quarta-feira, 27 de agosto de 2014

A volta do parafuso -

A volta do parafuso -

A volta do parafuso


Por Luciano Martins Costa em 27/08/2014 na edição 813
Comentário para o programa radiofônico do Observatório, 27/8/2014















Os jornais de quarta-feira (27/8) se esbaldam com os números da
primeira pesquisa Ibope de intenção de voto feita após a morte do
ex-governador Eduardo Campos e sua substituição pela ex-ministra Marina
Silva na chapa do PSB. A tendência dos analistas é considerar que esse
retrato pode ser alterado nas próximas semanas, em função da propaganda
eleitoral na televisão e por conta de um novo posicionamento estratégico
dos candidatos Dilma Rousseff, do PT, e Aécio Neves, do PSDB, diante da
rápida ascensão da ex-ministra.
A imprensa também dá grande repercussão ao primeiro debate direto entre
os candidatos, transmitido na noite de terça (26) pela TV Bandeirantes.
As avaliações dos três principais jornais do país são muito parecidas, e
mostram como Marina Silva procurou se inserir como uma cunha na disputa
polarizada entre o PT e o PSDB, tentando consolidar-se como uma
“terceira via”. No entanto, segundo observadores credenciados pela
mídia, ela teve dificuldade para explicar como pretende reformar os
paradigmas da política com uma base partidária predominantemente
conservadora.
Analistas consideraram Dilma Rousseff mais segura que seus contendores,
dedicada a ressaltar números positivos de seu governo, apesar de ter se
transformado em alvo direto do bombardeio de todos os outros
participantes.
Aécio Neves é apresentado como tendo tido um desempenho mediano,
ocupado em se mostrar como o principal antagonista da atual presidente, e
baseou todos os seu ataques a Dilma Rousseff em temas exaustivamente
tratados pelos jornais.
Marina Silva, segundo os analistas, procurou se impor como protagonista
importante, mas começou o debate de forma tímida e confusa, ao tentar
capitalizar os protestos que ocuparam as ruas das grandes cidades
brasileiras no segundo semestre do ano passado. No fim, conseguiu se
inserir no centro do debate, mas ainda ficou a dever um esclarecimento
definitivo sobre como produziria uma “nova política” tendo como
candidato a vice-presidente um parlamentar apoiado por seus velhos
desafetos do agronegócio. De qualquer modo, há quem diga que a
ex-ministra apertou um parafuso no esquife da candidatura de Aécio
Neves.
O peso da mídia
Debates eleitorais pela televisão não têm o objetivo de esclarecer o
eleitor. Pelo contrário, quase sempre a intenção é criar confusão com
números e usar meias-verdades para constranger o oponente.
No caso em questão, é natural que o nome que aparece na liderança nas
pesquisas seja o alvo de todos os debatedores, e foi o que aconteceu.
Mas há uma nova dinâmica, mostrada pelo Ibope, o que potencializa
mudanças bruscas no cenário eleitoral. Por exemplo, embora a candidata
Marina Silva tenha se apresentado como aquela que vai reformar os modos
da política, as edições dos jornais de quarta-feira (27) insistem em
explorar as suspeitas de uso irregular de recursos por seu partido.
Os três principais diários de circulação nacional destacam investigação
da Polícia Federal dando conta de que o avião em que se acidentou o
ex-governador Eduardo Campos no dia 13/8 foi comprado com dinheiro de
empresas-fantasmas. Esse é o tipo de armadilha que se esconde no caminho
da ex-ministra.
Para consolidar o potencial de votos que aparece na pesquisa Ibope, ela
terá que manter a mística da heroína que pretende resgatar a moralidade
na política, convencer os cidadãos de que não será influenciada pelo
dinheiro que financia seu partido e ainda conquistar a confiança dos
eleitores de oposição que começam a abandonar o barco de Aécio Neves.
Além disso, precisa administrar os conflitos de interesse que a opõem a
seu candidato a vice, o deputado gaúcho Beto Albuquerque.
O principal trunfo de Marina Silva ainda é a herança idealista de seus
tempos de defensora da floresta, ao lado do seringalista Chico Mendes,
que cultivou como militante do Partido dos Trabalhadores. Aécio Neves
precisará reinventar sua estratégia, se quiser continuar no jogo. A
presidente Dilma Rousseff tem o desafio de estancar a evasão entre os
próprios simpatizantes do PT, que sentem saudade da inocência perdida.
De qualquer modo, embora tenha caído 4 pontos percentuais em relação à
pesquisa anterior, a avaliação positiva de seu governo cresceu 2 pontos,
o que mostra espaço para consolidar sua liderança.
Nessa situação volátil, aumenta o valor da propaganda eleitoral – que
tem em média quase quatro vezes o pico da audiência alcançada pelo
debate na TV Bandeirantes – e cresce a influência da mídia.

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