quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Democracia & Política: “RAIVA DA IMPRENSA”?

Democracia & Política: “RAIVA DA IMPRENSA”?

“RAIVA DA IMPRENSA”?

"Raiva da imprensa"
ESTE BLOG ACUSADO DE TER “RAIVA DA IMPRENSA”

Recebi ontem, terça-feira (6), o seguinte comentário da gentil leitora Thaynara, de Minas Gerais, apresentado ao fim da postagem “O Pior Inimigo do Governo Dilma”, sobre texto de autoria de Eduardo Guimarães:

Adoro seu blog, mas não concordo com a raiva que você tem da imprensa.

A imprensa está certíssima, pois com toda a imprensa em cima do Lupi, com toda a pressão, o ex-ministro (Graças a Deus), demorou para entregar o cargo; imagina se a imprensa não fizesse essa pressão toda.

Sou a favor da imprensa, sou petista, e nem por isso vou fechar meus olhos para a corrupção, ou você acredita seriamente que o Lupi é um exemplo de político e ser humano?

Uma outra coisa que não entendo desses blogs de esquerda (sou de esquerda, mas não com essas ideias mirabolantes de Chaves e Cia). Não entra na minha cabeça essas criticas contra a Globo e a imprensa em geral; ou você acredita que o Lupi não tinha dois cargos, que não recebeu o dinheiro da Câmara, que não fez um monte de coisas que foram noticiadas?

O Brasil está mudando, e agradeço à imprensa que temos; é claro que tem um monte de podre em Minas e São Paulo que ela não noticia, mas se o PT continuar no poder e a imprensa tentando corrigir essas falhas, quem sai ganhando somos nós brasileiros honestos, e não essa maioria de políticos vagabundos e encostados em nossos impostos.”

Este blog procurou responder, expondo alguns conceitos.

RESPOSTA DESTE BLOG

Thaynara,

Agradeço seu elogio ao blog e me sinto motivada a melhorar para corresponder à sua avaliação.

Não tenho “raiva da imprensa”. Inclusive, por razões pessoais. Tenho queridos parentes próximos jornalistas da “grande” mídia.

Acho o papel da imprensa importante e indispensável para a sociedade. Porém, desde que o seu objetivo seja informar e analisar de modo correto, isento, sem o dolo da parcialidade. Mesmo que um veículo de informação declare ser tendencioso pró-determinado partido (no ano passado, nas vésperas da eleição do 2º turno, o “Estadão”, afinal, confessou em editorial ser a favor do candidato José Serra), julgo que, para o bem da sociedade brasileira, pelo menos o conjunto da imprensa deve ser, na média, equilibrado, imparcial.

Porém, esse não é o caso do Brasil. A nossa “grande” imprensa é, e sempre foi, praticamente toda, tendenciosa radical a favor dos interesses dos grandes grupos financeiros e econômicos estrangeiros e de partidos da direita internacional e brasileira (no caso atual, PSDB,DEM,PPS e outros agregados menores).

No âmbito internacional, as agências de notícias e a imprensa em geral, incluindo a brasileira, são claramente defensoras dos interesses dos EUA e Israel e seus aliados. Nesse cenário, nos últimos anos, são demonizadas figuras como Saddam Hussein, Ahmadinejad, Kadahfi, Hugo Chávez, com notícias falsas, ardilosamente inventadas. Sempre há interesses gananciosos movendo essa demonização, que faz parte de estratégia de escalada de crise que culmina com ataque e invasão militar do país. Nas últimas décadas, claramente, o principal interesse é o controle pelos EUA e seus aliados da produção e exportação de petróleo do Oriente Médio (e da Venezuela).

Apesar de suas escolhas serem evidentes, a nossa imprensa não declara suas preferências e tenta, grosseiramente, esconder, sem êxito, a sua defesa dos interesses da direita. Sempre tenta, de modo camuflado, fantasiado, com espertezas de redação, de manchetes e subtítulos capciosos não coerentes com a notícia, com mensagens nas entrelinhas. Cinicamente, sempre se apregoa “isenta”.


Você diz que este blog é de esquerda. Talvez em boa parte das postagens. Porém, não necessariamente, nem por princípios. Procuro pensar, acima de tudo, no interesse nacional. Por isso, após constatar que os governos demotucanos (FHC) foram antinacionais, fiquei com aversão a eles. Para eles, quem defende prioritariamente os interesses brasileiros é rotulado como "de esquerda". Não sou petista, nem filiada a qualquer partido, mas votei em candidatos do PT nas últimas eleições por chegar à conclusão de que eles eram melhores (ou menos ruins) que os seus concorrentes.

É óbvio que há corrupção no PT! Não coloco a mão no fogo por ninguém, de qualquer partido. Até no Vaticano, na Igreja, em ONGs, no Japão, em Israel, nos Estados Unidos, na Rússia, na Itália, enfim, no mundo todo há muita corrupção em todos os níveis.

Sou convicta de que não há outra solução: os corruptos, todos, devem ser identificados, julgados e punidos dentro da lei.

O que acho errado na imprensa brasileira nos últimos meses é criar e destacar intensamente suspeitas sobre “alvos da vez” do governo Dilma, transformando, pouco a pouco, de modo orquestrado, a suspeita em “fato”, em “verdade”, e culminando com a opinião “pública” (ou melhor, a “publicada”) exigindo rápida condenação, sem investigações e julgamentos da Justiça. A tática é, por exemplo, a "Globo" fazer a acusação baseada em matéria da "Veja" (ou vice-versa), a "Band" repetí-la baseada nas "graves denúncias" da Globo e Veja, e assim por diante, até o acusado desistir de se defender e sair fora do governo. Até a "Comissão de Ética" de Sepúlveda Pertence, e o Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, sem querer, colaboram afirmando, ofuscados com tantos holofotes, que o ministro "X" deve sair considerando "as graves denúncias publicadas"... Isso me faz recordar os tempos do Procurador-Geral da República Geraldo Brindeiro, que ficou famoso como "Engavetador-mor da República", por travar e esconder todos os processos sobre escândalos de corrupção do governo demotucano FHC.

Ao mesmo tempo, nossa imprensa omite, esconde, abafa, minimiza grossas falcatruas de demos e tucanos já descobertas pela polícia e em montantes de prejuízo para os cofres públicos muito maiores que os alegados para os casos de petistas. Quando a imprensa publica, é o mínimo necessário dentro do disfarce, da camuflagem que acima mencionei. Um exemplo: a imprensa, no governo FHC/PSDB/PFL-DEM, noticiou (até muito) sobre a “venda” de votos para permitir a reeleição de FHC e a manutenção do PSDB e DEM no poder. Deputados confessaram ter vendido (por cerca de US$ 150 mil cada voto) e foram cassados. Contudo, jamais a imprensa investigou, levantou suspeitas, condenou, quis saber quais eram os “compradores” de votos interessados na reeleição, de onde saiu o dinheiro daquela corrupção. Típico comportamento evidentemente venal, corrupto, partidário da nossa imprensa.

Faço outra observação sobre o seu comentário. Sobre sermos “brasileiros honestos, e não essa maioria de políticos vagabundos e encostados em nossos impostos”.

Thayanara, não é o seu caso certamente, mas o montante do prejuízo aos cofres públicos causado pelos brasileiros que se julgam “da elite”, que se proclamam “os pagadores de impostos”, “indignados” com os políticos (somente os políticos que apoiam o governo federal), é muito maior que o prejuízo causado pelo conjunto total da corrupção no Executivo, Legislativo e Judiciário.

Segundo expresso pela “Veja” há cerca de um mês, o conjunto da corrupção na máquina pública representa prejuízo estimado em R$ 80 bilhões por ano (cálculo divulgado pela “Veja”). Ninguém repercutiu o relatado por autoridade da Receita Federal na mesma época: a corrupção dos cidadãos e empresas privadas brasileiras significa apropriação ilícita da ordem de R$ 200 bilhões/ano, duas vezes e meia maior. Essa corrupção vai desde a omissão e falsificação de dados de receita nas declarações para o imposto de renda (IR), até gigantescas sonegações das empresas, inclusive as da mídia. Muitos comerciantes, profissionais liberais e outros “indignados com os políticos corruptos” roubam o dinheiro público. Por exemplo, não dão notas fiscais para os clientes, recebem “em espécie” (que não declaram) e não dão recibo que permita ao pagador abater a despesa no IR e os recebedores de pagamentos serem identificados pela Receita. E muitos outros atos de desvio, em próprio benefício, do dinheiro que deveria ser público.

Nesse grupo de "indignados", inseriram-se todos aqueles demotucanos que derrubaram a CPMF. Foi fruto de lobby muito suspeito. Não era porque o ínfimo imposto de 0,1% sobre a movimentação financeira os tornava menos ricos ou, como diziam cinicamente, "penalizava os pobres". O ódio ao imposto era porque a CPMF permitia à Receita Federal mais facilmente rastrear e identificar os grandes sonegadores. Com a CPMF, a Receita descobriu que seis entre os dez maiores movimentadores de dinheiro no Brasil não declaravam imposto de renda, enquadrando-se como pobres, "isentos". Lembro que o senador tucano Arthur Virgílio (líder do PSDB no Senado) foi aplaudido de pé ao entrar em um restaurante chique de Brasília no dia seguinte à derrubada da CPMF. Inebriado, dias depois afirmou que se candidataria à Presidência da República.

Thaynara, em resumo, essas corrupções, todas, de agentes públicos e privados, também têm que ser igualmente acusadas pela imprensa, alardeadas intensamente, investigadas e severamente punidos os responsáveis, para que, como você mencionou, os brasileiros honestos saiam ganhando.

Por fim, um detalhe, uma observação que não tem nada com você, Thaynara, e seu comentário. Trata-se de prática muito comum na extrema-direita da blogosfera. Usando “psicologia” elementar usada para crianças ou para desprovidos de neurônios, escrevem para blogs que julgam ser petista e de esquerda, confessando-se “petistas”, “mas decepcionados com tanta corrupção neste governo”, que “no governo anterior não era assim”, que “os petistas devem abandonar o poder e dar nova oportunidade à oposição” etc. Assim, plantam esses conceitos abomináveis. Outra tática da direita é a dos “trollers”. Segundo a wikipedia, um “troll”, na gíria da internet, é aquele que procura depreciar um texto, desestabilizar uma discussão, provocar e enfurecer as pessoas envolvidas nelas. O termo surgiu derivado da expressão “trolling for suckers” (lançando a isca para os trouxas).

Mais uma vez, obrigada pela contribuição do seu comentário, que mostrou a oportunidade de este blog aqui expor essas considerações.

Maria Tereza, blog ‘democracia&política’.

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