quarta-feira, 20 de agosto de 2014

O nazilacerdismo de Arnaldo Jabor

O nazilacerdismo de Arnaldo Jabor

O nazilacerdismo de Arnaldo Jabor


Por Miguel do Rosário



Ontem o dia começou difícil por causa do veneno injetado por Arnaldo
Jabor no debate público. Rasgando fantasias democráticas, ele faz um
discurso abertamente golpista, com uma defesa enfática da violência
política.



Ele diz que não se trata de uma eleição comum, mas de um embate entre democratas e não-democratas.



Igualzinho ao que falavam os golpistas de 64. Alguém deveria lembrar a
Jabor que a empresa para a qual ele trabalha pediu desculpas por apoiar o
golpe de 64.



Ora, pediu desculpas e, no ano em que se completam cinquenta anos do
golpe, volta a criminalizar a política exatamente como fez em 1964?



Há tempos que Jabor é golpista. Afinal, esta é a característica política
mais profunda, arraigada e orgânica da Globo, e ele é âncora do Jornal
da Globo, comentarista da CBN e colunista “mondo cane” do Segundo
Caderno.



Jabor é o porta-voz da Globo, assim como Reinaldo Azevedo é da Veja.



Dois black blocs da direita. Com todo o respeito aos black blocs, que são cordeirinhos perto dessas raposas.



O caso de Jabor, no entanto, me parece o mais grave, o mais patológico.



O seu artigo de hoje é um caso psiquiátrico de imaturidade própria de bilionários golpistas de terceiro mundo.



Jabor quer reviver o lacerdismo, mas lhe falta a autenticidade de Carlos Lacerda, que nunca negou a política.



Lacerda filiou-se a um partido, disputou eleição e depois cometeu o erro, trágico para ele mesmo, de apoiar o golpe de 64.



Recentemente, em entrevista para o programa de Nassif na TV Brasil, o
professor Wanderley Guilherme falou um pouco sobre Lacerda. Observou que o jornalista e político não era movido por ódio. O lacerdismo original tinha paixão, não ódio. Lacerda não era apenas um clown de segundo caderno. Foi governador, construiu escolas, fez túneis, articulava-se politicamente. Tinha seu próprio jornal.



Não era lacaio de nenhum barão da mídia.



Seu erro foi mergulhar de cabeça na onda de fascismo midiático que se
alevantou. Dava entrevistas nas quais falava todo o tipo de mentira e
grosserias contra o governo João Goulart. Lembro de uma, que li num
microfilme da Biblioteca Nacional, em que Lacerda afirma que Goulart
preparava um golpe bolchevique em 15 dias. Loucura total. O governo
Goulart não preparava nenhum golpe, quanto mais um golpe comunista.



A violência que assistimos hoje de setores midiáticos contra Dilma é a mesma que havia contra Vargas e Jango.



Jabor não disfarça o seu golpismo. Ele compara o PT a Jango e emula o discurso golpista de 1963 e 1964.



Fala de Vargas e Brizola, e diz que não precisamos de varguismo e brizolismo.



Precisamos de quê? De Margareth Tatcher? De Ronald Reagan?



O que precisamos hoje é exatamente Vargas e Brizola. Grandes lideranças
políticas, preocupados com o povo e que viveram, no inverno de suas
vidas, experiências democráticas vitoriosas para o conjunto dos
trabalhadores.



Ele fala em “desastre econômico”, o que nos faz voltar à guerra da informação.



Ora, não há desastre econômico nenhum.



O governo FHC, que Jabor louva tanto, entregou um país quebrado à Lula. A
dívida externa parecia impagável. O desemprego galopava. A inflação
estava várias vezes maior que agora. Éramos um país que devia ao FMI, ao
Banco Mundial, ao mundo inteiro, e hoje nós temos reservas de quase 400
bilhões de dólares e articulamos a criação de um banco internacional, o
banco dos Brics, que é maior que o BIRD e o Banco Mundial.



O desemprego é o mais baixo da história. Os salários, os mais altos.



Nunca houve tal quantidade de obras de infra-estrutura.



Que raio de desastre econômico é esse?



A mídia cria um Brasil paralelo, irreal, onde só acontece o que ela quer nos fazer acreditar que acontece.

Eu moro numa rua centenária e decadente do centro do Rio. Até pouco
tempo, mesmo sendo otimista em relação ao Brasil, não botava muita fé
nos destinos dessa parte do centro.



De um ano para cá, todavia, iniciou-se a construção de seis hotéis na
minha rua. Seis hotéis! Com empresas boas, do ramo. O projeto mais
próximo do meu prédio é um Íbis.



Considerando o quarteirão, são dezenas de obras, um barulho infernal que inferniza minhas manhãs outrora tranquilas.



Essa é a “crise que vivemos”.



Saí para dar uma caminhada hoje, e não parava de ouvir barulho de obras. O bairro inteiro está se transformando rapidamente.



De uns anos para cá, surgiram dezenas, centenas, de novas academias de
ginástica no bairro, salões de beleza, praticamente todos os bares
reformaram suas instalações, ou foram comprados por novos investidores.



Os anúncios de emprego nas paredes dos bares hoje é comum, e às vezes permanecem lá por semanas.

Ontem o Ministério do Trabalho divulgou o resultado do emprego formal
até 2013. Confirmamos a teoria de que a geração de empregos novos começa
a cair a partir de 2010, junto com a taxa de desemprego, pela razão
óbvia de que, com menos desemprego, há menos mão-de-obra ociosa para
gerar saldo de vagas.



Mesmo assim, houve um aumento em 2013 sobre o ano anterior, o que
reflete a entrada de gente no mercado de trabalho que já tinha desistido
de procurar emprego.

A mídia quer apenas fazer sensacionalismo com os problemas da saúde, mas
não mostra os avanços na área. Não há programas médicos respeitáveis em
nossa mídia, apesar de que, atualmente, a informação é fundamental para
se prever inúmeras doenças. O Ministério da Saúde, e as secretárias
estaduais, apenas conseguem veicular propagandas essenciais pagando
preços cheios das tabelas de publicidade.
Na entrevista de Dilma no Jornal Nacional, o ponto que eu mais gostei
foi quando ela fala de saúde pública. Num momento de interrupção de sua
fala por Bonner, a Dilma lembra do sistema público de ambulância, o
Samu, implantado nacionalmente pelo governo federal, ainda na gestão
Lula.
Dilma mencionou o Samu atropeladamente, porque os entrevistadores não a
deixavam falar. Ela conseguiu falar, porém, do Mais Médicos. Poderia ter
falado também do Brasil Sorridente.
Na minutagem, registrou-se que Bonner ocupou mais de 40% do tempo da entrevista, interrompendo e atacando a presidenta.
Ele e Poeta foram grosseiros com todos os candidatos. Mas com Dilma, a postura foi de ódio deliberado, explícito.
A primeira pergunta foi uma tentativa de explorar a principal vitória da
mídia contra o PT: o mensalão, um problema menor de caixa 2 que foi
ampliado para se tornar um grande caso de corrupção.
O maior do Brasil? O maior da história da república?
O julgamento do mensalão foi um golpe da mídia.
Não interessa se os juízes foram nomeados pelo PT. Eles se venderam à
mídia. Ayres Brito é um caso emblemático. Dias depois de sair da
presidência do STF, assinou prefácio do livro de Merval Pereira, o
colunista mais engajado na farsa que foi a Ação Penal 470. Em seguida,
obteve uma sinecura no instituto Innovare, que pertence à Globo.
Sobre Joaquim Barbosa, sem comentários. Melhor virar essa página.
O mensalão foi uma jogada genial da mídia, porque gerou um tensionamento
que radicalizou o debate. Os partidos envolvidos foram emparedados pelo
moralismo midiático, pela lógica de linchamento, pelo sensacionalismo
fascista.
A mídia promoveu uma injustiça e agora tenta faturar com as manifestações de protesto contra as arbitrariedades cometidas.
Mas Dilma se saiu bem, ao se eximir de fazer qualquer comentário, pois qualquer coisa que dissesse seria usada contra ela.
“Tenho minhas próprias opiniões, mas enquanto for presidente, não falarei nada”, defendeu-se.
À presidenta cabe evitar conflito entre Executivo e Judiciário.
A agressividade quase descontrolada dos entrevistadores soou risível.
Não é a primeira vez que Bonner age como cão raivoso diante de Dilma
Rousseff.
Dilma cresce sempre que é atacada diretamente.
A raiva hidrófoba de Bonner é a mesma que vemos em âncoras de
extrema-direita de TVs fechadas nos Estados Unidos, que dão suas
opiniões na Fox e concorrem a cargos políticos pelo partido republicano.
Mas que não entrevistam presidentes.
Sobre os programas que tiveram início hoje, evitarei comentários sobre
os de Eduardo Campos e Aécio. Sobre o primeiro, por respeito à tragédia.
Sobre o segundo, porque é ruim demais. Se o PSDB ganhar, será com a
força da Globo, não com a de seu marketing, pesado, opressivo,
apresentando um Aécio esquisitão, olhando o nada. Bem o tipo do qual
esperaríamos a implementação de medidas “impopulares”.
O de Dilma reflete um equilíbrio bem mais rico, mais delicado, entre
conteúdo e emoção, política e marketing, do que em 2010, provavelmente
em virtude de maior atenção da equipe para o debate nas redes sociais.
Entretanto, assistindo todos os programas, dei-me conta de uma coisa.
Por que os partidos não tem espaço o ano inteiro nas tvs abertas? Por
que as concessões públicas, que recebem bilhões de reais por ano em
recursos estatais, não dão espaço para os parlamentos, executivo,
judiciário, ministério público, sociedade civil, exporem seus projetos?
É necessário haver oposição, claro, e por isso mesmo cabe lhes outorgar,
às forças de oposição, autonomia para criticarem o governo diretamente,
sem o intermédio de mídias corrompidas ou ligadas, por laços de família
ou comerciais, a ocupantes de cargos políticos.
Aliás, em seu artigo, Jabor fala da aliança do PT com os oligarcas do
PMDB nordestino. Hipocrisia pura. Esses oligarcas só têm força porque
contam com o apoio da Rede Globo em seus estados. Muitos são donos de
canais de TV que repassam o sinal da Vênus.
Um dos políticos mencionados por Jabor, o senador Romério Jucá, líder do
governo até 2012, acaba de abrir seu voto: Aécio Neves. Todos os outros
representam setores políticos do conservadorismo aliados aos grandes
meios de comunicação. Não me espantaria nada se votassem todos em Aécio.
A direita brasileira, por medo do fantasma “bolivariano”, sempre se
aproxima da Globo e do PSDB.
Ingrato, esse Jabor. São justamente essas figuras que travam qualquer
debate sobre a democratização da mídia, e o fazem porque o status quo
lhes beneficia. Eles são donos ou amigos dos donos da mídia em seus
estados. São o lobby da Globo no Congresso.
O discurso contra o pessimismo de Dilma, por sua vez, só adquirirá um
sentido completo se ele se desdobrar numa crítica à falta de um sistema
de informação democrático. Só será compreendido plenamente pela
população, se for feito em conjunto com uma convocação para que
indivíduos e empresas tenham uma visão crítica da mídia, e procurem
formar sua opinião a partir de fontes variadas.
Entretanto, já ficou claro, para qualquer analista econômico, que as
profecias estão se auto-realizando. O nervosismo eleitoral, a
radicalização ideológica natural à polarização, travam decisões de
investimento. Momentos de polarização política cobram um preço alto, mas
passam.
Também não é difícil prever que, definido o resultado eleitoral, seja
qual for, os investimentos privados aumentarão com força, livres da
insegurança causada pelo terrorismo político e econômico da mídia.

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