sábado, 4 de junho de 2016

Com presidente interino e decorativo, quem realmente comanda o país? | GGN

Com presidente interino e decorativo, quem realmente comanda o país? | GGN

  O jornalista Fernando
Rosa observou um detalhe da conversa telefônica entre Sérgio Machado e
José Sarney e elaborou uma questão, que buscou responder em artigo no
blog Senhor X. “Nem Michel eles queriam”, disse Sarney. “Depois de uma
conversa do Renan muito longa com eles, eles admitiram, diante de certas
condições”. Quem são eles? Pergunta o jornalista.


Sarney parece falar da oposição, do
PSDB, mas Fernando Rosa diz que não. O PSDB não seria tão grande e tão
forte a ponto de dobrar à sua vontade o maior partido do país, o PMDB.
“A força do PSDB na negociação do golpe é a oferta de um programa que o
PMDB nunca teve em sua história. É a aliança econômica e financeira, o
apoio estratégico, a proteção diplomática dos Estados Unidos”, conclui o
jornalista.
Em sua opinião, “eles”, os “golpistas”,
são os Estados Unidos. “As pegadas dessa ampla articulação vende-pátria
estão todas por ai, nas informações que a mídia golpista não consegue
esconder. O centro do golpe é, sempre foi, desde os anos noventa, a
entrega da Petrobras, e, agora, do Pré-Sal aos americanos. Os Estados
Unidos não vivem sem energia, e ciclicamente promovem uma guerra para
garantir seu suprimento ‘de inverno’. O Brasil é a bola da vez”.
Abaixo, a íntegra do artigo:
Do Senhor X
Por Fernando Rosa
MACHADO –
(…) A gente pode tentar, como o Brasil sempre conseguiu, uma solução não
sangrenta. Mas se passar do tempo ela vai ser sangrenta. (…) Outra
coisa que é importante para a gente, e eu tenho a informação, é que para
o PSDB a água bateu aqui também. Eles sabem que são a próxima bola da
vez.
SARNEY – Eles sabem que eles não vão se safar.
MACHADO – E
não tinham essa consciência. Eles achavam que iam botar todo mundo de
bandeja… (…) Tem que construir uma solução. Michel tem que ir para um
governo grande, de salvação nacional, de integração e etc etc etc.
SARNEY- Nem
Michel eles queriam, eles querem, a oposição. Aceitam o
parlamentarismo. Nem Michel eles queriam. Depois de uma conversa do
Renan muito longa com eles, eles admitiram, diante de certas condições.
A verdade é dura, mas não é apenas para
Rede Globo que apoiou a ditadura. É também para o provisório-golpista
Michel Temer. De vice-presidente “decorativo”, passou a presidente
“decorativo”. Agora, com direito a coleira de pescoço com a inscrição
“Eles”. O “presidente” que “eles” não queriam.
Mas, deixando de lado as coisas menores,
vamos ao que interessa. Afinal de contas, quem são os “eles” citados no
diálogo entre Machado e Sarney? Digamos, inicialmente, que se trata do
PSDB, de Serra e sua turma. Aqueles que, segundo Machado, “achavam que
iam botar todo mundo de bandeja”. Que iam se safar das denúncias de
corrupção, como, de certa forma. acontece até hoje com Aécio Neves.
Mas, considerando que Temer era o
vice-presidente, qual a força “deles” para impor condições na negociação
do golpe? A ponto de Machado dizer que “eles só admitiram (Michel)
diante de certas condições – “depois de uma conversa do Renan muito
longa com eles”? Aí reside o “x” da questão: quem são “eles”, de fato. E
quais seriam essas misteriosas “certas condições”.
“Eles” não são apenas o PSDB,
principalmente o PSDB de Aécio Neves. Esse, apesar de voluntarioso, caiu
em desgraça por falhar no primeiro assalto do golpe. Aliás,
considerando esse fato, qual a força “deles”, pensando apenas no PSDB,
para definir as condições do golpe? O que deu ao PSDB tanta força para
exigir de Renan, segundo Machado, tamanho esforço para convencê-los?
O plano “A” era ganhar a eleição, em
2014. Para isso, armaram a Lava Jato, a partir das escutas da NSA, e
insuflaram a “primavera árabe” de 2013. Queriam Dilma igual Cabral, no
Rio, um cadáver – político – insepulto. Mas perderam quando Dilma reagiu
à Veja às vésperas da eleição. E também foram derrotados pela esquerda e
pelos movimentos sociais, que reagiram.
Ao mesmo tempo, miraram toda a
artilharia de criminalização seletiva da Lava Jato para paralisar o PT.
E, com isso, carrear a grana da corrupção para eleger um Congresso
Nacional totalmente submetido, que aprovasse suas propostas. No comando
dessa parte da operação, o deputado Eduardo Cunha pagando “criação” de
partidos e financiando campanhas de deputados em todo o país.  O voto
“comprado” para servir ao frustrado governo, acabou sendo usado para
aprovar a admissibilidade do impeachment.
Assim como Eduardo Cunha, outro
personagem agiu nas sombras, e somente agora dá as caras. É o atual
Ministro das Relações Exteriores, José Serra, artífice do golpe desde
sempre. Engana-se quem acha que Eduardo Cunha é “parceiro” de Temer no
golpe. Ao contrário, ele é aliado de José Serra, e juntos, mantém Temer
refém, “diante de certas condições”, como disse Sarney.
Voltando a “eles”, que impõem condições
ao PMDB, maior partido do Brasil, chegamos ao já citado “x” da questão.
“Eles” é mais do que o PSDB, mais do que o Serra, do que FHC, mais do
que o poder do partido – sempre lembrando, derrotado nas eleições.
“Eles” é a aliança ideológica, estratégica e também concreta “deles” – o
PSDB e os interesses geopolíticos norte-americanos.
A força do PSDB na negociação do golpe é
a oferta de um programa que o PMDB nunca teve em sua história. É a
aliança econômica e financeira, o apoio estratégico, a proteção
diplomática dos Estados Unidos. E também a ilusão vendida de que, com
isso, Temer conseguiria construir um “governo de salvação nacional”.
“Unir a Nação”, sonhava o provisório-golpista em seu áudio vazado,
anunciando a traição.
As pegadas dessa ampla articulação
vende-pátria estão todas por ai, nas informações que a mídia golpista
não consegue esconder. O centro do golpe é, sempre foi, desde os anos
noventa, a entrega da Petrobras, e, agora, do Pré-Sal aos americanos. Os
Estados Unidos não vivem sem energia, e ciclicamente promovem uma
guerra para garantir seu suprimento “de inverno”. O Brasil é a bola da
vez.
Não por acaso o senador José Serra é o
autor da lei que altera de partilha para concessão o regime de
exploração do Pré-Sal. O governo-provisório-golpista já acabou com o
Fundo Soberano advindo da exploração do Pré-Sal. O novo presidente da
Petrobras já anunciou a venda de ativos da empresa. O próximo passo é
retirar a Petrobras e o governo brasileiro da exploração do petróleo
nacional.
Também não foi apenas devido às
circunstâncias que, logo após o afastamento da presidenta Dilma, o
senador Aloysio Nunes, do PSDB, foi correndo para Washington. Dizendo
que ia conversar com senadores  americanos, na verdade foi encontrar-se
com o “terceiro homem” do Departamento de Estado dos Estados Unidos. O
resultado imediato foi a troca do embaixador americano no Brasil.
Finalizando, como disse o cientista
Miguel Nicolelis, estamos sofrendo dois golpes, ou um “um golpe dentro
do golpe”. Um golpe articulado por “eles” que tem como hospedeiro o
PMDB, agora alvo “deles”. “Eles” querem ter a segurança de mandar
completamente no governo. Para isso, fragilizam o “velho” PMDB de Sarney
e Renan e tornam Temer seu refém. Temem que pelo menos parte do PMDB
não aceite pagar o preço de tamanha traição ao país? “Eles” não podem
sofrer outro revés, como nas eleições passadas. É muita grana investida.
“Eles” já entenderam que, se não tem
mais volta em sua aventura golpista, também o povo está disposto a não
aceitar um golpe tão baixo quanto esse. “Eles”, com o PSDB à frente,
 avançam no desmonte do Estado, da infra-estrutura, da defesa nacional,
dos programas sociais. O povo, como nas eleições de 2014, resiste aos
ataques e se levanta nas ruas, impondo derrotas aos golpistas. Mas o
futuro é incerto, diante da profundidade do ataque à Nação brasileira.
É preciso denunciar o golpe, como vem
sendo feito, e trabalhar para devolver a presidente Dilma ao poder e o
voto aos brasileiros. Mas isso, diante da guerra geopolítica em curso, é
insuficiente para barrar os golpistas. Não é de graça que o novo
embaixador americano designado vem do Afeganistão e é “especialista em
conflitos”. A sociedade brasileira precisa avançar em sua consciência
nacional, ampliar as alianças sociais, econômicas e políticas. É o
direito do Brasil ser uma Nação que está em jogo.

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