversas. O país já foi governado, por exemplo, por vários advogados, ou seja, profisisonais liberais; isso não impediu a nação brazuca de ter tornado-se o paraíso da impunidade, da roubalheira de colarinho-branco, da desigualdade social, da concentração de terra, do genocídio no campo e da injustiça. Que tal se, a partir desta impressão, começássemos a desconfiar dos advogados também?
( 6 ) Os clientes das empresas telefônicas e dos próprios bancos sabem o significado de “fazer cobranças”. E os proprietários dessas empresas sabem o que significa “não cumprí-las”. Além do que existe uma distinção conceitual entre “serviços” e “direitos”. Por questões ideológicas, estes defensores do “nanoestado” costumam encarar os nossos direitos ( como o direito à Educação, o direito a água, direito à terra ) como “serviços”, sempre do ponto de vista comercial. Pode pagar? Então aqui estão seus “direitos-serviços”. Voltem sempre. Vejam o caso da privatização da água na Bolívia e entenderão o que digo.
( 7 ) E por fim, depreende-se deste dado que 1 em cada 3 brasileiros NÃO É CONTRA a fundação de mais partidos políticos.

– Enviado usando a Barra de Ferramentas Google"

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