domingo, 4 de outubro de 2015

Krugman analisa o PSDB e o PMDB

Krugman analisa o PSDB e o PMDB 








Krugman analisa o PSDB e o PMDB

Postado por Juremir em 29 de setembro de 2015 - Uncategorized

A bancada da chantagem, também conhecida como Partido Republicano

Paul Krugman  

Paul Krugman/Folha de S. Paulo

John Boehner foi um presidente da Câmara terrível, horrível,
horroroso. Sob a liderança dele, os republicanos buscaram uma
estratégia sem precedente de obstrucionismo de terra arrasada, que
causou danos imensos à economia e minou a credibilidade dos Estados
Unidos em todo o mundo.


Mesmo assim, as coisas poderiam ter sido piores. E sob seu sucessor
quase certamente serão. Por pior que Boehner fosse, ele era apenas um
sintoma do mal por trás, a loucura que consumiu seu partido.


Para mim, o momento definidor de Boehner continua sendo o que ele
disse e fez como líder da minoria na Câmara no início de 2009, quando o
recém-empossado presidente Barack Obama tentava lidar com a recessão
desastrosa que teve início sob seu antecessor.


Havia e há um forte consenso entre os economistas de que um período
temporário de gastos deficitários pode ajudar a atenuar uma recessão
econômica. Em 2008, um plano de estímulo foi aprovado pelo Congresso
com apoio bipartidário e era forte o argumento a favor de um estímulo
adicional em 2009. Mas com um democrata na Casa Branca, Boehner exigiu
que a política seguisse na direção oposta, declarando que “as famílias
americanas estão apertando seus cintos. Mas elas não veem o governo
apertando seu cinto”. E pediu para que o governo fizesse “uma dieta”.


Foi uma posição econômica de quem não sabe nada e foi incrivelmente
irresponsável em um momento de crise. Há não muito tempo seria difícil
imaginar uma figura política importante fazendo uma declaração dessas.
Boehner de fato acreditava no que estava dizendo? Ou era apenas contra
qualquer coisa que Obama fosse a favor? Ou estava promovendo uma
sabotagem deliberada, tentando bloquear medidas que ajudariam a
economia, porque problemas econômicos seriam bons para as perspectivas
eleitorais republicanas?


Provavelmente nunca saberemos ao certo, mas esses comentários deram o
tom para tudo o que se seguiu. A era Boehner foi uma na qual os
republicanos não aceitaram nenhuma responsabilidade em ajudar a
governar o país, na qual se opunham a tudo e qualquer coisa proposta
pelo presidente.


Além disso, foi uma era de chantagem orçamentária, na qual ameaças
de que os republicanos paralisariam o governo ou o obrigariam a dar
calote a menos que a vontade deles fosse feita se tornou o procedimento
padrão.


No todo, os republicanos durante a era Boehner justificaram
plenamente a caracterização oferecida pelos analistas políticos Thomas
Mann e Norman Ornstein, no livro deles “It’s Even Worse Than You Think”
(“É ainda pior do que você pensa”, em tradução livre). Sim, o Partido
Republicano se transformou em um “insurgente isolado”, que é
“ideologicamente extremo” e ” impérvio ao entendimento convencional dos
fatos, evidências e ciência”. E Boehner não fez nada para combater
essas tendências. Pelo contrário, ele atendeu e alimentou o extremismo.


Então por que ele saiu? Basicamente, porque o obstrucionismo fracassou.


Os republicanos não conseguiram frear severamente os gastos federais,
que cresceram menos sob Obama do que sob George W. Bush, ou mesmo sob
Ronald Reagan. A fraqueza dos gastos contribuiu muito para a demora
para o país se recobrar da crise, provavelmente o maior motivo
individual para o retardamento da recuperação da recessão de 2007-2009.


Mas mesmo assim a economia se saiu bem o suficiente para Obama
conquistar a reeleição com uma maioria sólida em 2012, e sua vitória
assegurou que sua principal iniciativa política, a reforma da saúde
–aprovada antes dos republicanos assumirem o controle da Câmara–
entrasse em vigor no prazo, apesar das várias tentativas de Boehner para
derrubá-la. Além disso, a reforma da saúde está funcionando: o número
de americanos não segurados caiu acentuadamente enquanto os custos do
atendimento de saúde parecem estar sob controle.


Em outras palavras, apesar de todos os esforços de Boehner para
derrotá-lo, Obama parece cada vez mais como um presidente altamente
bem-sucedido. Para a base, que nunca considerou Obama como sendo um
presidente legítimo –pesquisas sugerem que muitos republicanos
acreditam que ele nem mesmo nasceu no país– isso é um pesadelo. E um
grande número de políticos republicanos ambiciosos está disposto a
dizer para a base que isso é culpa de Boehner, que ele não se empenhou
mais em chantagear.


Isso é tolice, é claro. Na verdade, a controvérsia em torno da
Planned Parenthood (organização que presta assistência à saúde da
mulher, de exames de HIV até aborto) que provavelmente provocou a saída
de Boehner –paralisar o governo em resposta a vídeos obviamente
manipulados?– serve como uma ilustração sob medida de quão loucos os
extremistas republicanos se tornaram, quão fora da realidade estão
sobre o que políticas de confronto podem realizar.


Mas os líderes republicanos que encorajaram a base a acreditar em
todo tipo de coisas inverídicas não estão em posição de começar a
pregar a racionalidade política.


Boehner está deixando seu cargo porque se viu pego entre os limites
do politicamente possível e uma base que vive em uma realidade própria.
Mas não chore por Boehner (ou com ele), mas sim pelos Estados Unidos,
que precisam encontrar uma forma de conviver com um Partido Republicano
enlouquecido.


Tradutor: George El Khouri Andolfato


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