quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Tá difícil ser presidente no Brasil

Tá difícil ser presidente no Brasil

O pobre leão está sozinho contra um exército de carniceiros
A vida não está fácil pra Bolsonaro, esse leão cercado por hienas de todo lado. O pobre felino está sozinho contra um exército de carniceiros, dentre os quais a ONU, o STF e a Jovem Pan. Seu único amigo, um leão de nome Conservador Patriota (que nome pra um leão), parece ter se esquecido dele. É assim que o presidente está se sentindo —ou pelo menos é assim que ele diz no Twitter que está se sentindo, o que dá mais ou menos no mesmo. Ou não. Talvez seja assim que o seu filho acha que ele tá se sentindo, o que dá mais ou menos no mesmo, porque deve ter sido ele que disse pro  filho que se sentia assim. 
Desde que Bolsonaro postou esse vídeo, todo cidadão brasileiro se perguntou a mesma coisa: o que foi que eu fiz de errado pra não estar entre as hienas? Gosto de tudo no vídeo. Gostei de descobrir que ele acha que está sendo perseguido pela Jovem Pan, de que ele acha que a ONU quer comer sua carniça, de que ele vê o eleitor patriota e conservador como um leão macho e imponente que há de surgir no horizonte.
O sujeito está no cargo mais alto do país, goza de cartão corporativo infinito e foro privilegiado, e ainda assim vê a si mesmo como um pobre felino em extinção, abandonado por todos. Peço que faça um esforço pra imaginar como se sente Natália, do Piauí, medalhista da Olimpíada de Matemática, que ganha R$ 100 por mês do MEC e deve ter sua bolsa cortada.
A única palavra que me vem à cabeça é um conceito caro ao presidente: vitimismo. Nada mais adequado pra classificar sua estratégia do que essa palavra que o próprio costuma usar contra o movimento negro, feminista ou LGBT. Afinal a mulher que denuncia o marido está sendo vitimista. O negro que quer reparação histórica pela escravidão tá fazendo mimimi. Quem reclama de homofobia num dos países que mais mata homossexuais tá sendo coitadista.
Só quem sofre mesmo, ao que parece, é o homem branco, hétero, rico, idoso e amigo de miliciano. Ninguém conhece a dor de não poder indicar o filho para uma embaixada, ninguém entende o sofrimento da sua esposa que não pode nem receber R$ 40 mil do motorista sem levantar suspeita, ninguém imagina o sofrimento de ter o vizinho de condomínio preso sob acusação de assassinato de uma vereadora, que por acaso era sua inimiga política. 
Se tá difícil ser cidadão no Brasil, imagina ser presidente. Não dá tempo de postar foto de biquíni.
 
Publicado em Gregório Duvivier|Folha de São Paulo

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