quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Stiglitz diz que BC brasileiro estrangula a economia

Stiglitz diz que BC brasileiro estrangula a economia



Stiglitz diz que BC brasileiro estrangula a economia






Jornal GGN - Para
Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de Economia, a política monetária aplicada
pelo Banco Central no Brasil estrangula a economia, e ela deveria se
contrapor aos efeitos da queda do preço das commodities. Ele também acha
que o BC deveria considerar os efeitos da Operação Lava Jato,
reconhecendo que este é um período em que haverá restrição de gastos com
contração da construção civil.
Stiglitz também diz que a ideia de
aumentar os juros para conter a inflação é uma teoria desacreditada, e
que é preciso saber qual é a fonte da inflação. "Não é bom ter inflação
em disparada, mas também não é bom matar a economia. E eu acho que eles
(o BC brasileiro) perderam esse equilíbrio", afirma. Leia mais abaixo:
Do Estadão
Às vésperas da reunião do Copom, em que
se acredita que o Banco Central pode subir mais uma vez os juros, Joseph
Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia, disse em Davos, onde participa do
Fórum Econômico Mundial, que o BC brasileiro estrangula a economia. Para
ele, a política monetária do Brasil deveria se contrapor aos efeitos
depressivos da queda do preço das exportações e da Operação Lava Jato.
Sobre o quadro mundial, o economista avalia que a economia terá
desempenho em 2016 igual ou pior ao de 2015. O Nobel também considera o
aumento da desigualdade como outro fator que reduz a demanda global. A
seguir, os principais trechos da entrevista concedida ao Broadcast,
serviço em tempo real da Agência Estado.
Como o sr. vê os atuais problemas do Brasil?
A característica distintiva do Brasil é
que a política monetária estrangula a economia. Vocês têm uma das mais
altas taxas de juros no mundo. Se o Brasil reagisse à queda no preço das
exportações com medidas contracíclicas, o País talvez pudesse ter
evitado a intensidade da atual crise. Outra questão é que, sempre que
ocorrem escândalos de corrupção da magnitude do que acontece agora no
Brasil, a economia é jogada para baixo. Isso cria uma espécie de
paralisia. O sistema legal no Brasil está colocando muita gente na
prisão. Não estou dizendo que não deveriam fazer isso, mas a política
monetária deveria reconhecer que este é um período em que haverá
restrição de gastos, particularmente no setor público, em que as pessoas
serão mais cautelosas em tomar decisões, em que a construção civil vai
se contrair.
Mas a inflação está muito mais elevada que o teto de tolerância do sistema de metas.
e modelo que diz que, se a inflação está
alta, você sobe os juros é uma teoria que foi desacreditada. É preciso
saber qual é a fonte da inflação. Se for excesso de demanda, aí você
sobe juros, porque tem de moderar a demanda. Mas se for um impulso dos
custos, você tem de ser cuidadoso. Nesse caso, a forma pela qual a alta
dos juros reduz a inflação é matando a economia. Se você conseguir
desemprego o suficiente, os salários são deprimidos, e você segura a
inflação. Mas isso é matar a economia. Não é bom ter inflação em
disparada, mas também não é bom matar a economia. E eu acho que eles (o
BC brasileiro) perderam esse equilíbrio.
No Brasil, muita gente acha que a culpa é da política fiscal, e não do Banco Central.
Quando a economia se desacelera, as
receitas tributárias caem e ocorrem déficits. Se a economia for
estimulada, a receita sobe. Dessa forma, a política monetária pode
ajudar a política fiscal.
Então o problema no Brasil é a política monetária?
Na verdade, vocês têm dois problemas: o
colapso do preço das exportações e o escândalo de corrupção. O que eu
disse é que a política monetária deveria se contrapor a esses fatores,
mas, em vez disso, ela está agravando o problema.
Como o sr. vê a economia global hoje?
Meu diagnóstico não é nada complicado:
há falta de demanda agregada global. Mesmo antes da crise, o que
sustentava a economia americana era uma bolha artificial. Se não fosse
por ela, a economia teria sido fraca.
Por que a demanda global está fraca?
Olhando em volta do mundo, há quatro
razões básicas. A primeira é a desigualdade. As pessoas no topo não
gastam tanto (como parte da sua renda) quanto as pessoas na base. Então,
à medida que a desigualdade cresce, a demanda se enfraquece. Em segundo
lugar, há transformações estruturais acontecendo em quase todos os
países. Nos EUA, a transição da indústria manufatureira para os
serviços. Na China, das exportações para a demanda interna. Mas os
mercados são duros em conduzir essas transições. Tem sempre gente que
fica para trás, o que contribui para a desigualdade. Os setores que
ficam para trás não podem demandar bens. Em terceiro lugar, a zona do
euro está uma bagunça, com políticas econômicas que contribuíram para
reduzir o crescimento.
O sr. se refere à austeridade?
Sim, até nos EUA temos uma forma
moderada de austeridade, pela pressão política dos Republicanos. Nós
temos meio milhão de empregos menos no setor público do que tínhamos em
2008, antes da crise, e, se houvesse uma expansão normal da economia,
seriam dois milhões mais. Então temos austeridade nos EUA.
E qual seria o quarto fator para a demanda global enfraquecida?
Sempre que há uma perturbação como a
queda do preço do petróleo. Todo mundo esperava que o preço mais baixo
estimularia a demanda, mas se esqueceram de que se trata de
redistribuição. Os vendedores perdem e os compradores ganham. Se os
vendedores diminuem seus gastos em exatamente o mesmo volume que os
compradores aumentam, não há nenhuma mudança. Mas há assimetrias. Muitas
vezes os que perdem têm de contrair o seu gasto, dólar por dólar, e
aqueles que ganham economizam, pois não sabem se o ganho é temporário ou
de longo prazo. E os desdobramentos podem ser ainda piores em termos de
investimento – uma das fontes de crescimento nos EUA e outros países
vinha sendo o investimento em hidrocarbonetos (petróleo e gás). E isso
foi cortado. Os efeitos são enormes. Da mesma forma, a desaceleração na
China provoca a queda do preço do minério de ferro, e os ganhadores não
gastam mais tanto quanto os vendedores gastam menos.
Qual a sua previsão para 2016?
É provável que essas tendências que eu
descrevi continuem este ano. Se eu fosse otimista, eu chamaria atenção
para o fato de que o orçamento americano acabou sendo melhor do que o
esperado, mas há muitos fatores negativos. Não vejo nada positivo na
Europa. Acho que muita gente esperava a desaceleração na China, mas não o
tamanho da turbulência financeira. Tudo isso me diz que 2016 será tão
ruim ou pior do que 2015.
O problema da economia global é demanda, para o senhor. Qual seria a terapia?
A terapia econômica é fácil. O problema é
a política. Em termos econômicos, precisamos de um aumento dos gastos
do governo nos EUA e na Europa. Nos dois casos, os setores públicos
podem tomar emprestado a juros muito baixos. E, por outro lado, é
preciso investimento em tecnologia, educação, infraestrutura. Isso
estimularia a economia. Compraríamos mais do Brasil, o que ajudaria
vocês. Na Europa e nos EUA, temos espaço fiscal, vocês têm menos. Mesmo
que os EUA estivessem preocupados com o déficit público, podemos elevar
impostos. Nossos impostos são muito baixos. Podemos aumentar impostos,
conseguir mais igualdade.
E qual o obstáculo para isso?
O problema maior está nos EUA e na
Europa, e se resume à política. Na verdade, é um pouco mais complicado.
Nos EUA, é apenas a política. Acredito que há um amplo sentimento no
Partido Democrata em favor das políticas que acabei de descrever. Na
Europa, é complicado por causa da ideologia alemã. Tenho dúvida de que,
caso a oposição vencesse, haveria uma mudança. Os alemães reescreveram a
história para acreditar que a inflação foi o problema principal (na
ascensão do nazismo), mas o que causou Hitler foi o desemprego. E eles
se esqueceram disso. Eles esqueceram que o desemprego é a verdadeira
causa da instabilidade social. E eles promovem políticas que causam o
desemprego. Então a zona do euro tem de ser reformada, e isso é mais
difícil, é um problema estrutural.

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