domingo, 13 de agosto de 2017

O ninho da recessão: como a economia brasileira perdeu o rumo,

O ninho da recessão: como a economia brasileira perdeu o rumo, por André Araújo



O ninho da recessão: como a economia brasileira perdeu o rumo, por André Araújo

Foto: Ricardo Stuckert





A ABERTURA COLLOR E O PLANO REAL


Os ensinamentos da História Econômica são essenciais para entender a
atual e profunda crise da economia brasileira. Essa crise não advém de
erros da gestão Dilma apenas. Esses erros existiram, mas de modo algum
são a raiz primeira da atual crise, uma recessão que já dura três anos e
não aponta para nenhum horizonte de solução à vista. Se os erros da
gestão Dilma fossem a única causa da crise, a simples correção apontaria
para uma rápida saída, o que não está acontecendo. Os equívocos do
governo Dilma foram de operação, enquanto as causas da crise são mais
profundas,  de natureza estrutural e de correção muito mais complexa.


A recessão brasileira de 2014 a 2017, vem por um longo caminho de
grandes enganos e equívocos na condução da macro politica econômica
cujas sementes estão no desmonte da indústria brasileira, provocada por
uma reversão completa de um sólido sistema de incentivos e proteção que
vinha desde o Estado Novo, reversão operada no primeiro momento do
Governo Collor e depois  aprofundada pela nova política de estabilidade
monetária artificial implantada pelo Plano Real em 1994.


O sistema brasileiro de incentivo à indústria é o mesmo e até mais
leve daquele praticado pela Alemanha quando se industrializou  atrás da
Inglaterra, pelo Japão quando passou rapidamente de uma economia
agrícola feudal para uma potencia industrial agressiva, em um espaço de
tempo mais rápido do que potencias europeias, pelos “tigres asiáticos”
quando despontaram para ser economias industriais depois da Segunda
Guerra, pela India pós independencia. Todos os países industriais
fizeram nascer e impulsionar sua indústria com sistemas de proteção e
incentivo em diversos graus, o Brasil praticou a regra,  não foi
exceção, praticou de forma racional e cuidadosa, criou empregos
excelentes na indústria, abasteceu a população com produtos adequados ao
nível econômico do Pais e com isso gerou receita para o Estado e
serviços de saúde e alimentação para os trabalhadores.


O Brasil viveu economicamente de sua agricultura desde os primórdios
do descobrimento até o começo do século XX  com a criação da indústria
têxtil,  mas foi a partir da Era Vargas que a revolução industrial
brasileira deslanchou SOB A PROTEÇÃO DO ESTADO. O solido sistema de
incentivo à indústria nasceu da substituição de importação de produtos
manufaturados e esse sistema foi se estruturando de forma escalonada
através de leis e organismos, sendo o seu epicentro a partir da década
de 50 a CACEX-Carteira de Comercio Exterior do Banco do Brasil, braço de
Governo a quem cabia emitir licença de importação de produtos
industriais.


Um sofisticado sistema de grupos setoriais procurava  condicionar a
emissão de licenças a não existência de similar nacional mas ia além. Em
milhares de casos incentivava o fabricante nacional a produzir pela
primeira vez produtos que até então demandavam importação.


Uma indústria nascida exclusivamente por causa do sistema de proteção
foi a automobilística, nos anos JK, através da atuação do GEIA,
comandada pelo Almirante Lucia Meira. Para fazer nascer essa indústria
FECHOU-SE A IMPORTAÇÃO de todo tipo de veiculo, de automóveis a
caminhões e tratores., também de peças, motores e componentes.


Fui testemunha de todo esse processo primeiro como empresário do
setor de bens de capital e depois como dirigente de sindicato patronal
nacional do setor e de outra associação  brasileira das empresas
fabricantes de equipamentos elétrico (ABINEE), interagindo com a CACEX 
de forma continua, especialmente com a sua Divisão Industrial. Essa foi a
época da construção do grande  parque hidroelétrico brasileiro que deu
um saldo na indústria de bens de capital.


Produtos como laminadores de siderurgia, hidrogeradores, compressores
de grande porte, bombas centrifugas de todos os tipos, excitatrizes
para navios, trocadores de calor, injetoras, prensas para indústria
automobilística, válvulas para indústria de petróleo,  passaram a ser
fabricadas no Brasil porque a CACEX  examinava o pedido de licença e
consultava os fabricantes nacionais para ver a possibilidade de produção
local, em grande parte dos casos era possível produzir no Btasil, assim
nasceu uma grande variedade de novas industrias absorvendo a melhor
tecnologia disponível do mercado mundial. Era a época em que engenheiros
recém formados já saiam da faculdade com emprego garantido tal era a
demanda da indústria nacional.


O mesmo processo foi seguido pela indústria de auto peças, toda ela
nascida sob a proteção da CACEX, sem o que ela simplesmente não
existiria. Fui o primeiro fabricante de motores de arranque para a
prioneira Willys ,uma das  primeiras  fabricas nacionais de automóveis.


As reuniões na Divisão Industrial da CACEX eram tensas entre
importadores e potenciais fabricantes e foi delas que nasceu o primeiro
produto de uma serie que poderia ser fabricado no Brasil e este primeiro
produto deu inicio a uma linha inteira posterior mas que começou pelo
apoio da CACEX. Sem esse processo, amparado pela Lei do Similar
Nacional, não haveria indústria de bens de capital no Brasil e também em
outa plataforma a CACEX incentivou a fabricação de matérias primas e
metais antes importados, especialmente em metais não ferrosos , produtos
químicos e petroquímicos, papel e celulose.


Foi esse amplo  e sofisticado  sistema, operado na cúpula pelo
Ministerio da Industria e Comercio que criou as bases da grande
indústria  brasileira , o que fez o Brasil ser uma das dez maiores
economias do mundo, o que não era antes da industrialização.


Foi  Vargas quem extraiu como reciprocidade pela participação do
Brasil na 2ª Guerra a primeira indústria siderúrgica nacional de grande
porte, a Companhia Siderurgica Nacional, inicio da segunda fase da
industrialização brasileira, depois do tecido e da farinha.


Todo esse grande edifício construído a partir da Era Vargas e
consolidado no Governo Geisel como o II Plano Nacional de
Desenvolvimento foi desmontado do dia para a noite nos primeiros meses
do Governo Collor,  sem nenhum cuidado, a machado e martelo, com a
desculpa de que “nossos carros são carroças”, uma lenda, nossa indústria
automobilística já era a 6ª do mundo  em 1990 e a Volkswagen em São
Bernardo tinha 48.000 empregados  sob o mesmo teto, hoje tem  menos de
4.000 porque de fabricante virou montadora de conjuntos importados da
Coreia, do Vietnam, de Singapura, da Malasia, de 100% do veiculo o
Brasil recuou para não mais de 40% do carro , importando conjuntos
prontos de cambio e motor que antes eram fabricados no Brasil. Por ser
um paraiso das importadoras-montadoras o Brasil é o Pais do mundo que
tem o maior numero de fabricantes de veículos estabelecidos no Pais,
cerca de 60, evidentemente que a grande maioria simples montadoras com
pouca  fabricação local, já que no atual modelo industrial brasileiro se
permite a completa  importação CKD indiscriminada de conjuntos prontos,
basta um galpão aqui para montagem, retroagimos aos anos 40, quando a
Ford e a GM já montavam veículos no Brasil.


Com isso a indústria que ocupava 23% do PIB em 1990 tem hoje uma
participação de 9% com a perda de 10 milhões de empregos industriais,
enorme perda de arrecadação  que empobrece o Estado brasileiro em
impostos diretos, indiretos e contribuições previdenciárias. Empobrece o
Tesouro mas não os encargos porque as pessoas mesmo desempregadas
continuam existindo e requerendo escolas para os filhos e hospitais para
os adultos, caia arrecadação mas não cam as obrigações do Estado, essa a
tragédia da desindustrialização provocada pela abertura irresponsável e
leviana em nome de uma suposta sofisticação do consumo de importados.


Seria possível uma reforma da Lei do Similar mas  com analiise da
relação custo-beneficio, todo sistema precisa de evolução mas sem a
implosão de todo um modelo solido que deu resultado esquecendo que as
grandes potencias industriais asiáticas até hoje tem fortíssimos
sistemas de proteção à indústria e empregos, como a China, por exemplo, 
um Pais fechado que importa do Brasil soja em grãos, mas  não aceita
processamento da soja no Brasil porque precisa preservar empregos
industriais na China. Todos os países industriais asiáticos protegem a
ferro e fogo seus empregos e só importam alguma coisa quando são
absolutamente obrigados por razões de contrapartida, NINGUEM ABRIU SEU
MERCADO DE GRAÇA como o Brasil  irresponsalvemente praticou com a
ABERTURA COLLOR, confirmada e continuada sob uma visão neoliberal
inocente que veio com a “equipe do Real” que passou a usar a importação
como forma de combater a inflação, um troca estupida, joga-se fora
empregos aqui para combater a inflação com brinquedo chinês e café da
Italia, como se isso fosse a modernização, largando pelo caminho os
desempregados e suas carências.


Ve-se por esse operação  da economia que a perda de empregos no
Brasil tem muito a ver com a obsessão fanática pelas metas de inflação,
mais um custo cobrado pela  estabilidade artificial da moeda,
preferencia pela importação em beneficio da estabilidade sem pensar no
custo concreto e direto dessa pratica na geração de empregos e perda de
arrecadação.


Um grande mercado nacional tem enorme valor econômico, ninguém abre
mercado de forma descuidada como fez o Brasil em 1990, abriu com
leviandade, como se importar agua mineral francesa e chocolate  suíço
fosse um sinal de modernidade e não apenas uma caricatura de pais
emergente e frívolo, sem projeto nacional, como um resort de pessoas
despreocupadas.


Os “economistas do mercado” que surgiram na vida politica a partir do
Governo Collor e passaram a comanda inteiramente a economia desde o
Plano Real fizeram circular a “lenda” de que para o Brasil ser moderno
deveria abrir a importação completamente  e desproteger a indústria
nacional. É FALSO. As grandes economias dinâmicas de nossos tempos,
Japão, Coreia do Sul, China, Tailandia, Vietnam, Malasia, India  tem
POLITICA INDUSTRIAL DE LONGO PRAZO  e  dispnsam extremo cuidado com a
proteção e incentivo às suas industrias.


Politica econômica é escolha, é opção, um Pais precisa escolher qual a
melhor relação custo beneficio de cada politica, não existe politica só
boa, todas tem aspectos negativos e positivos.


Inflação baixa é boa? Sim MAS A QUE CUSTO? Essas perguntas não são
feitas por mentes simplórias, fanáticas ou mal intencionadas que
sacrificam um Pais inteiro para obter uma vitória estatística a ser
mostrada na reunião anual do FMI e garantir um futuro emprego em
Washington no próprio Fundo ou em algum banco de Wall Street, sonho dos
“economistas de mercado” que usam países como laboratórios para
embelezar seus currículos.


O PLANO REAL E A ESTABILIZAÇÃO ARTIFICIAL DA MOEDA


O segundo equivoco nas raízes da atual crise econômica secular no
Brasil foi um plano de estabilização artificial da moeda que eliminou a
inflação apenas na sua feição gráfica sem resolver antes os
desequilíbrios que causavam a inflação. Eliminou-se o sintoma
inflacionário sem eliminar as causas da inflação, abaixa-se a febre sem
curar a infecção que lhe deu origem Mas para manter a moeda estável
artificialmente era preciso ampara-la com muletas sem as quais a moeda
não fica de pé,  ANCORAS para segurar o que é mera aparência de
estabilidade.


Foram usadas DUAS ancoras, a CAMBIAL  e a de JUROS ALTOS


Usou-se desde o inicio a mais custosa das ancoras, a ANCORA CAMBIAL,
amarrar o Real ao dólar, mantendo-se este artificialmente baixo através
da intervenção permanente do Banco Central, a um custo estratosfrico.
Apenas no primeiro semestre de 2016 a ancora cambial, representada por
swaps cambiais vendidos pelo BC, custaram R$201 bilhões em UM SEMESTRE.
Nos 23 anos do Plano Real estima-se o custo da ancora cambial em R$7
trilhões de Reais, dinheiro  subtraido da economia produtiva para manter
a FICCÇÃO de uma moeda estável. Para lastrear artificialmente uma moeda
que não tem nenhum dos elementos para ser estável, o Banco Central
precisa ampara-la com imensas reservas externas, hoje chegando a perto
de 400 bilhões de dólares, rendendo 1% ao ano ou pouco mais que isso e
custeada com títulos que pagam juros reais de 6% ao ano, um imenso custo
de carregamento além do custo dos seguros cambiais vendidos ao mercado.
Seguro cambial e carregamento de altas reservas internacionais  são
apenas parte do  custo da existência do Real como moeda estável de
ficção.


A segunda ancora foi a de juros muito acima da média mundial, varias
vezes acima dessa media. Essa segunda ancora engordou a divida publica
federal em títulos, algo  que era quase inexistente em 1994 e hoje está
em R$3,3 trilhões, dos quais ¾, ou seja R$2,4 bilhões são compostos pela
agregação de juros apenas rolados e não pagos desde 1995.


Outra parte da divida publica, estimada em 11% do total é pela
incorporação na divida publica federal de 43 moedas podre tipo SUNAMAM
que existiam antes de 1994, dividas velhas sem liquidez e na maioria em
processos e sob contestação judicial,  absurdamente declaradas boas
 trocadas por títulos líquidos federais, as Notas do Tesouro
Nacional-NTN tão bons como dinheiro  vivo. O grosso dessas moedas podres
foram compradas antes por  bancos, como se soubessem que iriam ser
trocadas, largamente beneficiados  com essa perda do Pais..


Para completar o CUSTO DO PLANO REAL, foam privatizados  grande parte
dos bons ativos da União, acumulados desde  a Primeira Republica, como a
Itabira Iron (Vale do Rio Doce) Vendeu-se a Vale do Rio Doce, 40% das
ações da Petrobras ,  toda a telefonia, rodovias, as Light São Paulo e
Rio, petroquímicas, toda a siderurgia, etc. obtendo a União US$109
bilhões que se dissiparam em despesas correntes e pagamento de juros, na
linha “vender a mobília para pagar o almoço”, o ativo se foi e as
despesas e juros continuam.


Os autores do Plano Real bem definiram seu trabalho como  “o fim da
Era Vargas”, de fato, desmontaram todo o ativo acumulado tijolo a tijolo
por grandes Presidentes do Brasil.


O ENFRAQUECIMENTO DO ESTADO NACIONAL APÓS OS ANOS 90


Uma causa e também consequência dos processos históricos que estão na
raiz da Abertura Collor e do Plano Real e que permanecem até nossos
dias é o enfraquecimento do Estado nacional brasileiro com notável perda
de soberania e foco no interesse nacional.


As mentes e almas dos dirigentes brasileiros até 1990 eram, com seus
erros e acertos,profundamente eraizadas  na construção histórica o
Brasil, políticos de brasilidade forjados nas lutas pela formação desse
grande Estado nacional, o maior da America Ibérica, o único que manteve
intacto o legado do Descobrimento , da cultura e do território.


 Essas gerações de políticos que chegaram à Era Vargas, moldados pela
Primeira Republica, eram uma elite de alta densidade nacionalista,
expressa na rica literatura do Seculo XIX e da primeira metade do Seculo
XX, na riqueza de nossa arquitetura , pintura e musica desse período
formativo de um grande Pais e sua população distinta da America
Espanhola.


Já especialmente o Plano Real teve como equipe e direção personagens
com formação nos Estados Unidos, alguns com vivencia e atividade naquele
Pais, outros com ligação com bancos e  fundos estrangeiros, com uma
visão alienada de qualquer sentido nacional, com projetos pessoais mas
não de Pais. No Governo FHC a predominância desse biótipo foi
preponderante, perdeu-se aquela ligação profunda com as raízes do Brasil
que vinha da Era Vargas para uma elite alienada de alma e visão, com um
pé no exterior maior do que o pé no Brasil.


Nessa esteira chegamos até nossos  dias como dirigentes 
 culturalmente  ligados ao estrangeiro no comando da economia ,  mesmo
sem desvio de interesse faz com que sua ação se desligue dos anseios
mais arraigados do povo brasileiro para se vincular a uma visão
globalizada no seu sentido mais perverso, não naquele visão que procura
inserir o Pais no movimento  global  sem perder a raiz nacional, como
faz a China,  mas sim na  percepção colonizada de que o estrangeiro é
sempre melhor, bm a é ser da  metropole e o Brasil apenas uma terra de
passagem e saque para viver no exterior, o pior tipo de elite que um
pais pode produzir,  elite de mente colonizada e envergonhada de seu
próprio Pais.


O enfraquecimento do Estado  tornou o Brasil apenas uma moldura 
geográfica que cerca o território sem a liderança de um projeto
nacional, de uma visão de futuro, um dos maiores países do planeta sem
postura e presença internacional e sem explicar sua presença no mundo,
seu papel regional e civilizatório, seu lugar nas relações
internacionais, sem se orgulhar de ser  a maior civilização multiétnica
do mundo atual, de ter o maior  patrimônio ecológico do planeta em fase
de dilapidação pelo desprezo com seu próprio futuro.


Esse ausência de raiz nacional está claramente presente na atual
politica econômica brasileira com toda a ação voltada para os
“mercados”, eufemismo que significa voltada para fora do Brasil e para
os interesses e  sensores que estão no exterior , como se o Brasil , seu
governo e população,  fossem um detalhe e não um grande Estado, um dos
dez maiores do planeta.


Todos esses fatores se refletem na economia, no apequenamento da
função de Ministro da Fazenda e de Presidente do Banco Central, o
primeiro sem sequer tocar na questão nacional, na qustão do emprego , na
questão da sobrevivência das comunidades miseráveis pelo Brasil afora,
nos 20 milhões de jovens sem emprego, sem educação e sem futuro
empilhados nas periferias , arsenal de montagem do crime que assola o
Brasil de hoje, um Ministro que se liga mais do que nada a Wall Street e
nada ao ethos profundo da nacionalidade.


No mundo moderno há um ESPAÇO PARA O ESTADO e um ESPAÇO PARA O
MERCADO, não são excludentes e sim complementares. Nos países centrais
de alta renda per capita o Estado pode ser  menor que o mercado, como
nos EUA, 28% do Estado e 72% do mercado. Na Europa o Estado  é maior
porque  o pensar coletivo é equilibrado com o individual, o Estado tem
40 a 50% da conomia, trata-se de opção politica do Estado de bem estar
social e zelador do patrimônio cultural. No geral a qualidade de vida na
Europa é melhor do que nos EUA, em serviços públicos, cultura, educação
e saúde, são opções de sociedades formadas de forma distinta, os EUA
mais para o individualismo e o europeu mais para o pensar no coletivo.


 Nos países de renda per capita baixa, como o Brasil, o espaço do
Estado precisa ser maior porque cabe a ele tarefas que o mercado não irá
suprir. É compatível com o estagio da economia brasileira um Estado com
45% da economia e um mercado com 55%, não é estranho  às necessidades
do Pais que um mercado voltado mais para a classe media não vai
atender   as comunidades carentes, hoje 70% da população, cabe ao Estado
ampara-las.


Estado e Sociedade dependem de estágios e estes de cultura e
educação, cada Pais deve criar as estrutturas de Estado adequadas a sua
realidade, sem tentar copiar outras realidades.


A DIFICIL  SAIDA DA CRISE ECONOMICA


A crise econômica brasileira é estrutural e o Plano Real transformou
erros que poderiam ser consertados com relativa facilidade  em defeitos
 permanentes  cuja reversão é politica.


O ciclo de alta de commodities mascarou a crise por vários períodos,
dando a impressão de uma evolução da economia que era só aparente, a
prova da não evolução é a estagnação da renda per capita e pior ainda,
sua má distribuição, um Pais com uma classe media estagnada em  30
milhões de brasileiros e 170 milhões de pobres e remediados, a chamada
classe media baixa. O enorme crescimento das “comunidades”, oceanos de
periferias sem estrutura urbana, aglomerações de casebres sem títulos de
propriedade, sem serviços de saneamento e coleta de lixo, dominados por
gangues e milícias é a expressão da disfuncionalidade do ilusorio
crescimento de renda em ilhas de alto padrão nas cidades medias e nas
metrópoles, nos condomínios fechados e nos núcleos do luxo cercados pela
miséria, desesperança e criminalidade, uma sociedade se tornando
disfuncional pela desarticulação de seus segmentos, há uma linha de
harmonia onde a pobreza é tolerada porque vislumbra um futuro ainda que
remoto MAS quando a pobreza não vê futuro a não ser mais pobreza essa
sociedade rompe seus vínculos de classes e se torna disfuncional rumando
para uma implosão.


O Brasil está nessa disjuntiva que só a politica no seu nível mais alto pode resolver.


O Brasil não sairá da crise econômica com a atual politica monetária e
cambial que esgota qualquer possibilidade de investimento publico,
única ferramenta para reversão do processo recessivo. É uma simples
questão aritmética. Não há no horizonte um vislumbre nem a longo prazo
da possibilidade de um superávit primário e muito menos um superávit
suficiente para pagar os juros da divida publica. Nessa conta a única
forma de pagar os juros é aumentar a divida publica com a agregação dos
juros. Esse processo é insustentável. Tem que ter um fim.


A divida publica não pode crescer indefinidamente. Há duas saídas simultâneas e somadas:


1.Aumentar rapidamente o investimento publico com emissão de moeda e
assim reativar a economia e aumentar a arrecadação uma vez que com a
 redução substancial do gasto publico  é  impossível a curto prazo a
economia crescer. Para isso o modelo de meta de inflação tem que ser
abandonado porque haverá algum  risco de inflação, embora pequena e o
Governo não pode ser amarrado a essa meta como eixo de toda a politica
econômica, uma só variável não pode reger toda a economia, nenhum banco
central se coloca em tal camisa de força, o Federal Reserve tem meta de
esatibilidade conjugada com meta de pleno emprego, meta de inflação
sozinha é uma “moleza” para o Banco Central, derruba tudo e consegue a
meta, é um modelo irresponsável, ridículo, irracional, um Pais não é só
isso.


De qualquer modo, dado a capacidade ociosa de mão de obra e
capacidade instalada  de maquinas e equipamentos  há grande espaço para
reativar a economia sem inflação.


2.Rebaixa dos juros básicos para inflação + 2% ao ano, se não houver
tomadores pagar a divida com emissão de moeda, como fez o Fed no modelo
“quantitative easing” Para controlar a expansão monetária aumentar o
compulsório dos bancos SEM remuneração,


é um absurdo um compulsório remunerado, como gosta de fazer o Banco
Central para alegria do sistema bancário, docemente obrigado a receber
juros, não há algo igual no mundo.


O certo é que o atual modelo fracassou, está fracassando e fracassará
no futuro porque só atende ao publico rentista e não ao conjunto da
população brasileira para o qual existe Governo.


Ao contrario do que dizem as cassandras da mídia econômica, “os
mercados” convivem com qualquer modelo, se adaptam, a capacidade de
conversão  é ilimitada, assim mostra a Historia.


A economia brasileira merece mais inteligência do que a atual que a serve com desprezo.


CONSEQUENCIAS DA RECESSÃO


Uma recessão duradoura já tocando em pisos de depressão traz como
consequência duradoura a destruição das esperanças de uma ou mais
gerações de jovens pobres entre 14 e 15 anos. Sem o primeiro emprego não
haverá o treinamento para a vida econômica e o Brasil corre o risco de
perder20 milhões de jovens sem perspectivas a não ser no crime.


A segunda consequência é a concentração de capital. Enquanto no andar
de baixo há uma devastação nas micro e pequenas empresas, na plataforma
do financismo está ocorrendo uma rápida concentração de capital por
meio de fusões e aquisições bilionárias o que é algo negativo para o
conjunto da população, para o equilíbrio da economia competitiva e para o
poder do Estado brasileiro. Ao lado desse fator outro ainda pior, a
continua venda de grandes ativos como hidroelétricas, distribuidoras de
energia, aeroportos, portos, empresas de agua a grupos estrangeiros,
saudados como salvadores da economia estagnada, completando com a cereja
do bolo, a venda de largas extensões de terra a multinacionais,
consequências da depreciação do valor dos ativos brasileiros causada
pelo atual modelo econômico.


Assim, enquanto a recessão causa danos imediatos pela perda
decorrente da ociosidade da mão de obra e do aparelho  produtivo da
economia, ao mesmo tempo gera efeitos duradouros no longo prazo pela
mudança de posição nos grandes conjuntos da micro economia, pela perda d
espaço da pequena e media empresa, pelo fechamento de pequenos
negócios, exatamente aquele que dá o primeiro emprego e o primeiro
treinamento para a vida econômica ao mesmo tempo em que favorece a
criação de grandes oligopólios e carteis em todos os setores.


O revigoramento da economia pelo estimulo monetário tem o condão de
romper com amarras de uma economia bloqueada pelo financismo que surfa
na recessão, mais moeda em circulação dinamizará todos os circuitos de
industria pelo aumento da demanda, ativando a micro economia com uma
nova corrida pela produção onde a moeda é menos valiosa do que os ativos
reais e produtos físicos,  valorizando a mão de obra e enfraquecendo o
rentismo paralisante.


A QUESTÃO POLITICA


A governabilidade do Brasil com qualquer partido ou Governo no poder é
INSUSTENTAVEL com a permanência da atual estagnação da economia com
claros sinais de DEPRESSÃO. É muito difícil sair de uma depressão, muito
mais difícil do que acabar com a inflação, quadro cujo remédio é muito
bem conhecido a partir do Plano Schacht que acabou com a hiperinflação
alemã de 1923 m seis meses, plano esse do qual o Plano Real é uma cópia
total.


O mundo econômico sabe como acabar com uma inflação mas não com a depressão.


O Brasil está INOVANDO a economia mundial, é a única grande economia
na historia que às voltas como uma recessão tem uma politica econômica
PARA AUMENTAR A RECESSÃO e provocar a depressão na sequencia, de forma
deliberada. É o caso de um Pais e suas classes dirigentes cometendo
suicídio. O Governo não procura sair da recessão, procura aumenta-la com
um modelo pro-recessão chamado METAS DE INFLAÇÃO e com juros vezes
acima da media internacional. Não se ve nos programas dos potenciais
candidatos nenhuma proposta para sair dessa caminhada para o abismo, o
Brasil mais uma vez inovando para o mundo ver.

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