A direita percebe seus monstros. Tarde demais?
A Veja desta semana dedica sua capa à “Ameaça Bolsonaro”.
O Globo ocupa grande parte de sua homepage com protestos contra a interdição moralista nas artes e no comportamento.
O Estadão protesta, em editorial, contra o fato de o
Supremo, em nome da moralidade eleitoral, ter rasgado a Constituição e
criado a “retroatividade” da Lei da Ficha Limpa até o início dos tempos
bíblicos.
Estará a nata da direita brasileira renegando seus filhos pavorosos?
Como no velho conto de Monteiro Lobato, O mata-pau, o
que eram um raminhos aparentemente inofensivos, bons para vergastar o
governo democrático, envolveram o Brasil e são hoje lenhos vigorosos,
que já nos constringem e ameaçam sufocar o que resta de nossas
liberdades.
Sim, não é exagero falar em liberdades quando se vivem situações como
a da mãe e filha, em Brasilia, terem sido agredidas por estarem
abraçadas, ou quando se dirigem os prazos de um processo judicial para
tirar dele o franco favorito dos eleitores, ou quando se admite que a
deduragem de qualquer histérico leve à censura, ou quando a simples
nudez – até nos museus, onde habita há séculos – seja castigada por
hordas hipócritas, moleques financiados pelos negocistas de mercado.
Um país onde se aplaude a morte desesperada de um professor aviltado
em sua honra e dignidade, com base num imbecil “quem não deve não
teme”, como se a das feridas fundas não ficassem cicatrizes indeléveis.
Em quatro anos, aqueles inofensivos raminhos dos “20 centavos”, do
“blacbloquismo como tática”, do “padrão Fifa”, dos “bundinhas”
moralizadores de Curitiba, com o esterco da frustração
político-eleitoral da direita e o sol da mídia a nutri-los, tornaram-se
galhos grossos, fortes, porque se permitiu transformar o ódio, a
vingança, a prisão, a perseguição nos valores sociais.
Levaram ao governo uma quadrilha da pior espécie, sem qualquer
discurso ou programa que não seja o de fazer dinheiro e se acobertar.
Fuçam e reviram tudo, atrás de qualquer coisa que sirva para apontar
como sujo e corrupto qualquer coisa que possam, para alimentar com a
seiva do veneno as mentes miúdas dos vira-latas de todas as classes e
rendas que acham o Brasil “uma merda mesmo”, a ser conduzida mais
velozmente nesta corrente de ódio que inunda o mundo.
Usam a (in)segurança pública como combustível de um processo de
transtorno da mentalidade social, como se registra hoje na Folha, onde
se vê a alta penetração de ideia de que “a maioria de nossos problemas
sociais estaria resolvida se pudéssemos nos livrar das pessoas imorais,
dos marginais e dos pervertidos”. E quem os classifica assim? Cada vez
mais a polícia, para a qual está
prestes a ser aprovado na Câmara projeto que lhes permite “acesso
irrestrito a dados pessoais de qualquer cidadão brasileiro”.
Assim mesmo, sem ordem judicial ou qualquer senão. ” Em benefício da
segurança pública, o cidadão não pode alegar que vai ter sua privacidade
invadida quando na verdade a lei é feita para proteger o bom cidadão,
não para o mau cidadão”. Qualquer PM, com isso, será Deus, para decidir
que é o bom, quem é o mau.
Não podem, portanto, reclamar de que estejam surgindo estas monstruosidades.
Os que têm ideias liberais, se é que ainda existem, se tivessem
alguma lucidez a restar em suas mentes agora varridas de todo o
humanismo que o impregnou (verdade que faz tempo) entenderiam que
estão prestes a destruir a única muralha que nos separa da barbárie e do
fascismo.
Se impedirem que o povo brasileiro expresse no seu voto o desejo de
voltar aos tempos de normalidade, de convívio, de algum grau de
esperança no progresso e no bem-estar, só o que lhes aguarda é o abraço
do mata-pau.
Não importa se de topete, toga ou farda, o que terão nem mesmo será um Führer.
Será a selva, a morte, a destruição de um país que se construiu, com
erros e acertos, em 500 anos e ameaça ser destruído em apenas cinco
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