O fracasso dos protestos encerra, enfim, o terceiro turno. Por Paulo Nogueira
Postado em 12 abr 2015
O flop sensacional dos protestos de hoje tem um significado
essencial: acabou, enfim, o terceiro turno, depois de mais cem dias de
governo Dilma.
Foi um final melancólico para os esperançosos de um golpe contra os
54 milhões de votos – um grupo diversificado que vai dos coronéis da
mídia até aquela massa ignara formada por analfabetos políticos.
Os protestos se esvaziaram de pessoas, e a excentricidade boçal e desinformada foi se acentuando.
Um cartaz que viralizou dizia, por exemplo, que sonegação não é
corrupção. Outro afirmava que Dilma tinha três opções: renunciar, ser
derrubada ou se matar.
Malucos mais uma vez pediam um golpe militar em inglês. E o
direitista punk do Movimento Brasil Livre, do alto do fiasco do
espetáculo que tentou comandar, disse que é preciso meter uma bala na
cabeça do PT.
Em meio a essas cenas beligerantes, a Globonews, como assinalou um
tuiteiro, insistia em destacar o “caráter pacífico e familiar” dos
protestos.
Numa das melhores tiradas do dia, o tuiteiro escreveu: “A Globonews
insiste em dizer que famílias inteiras estão nos protestos. Ora, fodam-se as famílias inteiras.”
Pausa para rir.
Neste estertor de terceiro turno, não podiam faltar também os números inflados. A PM, depois do célebre milhão furado da vez anterior, recuou para um pouco mais de 200 mil pessoas na Paulista.
O Datafolha foi mais modesto: 92 mil no pico, às 16 horas.
Mesmo assim, as imagens de grandes vazios na avenida Paulista deixavam dúvidas quanto à precisão do prognóstico do Datafolha.
Um amigo me escreveu: “Como disse Wellington, quem acredita nestes 100 mil acredita em tudo.”
Derreteu-se o exército de manipulados que decidiram vestir a camisa
da seleção e ir para as ruas. Não deixarão saudade, em sua imensa
tolice.
Eles demoraram uma eternidade a entender que perderam as eleições, mas agora acordaram para a realidade.
Resta Dilma também acordar para o fato de que ela venceu. Não deve haver registro, na República, de um vitorioso em eleições presidenciais com ares tão derrotados.
Isso deu margem a que neoudenistas como FHC, Serra e Aécio agissem
como napoleões de hospício, e adotassem um ar triunfal em nada
compatível com os resultados das urnas.
Dilma deveria pegar um calendário que inclua todos os dias que restam
até o final de seu segundo mandato. E a cada dia, a cada folha
arrancada, verificar se fez todas as tarefas que estão por fazer.
Ela tem três anos e nove meses para fazer coisas como o desmame das
grandes empresas de mídia, historicamente acostumadas a viver do
dinheiro público sob múltiplas formas.
Nada é tão imperioso como isso, porque os coronéis da mídia se batem ferozmente contra todos os avanços, como se viu agora no caso da terceirização.
Da Globo à Folha e à Abril, as empresas jornalísticas precisam de um choque do capitalismo que pregam para os outros.
Fora todas as mamatas públicas, ainda hoje elas vivem protegidas da
concorrência estrangeira, o que é simplesmente uma obscenidade.
Se o PT aspira a ter futuro depois deste governo, vai ter que enfrentar coisas que preferiu fingir que não via.
A hora é essa – com o final do terceiro turno.
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