O Descurvo: "FHC, o PT e o Povão
FHC esperneando por Chico Caruso
Recentemente, o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso escreveu um (longo) artigo intitulado o Papel da Oposição - o mesmo nome de um artigo dos anos 70 seu sobre o papel da oposição contra a ditadura militar, o que, por si só, já seria motivo para vergonha alheia, afinal de contas, não é mesmo disso que se trata o momento atual. Mas calma porque fica pior: FHC insiste no mesmo erro que seu partido tem caído desde o início do século, isto é, demonizar o PT em demasia e agir politicamente como se o seu discurso tivesse sido eficaz, o que aqui resulta em um efeito tragicômico, a saber: a realização de uma oposição ao governo que o PSDB, enquanto oposição, gostaria que o PT fizesse e não ao governo que realmente está no poder. O PSDB está sem programa desde que o arranjo que FHC se apresentou como fiador nos anos 90 deu errado; em 1998 só restou prometer a continuação da estabilidade monetária e em 2002 fazer o mesmo acusando Lula de ser um satã genérico - quando o eleitorado exigia desenvolvimento socioeconômico e a própria estabilidade monetária clamava por isso. De lá para cá, o partido tucano fez campanhas muito mais antipetistas do que propositivas e a grande causa de FHC dizer que seu partido deveria disputar a classe média e não 'povão' - para além do seu notório elitismo - é uma preocupação objetiva com o saldo da campanha eleitoral do ano passado: Serra teve uma votação grande em cima de um violento antidilmismo - que descambou para uma onda de intolerância perigosa -, mas nada agregou para seu partido na medida que não plantou nenhuma semente para o futuro. Como o Governo Dilma está, por meio do seu estilo de governo, da maneira como ela tem distensionado as relações com a classe média e de sua própria figura pessoal - que feliz ou infelizmente não desperta maiores preconceitos - conquistando apoio junto a esses setores, existe uma justificada preocupação sobre o espaço da já reduzida oposição; se o antipetismo for controlado nas camadas médias da sociedade, o que fazer no curto prazo? Como agir até quando (e se) o PSDB for desenvolver um programa? O que FHC quis dizer é que seu partido deve economizar energias defendendo o capital político que (ainda) tem e não partindo para o ataque - afinal, um contra-ataque aqui e agora seriam mortais -, a infelicidade da expressão em relação ao 'povão' é só um residual da sua forma aristocrática de ver o mundo - o velho ato-falho freudiano mais na forma do que necessariamente na matéria -, uma colateralidade da argumentação. No entanto, como em matéria de política não há perdão a resposta de Lula veio, literalmente, a cavalo num belo: 'Eu sinceramente não sei o que ele quis dizer. Nós já tivemos políticos que preferiam cheiro de cavalo que o povo. Agora tem um presidente que diz que precisa não ficar atrás do povão, esquecer o povão. Eu sinceramente não sei como é que alguém estuda tanto e depois quer esquecer do povão'. Bola levantada, bola cortada. A tentativa de emendar o soneto, claro, sempre é complicada: é complicado se pôr a defender que seu partido assuma a vanguarda 'do novo' e responder coisas duvidosas como 'Não sei como a oposição vai se desdobrar, porque depende do que o governo faça. Agora não dá pra tapar o sol com a peneira. Essa perda de substância do DEM não é boa, a menos que o novo partido se declare de oposição.' - ou o Novo ou o DEM, senhor presidente, os dois não. Para além de suas disputas internas sangrentas, o PSDB sofre uma grave crise programática e identitária, o que é uma das chaves para que possamos compreender a política brasileira contemporânea.
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