sexta-feira, 21 de junho de 2013

O risco e a oportunidade da crise | Brasilianas.Org

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Comentário ao post "As manifestações de rua e uso oportunista da Copa"
Toda crise tem valor de sintoma e comporta duas faces: oportunidade e risco.
É inútil deplorar a crise. Cabe entendê-la e tentar administrá-la.
Pano de fundo: um estrangeiro oriundo de qualquer país europeu, que desembarque no Brasil pela primeira vez, ao se deparar com o cenário de disparidade social existente - mansões de um lado, mares de favelas de outro lado - perguntará a si mesmo, apavorado: "quando começa a insurreição popular? Aqui tem alguma religião, como na Índia, difundindo desapego ao mundo material e a ideia de que miséria é karma?"
Fecha parênteses.
Desde que o PT ganhou o governo federal, a grande mídia difunde uma versão da realidade exclusiva e seletivamente focada nas mazelas da vida política, nos descalabros, na corrupção...
Ah, a corrupção! Como a direita adora a corrupção! É pau pra toda obra: a) beneficia os que estão dentro dos esquemas - isto é, sobretudo, os mais ricos; b)serve de álibi diversionista para desqualificar antecipadamente qualquer proposta de redistribuição de renda e riqueza,  que exigiria, NECESSARIAMENTE, a taxação dos ricos (tudo menos isso!!!): "pagar imposto? pra quê, alimentar políticos corruptos?" c) fulanizada e denunciada de maneira seletiva pela grande mídia, a corrupção ajuda a desmoralizar os políticos do lado adversário - o que pode resultar numa desmoralização da política lato sensu, abrindo caminho, quem sabe?, para o velho e bom despotismo "esclarecido"... A direita suspira de saudades do regime militar!
A corrupção é a menina dos olhos da direita. Prova: a mesma mídia que martela dia e noite o mantra de que político é corrupto sabota toda medida capaz de efetivamente coibir a corrupção. Ninguém verá jamais um editorial dessa mídia apoiar um projeto de reforma política ou o fim do sigilo fiscal. (Na Noruega não existe sigilo fiscal... e, coincidência!, a corrupção é baixíssima!)
Então, a mídia conseguiu inculcar sua versão da realidade: a) político = ladrão; b) o Brasil vai de mal a pior.
Aí, o MPL acendeu o pavio. Talvez não soubesse quanta gasolina estaria incendiando.
Se os conflitos sociais não podem ser solucionados de maneira pacífica - isto é, pela via institucional - já que isso exigiria a interveniência dos políticos, e políticos são todos corruptos, por definição, então sobra o quê? Sobra a guerra civil.
"Sem partido! Sem partido!" Será que ninguém se dá conta das implicações dessas palavras de ordem?
Sem partidos, sobra apenas a ditadura. Levanta a mão aí quem tá a fim de ditadura!
Esse é o risco. E a oportunidade?
O PT, intimidado com os discursos antipolítica e antichavismo da grande mídia, escolheu a via da "gestão". Pensava que assim iria aplacar a direita e satisfazer os anseios dos mais carentes, esvaziando os conflitos de classe, atraindo os mais ricos para algum tipo de pacto social desenvolvimentista/distributivista.
Mas isso não funcionou. A direita continuou seu trabalho cotidiano, martelando dia e noite que o Brasil vai de mal a pior e que todo político é corrupto. O MPL acendeu o pavio, e agora, a bomba explodiu.
Está na hora dos políticos - sim, os políticos! - assumirem suas responsabilidades.
Os políticos de esquerda podem e devem entrar nesse debate, enquanto não for tarde demais.
Temos a oportunidade de aprofundar o processo de democratização da vida política e distribuição de renda e riqueza. A hora é já!

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