sábado, 15 de junho de 2013

Folha de S.Paulo - Poder - Outra visão - 11/06/2013

Folha de S.Paulo - Poder - Outra visão - 11/06/2013
Janio de Freitas
Outra visão
Há duas inflações: uma real, indesejável mas suportável, e outra que é originária de intenções políticas
Os entrevistados e os que escreveram sobre a queda de oito pontos na avaliação positiva de Dilma Rousseff, constatada pelo Datafolha, expõem uma visão peculiar em dois sentidos. Primeiro, e mais importante, no que se pode ter como a unânime (sem os petistas) visão de um significado de extrema força, na perda. Segundo, pela maneira também unânime como a inflação é vista nas avaliações, um fato com consequência política, mas sem antecedente político.
Por um gráfico da Folha de ontem, via-se que Fernando Henrique chegou aos dois anos e meio do primeiro mandato com avaliação de presidente ótimo/bom por 39% dos entrevistados. Lula chegou aos primeiros dois anos e meio do seu governo com avaliação ainda mais baixa, de 36%. E com avaliação de regular e ruim/péssimo altíssima, somados, de 63%, contra sofríveis 58% de Fernando Henrique.
Mesmo com a perda de oito pontos em idênticos dois anos e meio do seu mandato, Dilma Rousseff ainda recebe 57% de conceito ótima/boa presidente. Mais 18 pontos do que Fernando Henrique e 21 acima de Lula. E, na soma dos conceitos regular e ruim/péssima, os seus 42% são 16 pontos menores que os de Fernando Henrique e 21 menores que os de Lula.
Ainda uma constatação curiosa: entre o Datafolha de março e o de agora, intervalo em que se registra a perda dos oito pontos, a opinião de regular e ruim/péssima sobre Dilma aumentou apenas um ponto, de 41% para 42% --na margem de erro, portanto.
Que efeito tiveram aqueles humilhados números de Fernando Henrique e de Lula na busca das respectivas reeleições? Rigorosamente nenhum. Nem mesmo algum efeito dificultante do processo de construção, nos meses seguintes, das duas vitórias.
A vantagem imensa de Dilma Rousseff na comparação com os dois antecessores não é uma promessa de vitória, se candidata à reeleição. Mas muito menos pode servir de base, a meu ver, quer para a dedução de perspectivas eleitorais sombrias já a esta altura, quer até mesmo de uma situação com tendência razoavelmente nítida de agravamento.
As deduções mais negativas correspondem, suponho, ao clima propagado nos meses em que se deu a perda dos oito pontos por Dilma. Pode-se dizer que, nos comentários todos, a inflação é a causa da perda. Ou a principal. A pesquisa contém indício claro nesse sentido. Mas o que a mim parece também claro é que não foi propriamente a inflação sentida, foi a inflação ouvida e lida. Posta nas cabeças pela artilharia com que os meios de comunicação fazem os índices vizinhos do limite, a tal "meta" estabelecida há meses, parecerem uma explosão inflacionária.
A luta por uma inflação domada tem perdido sucessivos rounds, mas não houve até agora, nem se mostra como provável, descontrole de fato assustador. Há duas inflações: uma real, indesejável mas suportável, e outra originária de intenções políticas.

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