Análise: Vazamento coloca aliados dos EUA em situação delicada
RICHARD MCGREGOR
DO "FINANCIAL TIMES", EM WASHINGTON
Barack Obama diz que recebe com agrado o debate provocado pelo vazamento de detalhes sobre o vasto alcance das operações da agência americana de espionagem eletrônica. Para os aliados dos Estados Unidos, é difícil compreender o motivo. DO "FINANCIAL TIMES", EM WASHINGTON
O longo e raramente admitido acordo de compartilhamento de informações entre cinco países ocidentais --Austrália, Canadá, Estados Unidos, Reino Unido e Nova Zelândia, esta última recentemente readmitida-- por anos foi a peça central oculta da aliança ocidental.
Estabelecido depois da Segunda Guerra Mundial para monitorar a União Soviética, o sistema mundial "cinco olhos" rastreia tudo e todos --suspeitos de terrorismo no Oriente Médio, cientistas nucleares iranianos, jihadistas indonésios e comunicações militares da China.
Os cinco países criaram elos institucionais profundos e capacidades técnicas com as quais a China pode apenas sonhar. Por isso, esse debate não envolve apenas os Estados Unidos.
A NSA (Agência de Segurança Nacional) e seus parceiros operam instalações conjuntas na região rural do Reino Unido; no deserto do oeste da Austrália, com capacidade para rastrear comunicações na Ásia; e operavam até uma pequena estação de escuta em Hong Kong antes que a China retomasse a soberania sobre a área.
Os aliados dos Estados Unidos claramente apreciam essa conexão de inteligência. Mas as consequências do vazamento têm o potencial de erodir o apoio público a uma aliança já distendida quase até o ponto de ruptura.
O tema adotado pelos Estados Unidos para reconfortar a audiência interna --o de que a NSA não está espionando cidadãos americanos, mas recolhendo dados sobre ameaças estrangeiras-- tem o efeito oposto no exterior.
No Reino Unido, William Hague se viu forçado a negar que o GCHQ, serviço britânico de espionagem eletrônica, esteja usando os tentáculos da NSA no exterior para contornar as leis britânicas.
Na Austrália, o governo trabalhista está se contorcendo diante de questões sobre a investigação americana quanto a Julian Assange, que divulgou milhões de documentos secretos americanos pelo WikiLeaks e agora está refugiado na embaixada equatoriana em Londres por medo de ser julgado nos Estados Unidos.
O prolongado processo de perseguição, extradição e encarceramento de pessoas como Snowden e Assange tem o potencial de agravar a desilusão em relação ao complexo de inteligência militar americano. Para quem quer que valorize o poder gerado pela comunidade "cinco olhos" de nações, isso só pode ser má notícia.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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