Wikileaks escancara a terceirização da guerra e coloca a imprensa diante de desafio
A nova leva de documentos secretos publicada pelo site Wikileaks desnudou para o público uma realidade sinistra materializada pelo fenômeno da terceirização da guerra nas mãos de empresas privadas, sobre as quais a sociedade tem pouco ou nenhum controle.
Por Carlos Castilho
[27 de outubro de 2010 - 14h12]
A nova leva de documentos secretos publicada pelo site Wikileaks desnudou para o público uma realidade sinistra materializada pelo fenômeno da terceirização da guerra nas mãos de empresas privadas, sobre as quais a sociedade tem pouco ou nenhum controle.
Muito já foi dito sobre o pacote de quase 400 mil documentos secretos divulgados pelo site especializado em publicar notícias e documentos sem verificação jornalística prévia. Mas o que ainda falta discutir é como o público vai digerir este material e a provável avalancha de outros que certamente congestionarão os fluxos informativos na web nos próximos meses e anos.
Os jornalistas terão um papel essencial neste processo, mas é fácil prever que a verificação de informações tende a se tornar cada vez mais complexa e exigente em matéria de mão de obra. As redações de jornais estão muito enfraquecidas pelos sucessivos cortes impostos pelas indústrias da comunicação para enfrentar as incertezas da digitalização.
Por isso deduz-se que a interpretação e contextualização do novo pacote de documentos secretos vai exigir um esforço que supera a capacidade operacional das redações, repetindo a situação surgida há um ano e meio, quando o jornal inglês The Guardian recorreu a seus leitores para destrinchar pouco mais de 470 mil páginas de documentos sobre corrupção no Parlamento britânico.
Na época, a respeitada Fundação Nieman, da Universidade Harvard, qualificou a decisão do jornal como um marco na história do jornalismo contemporâneo. Agora surge uma situação muito similar colocando um novo desafio diante das redações de jornais. Caso não haja uma preocupação idêntica ao caso do The Guardian, corre-se o risco de perder uma oportunidade histórica para questionar o papel de empresas privadas na segurança nacional e internacional.
Também a responsabilidade dos governantes entra em pauta na medida em que a terceirização dos contratos é da alçada deles. A imprensa não pode se omitir numa situação como esta porque está em jogo o seu papel como provedora de informações para que a sociedade possa patrulhar o papel do Estado.
Quando a segurança nacional — da mesma forma que já aconteceu com a segurança pública urbana — é privatizada, os cidadãos perdem os instrumentos institucionais de controle e passam a depender da “boa vontade” de empresas privadas geralmente pouco preocupadas com a transparência de suas ações. A imprensa seria o caminho normal para evitar que situações como esta acabem se generalizando, mas o que se tem observado até agora é um silêncio preocupante.
Diante das restrições orçamentárias e das dimensões da tarefa, não restam outras opções para os jornais, emissoras de rádio, de TV e os portais informativos na web senão imitar o jornal The Guardian e pedir a colaboração do público para entender e tirar lições dos documentos divulgados pelo site Wikileaks.
É uma decisão complexa porque não dá para considerá-la uma fórmula mágica. O apelo do Guardian foi muito bem aceito nas primeiras semanas, mas depois perdeu seu ímpeto inicial. Passados 18 meses, metade dos documentos sobre corrupção no Parlamento britânico ainda não foram revisados pelo público. A principal razão foi falta de tempo dos voluntários mas, como assinalou a Fundação Nieman, também faltou um maior esforço motivador por parte do jornal.
A colaboração do público não é uma fórmula acabada, ainda apresenta uma série de problemas e necessita ser pesquisada em mais profundidade. Mas tudo indica que a busca de uma solução passa por ela.
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