quinta-feira, 14 de julho de 2011

Notícias - NOTÍCIAS - Nova cepa de E.coli pode ter surgido pelo uso inadequado de antibióticos

Notícias - NOTÍCIAS - Nova cepa de E.coli pode ter surgido pelo uso inadequado de antibióticos: "Há cerca de um mês, um surto de E.coli, originado em brotos vegetais na Alemanha, provocou a morte de mais de 40 pessoas na Europa, além de ter causado enormes prejuízos a agricultores. No artigo abaixo, Cynthia Rubião, especialista em bacteriologia e segurança alimentar, explica detalhes sobre a bactéria.

A Escherichia coli é uma bactéria encontrada comumente no intestino de humanos e animais de sangue quente, sendo que a maioria das cepas desta espécie é inofensiva. A que está sendo implicada neste surto de imensas proporções na Europa possui genes dos tipos (patotipos) Escherichia coli enteroagregativa (EAEC) e Escherichia coli enterohemorrágica (EHEC), que é produtora de toxinas shiga ou verotoxinas. A EAEC é mais encontrado em seres humanos, enquanto a EHEC é mais observada em ruminantes, mais especificamente em bovinos. A nova cepa, que é um híbrido dos dois patotipos, parece ter mais genes da EAEC (93% de similaridade) de origem humana.

A infecção por este tipo de bactéria pode provocar diarreia de aquosa a sanguinolenta, distúrbios em células do sangue, lesão grave nos rins e, em alguns casos, lesões no sistema nervoso. Para o tratamento, não se recomenda o uso de antibióticos ou de drogas antidiarreicas. O uso de antibióticos, na maioria dos casos, provocou o agravamento do quadro clínico, pois estimulou a liberação de mais toxinas shiga pelas bactérias; e o de antidiarreicos piora o quadro, pois impede a excreção da bactéria pelas fezes, o que é uma das formas de defesa do nosso organismo.

O sorotipo do surto é o O104:H4. Trata-se de um sorotipo muito raro, mas que já foi identificado em outros casos de toxinfecção alimentar (na República da Georgia em 2009, na Coreia em 2005 e na Alemanha em 2001). Este surto é bastante incomum pela rapidez com que está se espalhando, pelo elevado índice de casos severos (Síndrome Hemolítica Urêmica – SHU) e pelo grupo de pessoas que está atingindo (adultos jovens, na maioria mulheres). Normalmente, o grupo mais atingido são as crianças muito jovens e os idosos. Além disso, esta cepa é multirresistente a antibióticos, o que pode ser explicado pelo uso inadequado por leigos e até por profissionais de saúde.

Ao que parece, esta bactéria deve ter sido um habitante normal do intestino humano ou dos de animais de produção, que teve a chance de se multiplicar quando o uso de vários antibióticos foi eliminando outras bactérias não resistentes que competiam com ela dentro do intestino. Em número elevado, ela foi capaz de causar infecção e se espalhar. Este surto não é só preocupante pela transmissão através dos alimentos, mas também por estar espalhando uma bactéria altamente agressiva e resistente com capacidade para passar estes genes a outras bactérias, até de outras espécies ou gêneros que poderão causar outros tipos de infecção.

Provavelmente estas bactérias foram selecionadas pelo uso inadequado de antibióticos. Quando se torna multirresistente, ou não se dispõe de medicamentos capazes de controlar as infecções ou os mesmos são muito tóxicos, gera uma série de reações adversas severas para o organismo humano. Com a racionalização do uso de antibióticos, o equilíbrio onde as bactérias benéficas competem inibindo o crescimento daquelas causadoras de doenças dentro do nosso organismo poderá ser restaurado.

Para evitar a contaminação da plantação, os órgãos de saúde dão algumas recomendações com relação às boas práticas agrícolas:
· Evitar o acesso dos animais da fazenda (em particular dos ruminantes) ao ambiente onde os produtos frescos são cultivados ou armazenados;
· Controlar a fonte, o manuseio e o tratamento do adubo e do iodo utilizados para fertilizar os campos onde serão cultivados produtos para o consumo humano;
· Utilizar água de boa qualidade microbiológica para a irrigação e outras práticas agrícolas.

Cynthia Rubião é química e médica veterinária, especializada em bacteriologia e segurança alimentar. Desde 2009, é diretora técnica da BioSafe, empresa de consultoria em segurança de alimentos.

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