quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Para pensar: Nem santa, nem freira

Lava Jato não é santa, nem Lula é freira em prostíbulo

POR MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
Não é difícil considerar que a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha sido a consequência presumível de uma conspiração iniciada tão logo o senador (ainda senador, não?) Aécio Neves viu-se derrotado em sua cozinha mineira por Dilma Rousseff. Uma das mais medíocres personagens políticas que o Brasil já levou à Presidência da República, a petista foi  legitimamente eleita após uma campanha em que certamente mentiu (mas quem não?) ao prometer, sem poder cumprir, a continuidade das benesses que a maioria dos eleitores identificava como fruto do melhor ciclo petista.
Sua deposição foi provocada por supostos crimes contábeis, considerados bem mais graves pela articulação dominante do que a “armação” que o  atual presidente (“tem que manter isso, viu”) apontou nas duas denúncias por corrupção apresentadas pela PGR contra ele. Conjunto da obra por conjunto da obra, difícil perder historicamente para a turma que votou pelo impeachment.



Não há como contestar as inclinações político-ideológicas da Lava Jato –tampouco seus acertos.
Foi e é indefensável a decisão do ministro Gilmar Mendes (essa caricatura “bem preparada”, e por isso mesmo mais deplorável, do nosso fetiche bacharel-farsesco a serviço do “establishment”)  de aniquilar numa penada a cristalina prerrogativa constitucional de o Executivo designar um ministro (Lula para a Casa Civil) –e em rápida sequência do constrangedor e espetacular abuso constitucional cometido intencionalmente pelo juiz Sergio Moro ao divulgar um áudio da presidente da República.
Moro, santamente, pediu desculpas ao STF e ficou santamente por isso mesmo. Em qualquer país sério, seria pênalti passível de cartão vermelho.
Depois desse episódio, nada poderia ser recebido como surpresa em matéria de vamos retirar o PT da sala.
Posto isso,  o petismo  não melhora muito as coisas. O PT, lamento dizer, roubou como gente grande e se aliou com o pior que existe na política brasileira, como bem prova (nesse caso, prova irrefutável) a escolha, em duas eleições, de seu vice-presidente.
A esquerda brasileira perdeu o bonde da história e cegou-se com o poder. Vive no contexto ideológico de meados do século 20 e continua incapaz de fazer autocrítica por modesta que seja. Nada de novo nesse front.
A direita e a “mídia”, eis as grandes culpadas pelos erros e fracassos estrondosos cometidos pelo petismo e seus aliados de direita, fisiológicos, bíblicos e patrimonialistas.
Lula, aliás, já tinha dito em 2015 que  o PT precisava de uma revolução: perdera a utopia e só pensava em cargos e ganhar eleição. “Temos que definir se queremos salvar nossa pele, nossos cargos ou nosso projeto”, disse o líder há três anos. Ao que se vê, não salvaram nenhum dos três.
Grande parte do partido e de seus parceiros íntimos, como Sérgio Cabral (só para citar o corrupto ostentação brother de Lula, amigão de Copa e Olimpíada, nosso esportivo  Maluf à beira-mar), foi apanhada no exercício da mais deslavada corrupção (desculpe o udenismo, mas corrupção existe) contra o patrimônio público. O famoso desvio de dinheiro do povo. Bilhões. Declarados, aliás, por baixo, em balanço oficial da Petrobras. Para não falar do loteamento a serviço da rapinagem em outras estatais –que Lula, claro, não sabia.
– Ah, mas os tucanos não são corruptos também?
Bem, respondo: sim, ao que se observa, muitos –além do neto de Tancredo, já desmoralizado. Paulo Francis, aliás (waaaaal, I love this guy), denunciou a roubalheira na Petrobras durante o governo Fernando Henrique Cardoso, como se pode ver neste vídeo imperdível para quem não conhece essa história.
Mas, enfim, pergunto, a ideia não era acabar com isso?
– Ah, mas não dava, né? Tinha que manter a “governabilidade”…
Jura?
Lula não é inocente. Nem eu. Outros que mereciam condenação não serão jamais condenados? Certamente. Injustiça? Sim.
Nada disso, contudo, faz de Lula (e do PT) essa freira no prostíbulo.
Respeito muito suas lágrimas. E os fiéis, as crenças e as procissões.
Mas não tenho religião.
PS – Lamento também que esse veredito tenha contrariado as argumentações jurídicas de Reinaldo Azevedo, meu candidato a próximo ministro do STF.

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