Tá difícil ser presidente no Brasil
O pobre leão está sozinho contra um exército de carniceiros
A vida não está fácil pra Bolsonaro, esse leão cercado por hienas de todo lado.
O pobre felino está sozinho contra um exército de carniceiros, dentre
os quais a ONU, o STF e a Jovem Pan. Seu único amigo, um leão de nome
Conservador Patriota (que nome pra um leão), parece ter se esquecido
dele. É assim que o presidente está se sentindo —ou pelo menos é assim
que ele diz no Twitter que está se sentindo, o que dá mais ou menos no
mesmo. Ou não. Talvez seja assim que o seu filho acha que ele tá se
sentindo, o que dá mais ou menos no mesmo, porque deve ter sido ele que
disse pro filho que se sentia assim.
Desde que Bolsonaro postou esse vídeo, todo
cidadão brasileiro se perguntou a mesma coisa: o que foi que eu fiz de
errado pra não estar entre as hienas? Gosto de tudo no vídeo. Gostei de
descobrir que ele acha que está sendo perseguido pela Jovem Pan, de que
ele acha que a ONU quer comer sua carniça, de que ele vê o eleitor
patriota e conservador como um leão macho e imponente que há de surgir
no horizonte.
O sujeito está no cargo mais alto do
país, goza de cartão corporativo infinito e foro privilegiado, e ainda
assim vê a si mesmo como um pobre felino em extinção, abandonado por
todos. Peço que faça um esforço pra imaginar como se sente Natália, do
Piauí, medalhista da Olimpíada de Matemática, que ganha R$ 100 por mês
do MEC e deve ter sua bolsa cortada.
A única palavra que me vem à cabeça é um
conceito caro ao presidente: vitimismo. Nada mais adequado pra
classificar sua estratégia do que essa palavra que o próprio costuma
usar contra o movimento negro, feminista ou LGBT. Afinal a mulher que
denuncia o marido está sendo vitimista. O negro que quer reparação
histórica pela escravidão tá fazendo mimimi. Quem reclama de homofobia
num dos países que mais mata homossexuais tá sendo coitadista.
Só quem sofre mesmo, ao que parece, é o homem branco, hétero, rico, idoso e amigo de miliciano. Ninguém conhece a dor de não poder indicar o filho para uma embaixada,
ninguém entende o sofrimento da sua esposa que não pode nem receber R$
40 mil do motorista sem levantar suspeita, ninguém imagina o sofrimento
de ter o vizinho de condomínio preso sob acusação de assassinato de uma vereadora, que por acaso era sua inimiga política.
Se tá difícil ser cidadão no Brasil, imagina ser presidente. Não dá tempo de postar foto de biquíni.
Publicado em Gregório Duvivier|Folha de São Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário