terça-feira, 3 de outubro de 2017

Não foi fraqueza, foi fascismo

Não foi fraqueza, foi fascismo. Por José Sardá* - TIJOLAÇO | 



Não foi fraqueza, foi fascismo. Por José Sardá*




Durante o velório do reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo, no final da tarde de hoje (ontem),
no hall da Reitoria da UFSC, uma dedução predominou: nem durante a
ditadura militar a Universidade foi tão chacoteada como agora pela
justiça federal e Polícia Federal. A vice-reitora Alacoque Erdmann,
resumiu a tragédia: “Luiz Carlos Cancellier deu seu sangue pela UFSC”.


Sim, claro. Na entrevista que concedeu há cerca de uma semana, Luiz Carlos afirmou a Moacir Pereira: nunca fui tão humilhado.


Vamos refletir. O reitor foi preso e conduzido à penitenciária da
Agronômica, igualado a bandidos e corruptos, sob a acusação de ter
obstruído a investigação judicial. Nenhum reitor foi sequer admoestado
durante a ditadura e hoje estamos assistindo à prepotência do
judiciário, que se acha no direito de governar a Nação pela imposição de
julgamentos pessoais ou de grupos de circunstâncias sociais e políticas
brasileiras.


O que é obstruir a justiça? Ora, há bandidos governando dentro de
penitenciárias o tráfico de drogas no Brasil, e a justiça entende que o
reitor pode obstruir as ações de investigação dentro da UFSC.
Cinematográfico ou circense?


Conheci Luiz Carlos em 1981, quando foi iniciar sua vida jornalística em O Estado.
A sua jornada foi brilhante. Paralelo ao jornalismo, cursou Direito e
ingressou na carreira de professor, crescendo como diretor do
Departamento Jurídico e diretor do Centro de Ciência Jurídicas da UFSC.
Há cerca de dois anos, em um encontro casual, ele me confessou: “vou
trabalhar por um candidato a reitor que recupere a dignidade da UFSC”. O
seu movimento culminou com uma decisão consensual de apoio ao seu nome.
E ele se elegeu com sinais vitoriosos de mudanças.


Aos poucos, ao lado da professora Alacoque Erdmann, Luiz Carlos
restaurou o clima de diálogo, reciprocidade de confiança e de relações
com a sociedade.


De repente, é preso, como em uma situação de guerra, de ditadura.
Levado à Penitenciária da Agronômica, Luiz Carlos perde-se na agressão a
um mandato que deveria ser, sobretudo, considerado pela autonomia e
respeitabilidade de uma universidade. Mas, não. Dane-se a instituição! O
que vale são os novos princípios da justiça e da Polícia Federal, que
poderiam ter exigido de Luiz Carlos o comparecimento a uma audiência,
prestação de provas, etc.etc. Mas, não. Preferiram humilhá-lo, ou seja,
dizer-lhe que a justiça e a PF estão bem acima das instituições de
ensino. Ou seja, uma caça a bruxas como se toda a Nação precisasse
provar que não é corrupta. Do geral para o particular, todo o brasileiro
é por natureza corrupto. E viva a autoridade judicial e policial que
tem os holofotes e aplausos populares.


Até que prove o contrário, Luiz Carlos, o Cao, não suportou a humilhação, tanto a ele quanto à UFSC.

Sintam-se como Cao: a imprensa dizendo que ele estava sendo acusado de
desvio de recursos. Aliás, os jornais Folha de S. Paulo e O Globo, e
seus sites de hoje, repetem isso ao anunciar a sua morte.


Não se trata de fraqueza humana, mas, sobretudo, de uma defesa – quem
sabe frágil – da sua moral, dignidade e do direito que a PF e a justiça
não lhe concederam, de provar a sua inocência antes de ser jogado numa
prisão, na mesma vala de Eduardo Cunha, Joesly Batista, etc.etc.etc.


A ditadura de hoje não é militar. É judiciária. O desembargado Lédio
Rosa tem razão: “Mataram meu amigo Cao. E não haverá responsável. Isso é
fascismo da pior espécie”.


*
Laudelino José Sardá é jornalista e professor da Unisul, Universidade
do Sul de Santa Catarinae publicou o texto em seu Facebook.

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