terça-feira, 1 de outubro de 2019

Grandes capitais brasileiras estão ameaçadas pelo aquecimento global



Grandes capitais brasileiras estão ameaçadas pelo aquecimento global

Cidades como Porto Alegre, Rio de Janeiro e Recife terão problemas críticos caso temperatura aumente



Robert Muggah 
 
Quer os políticos do Brasil acreditem ou não, o aquecimento global é um fato. Existe um perigo de que, enquanto os dados climáticos são questionados, as populações brasileiras sejam deixadas despreparadas para atenuar e se adaptar aos efeitos catastróficos que já estão em andamento.
Mais de 80% dos brasileiros vivem a algumas centenas de quilômetros da costa do país, mas poucas cidades desenvolveram estratégias e mecanismos financeiros abrangentes para lidar com o aumento do calor, a escassez de água e o aumento do nível do mar. A menos que o Brasil comece a agir agora, milhões enfrentarão a morte, deslocamento forçado e inúmeras dificuldades.
Uma das consequências mais perigosas das mudanças climáticas é o aquecimento dos oceanos e o derretimento do gelo do mar. Aproximadamente 70% da superfície do mundo é coberta por oceanos.
O último relatório do IPCC, divulgado na última semana, oferece as informações mais abrangentes publicadas até agora dos impactos das mudanças climáticas nos oceanos, nas geleiras e nos mantos de gelo. O prognóstico é terrível: os oceanos estão sofrendo um aquecimento dramático e se tornando mais pobres em oxigênio.
A menos que as emissões de gases de efeito estufa e as temperaturas globais sejam intensamente reduzidas nas próximas décadas, os ecossistemas marinhos podem entrar em colapso e as comunidades costeiras podem ficar submersas.
Até recentemente, as dimensões dos impactos das mudanças climáticas nos oceanos não eram totalmente compreendidas. A atenção estava concentrada nas consequências que eram mais perceptíveis no curto e médio prazo —secas, incêndios e perda de biodiversidade na terra. Mas à medida que as geleiras derretem e os oceanos esquentam, o nível do mar sobe.
A escassez de água também está no horizonte devido à diminuição do gelo, inclusive no Himalaia, terceiro maior polo do mundo. Os sinais do colapso se tornam cada vez mais evidentes. Ondas de calor marinhas estão se tornando mais frequentes. Tendo mais do que duplicado em incidência desde os anos 1980, elas devem se tornar de 20 a 50 vezes mais frequentes nesse século.
Populações de peixe já estão migrando para longe de seus criadouros naturais e patógenos estão se espalhando e infectando populações de mariscos.
As implicações do aquecimento do oceano na segurança alimentar são terríveis. O crescimento da acidez nas águas está destruindo ecossistemas delicados, dificultando o crescimento de corais e mariscos. Os frutos do mar representam cerca de 17% da proteína do mundo e milhões de pessoas dependem da pesca para sobreviver. A indústria da pesca já está sob pressão, com muitos sendo forçados a reduzir cachês para permitir que o estoque se reconstrua.
O aumento do nível do mar também gerará um movimento migracional sem precedentes. A última estimativa aponta que cerca de 200 milhões de pessoas serão deslocadas forçadamente pelo clima até 2050, grande parte vindo de comunidades costeiras expostas a inundações.
Mas não apenas pessoas serão forçadas ao deslocamento, cidades inteiras também. Municípios como Porto Alegre, Florianópolis, Rio de Janeiro, Recife e Belém enfrentarão ameaças críticas caso a temperatura global aumente 2ºC e estarão submersas caso aumente 4ºC.
Embora muitos desses impactos sejam inevitáveis, existem caminhos para diminuir o dano das mudanças climáticas nos oceanos e nos seres humanos em geral. O requisito mais fundamental é que os países cortem a emissão de gases estufa e limitem o crescimento da temperatura global em menos de 2ºC.
Isso não impedirá que recifes de corais sejam devastados ou que o nível do mar aumente, mas pode reduzir danos. No Brasil, as vastas reservas de óleo, refinarias e incêndios florestais maciços geram bilhões de toneladas de gases de efeito estufa por ano.
O país precisa urgentemente estabelecer uma meta para descarbonizar e reduzir as emissões antes que seja tarde demais. Também precisa preparar suas cidades e populações costeiras para as próximas tempestades.

Robert Muggah é diretor de Pesquisa do Instituto Igarapé.

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