Trump acaba com Bretton Woods. Novo sistema monetário internacional à vista. Dólar bichou.
Cesar Fonseca em 21/01/2017
TRUMPONICS EM TEMPO DE POBREZA AMERICANA E DO DÓLAR EM PERIGO
Tio
Sam empobrecido quer cuidar da vida dos americanos e largar a vida dos
aliados prá lá. Eis a nova estragégia do império em sua fase de
empobrecimento e decadência. Apelo ao nacionalismo e ao populismo contra
a globalização cujo custo extrapolou as forças de Tio Sam para
sustentá-lo, impondo sua vontade ao mundo. Pode pintar NOVO DÓLAR,
repeteco semelhante ao descolamento do dólar do ouro, em 1972, com
Nixon, para salvar moeda americana afetada pelo excessivo endividamento
governamental. Temer, aqui, no Brasil, com o entreguismo
antinacionalista, que se cuide. Vem aí bomba econômica.
Com Donald
Trump, chega ao fim era histórica, que começou no pós guerra,
responsável por levar os Estados Unidos a se transformarem no grande
império econômico do mundo.
Ao
dizer que a América vai elevar as tarifas de importação para criar
empregos lá dentro; que vai deixar de fortalecer os exércitos dos
outros, voltando-se para as forças internas; que vai tocar, prá valer, a
infraestrutura nacional, considerada por ele sucateada, para gerar
empregos nos Estados Unidos, no lugar de garantir seguro desemprego aos
desempregados; que vai, enfim, sinalizar, com essa orientação, nova
virtude ao mundo, como meta a ser alcançada, o novo presidente dá, na
prática, uma guinada de 180º nas regras de Bretton Woods, pelas quais
foram, depois da segunda guerra mundial, estabelecidas as base do
sistema monetário internacional ancorado no dólar.
Economicamente, falando, a partir de
Bretton Woods, o jogo de dominação mundial americano se deu pela
realização de déficits comerciais, de modo a salvar os aliados, europeus
e japoneses, principalmente, evitando serem engolidos pelo exército
vermelho comunista soviético.
Em contrapartida, o poderoso dólar,
emitido sem lastro, tendo como avalista o poder militar norte-americano,
garantia, através da geração de superávit financeiro, os déficits
orçamentários gigantes, de modo a pagar importações, com as quais os
aliados se recuperaram da devastação econômica no pós guerra.
De 1945 a
2018, durante 73 anos, essa jogada econômica, bancada pelo dólar e pelo
poder militar de Tio Sam, puxou a demanda global capitalista, na base do
keynesianismo econômico, tendo como alavanca a dívida pública
americana, hoje, na casa dos 22 trilhões de dólares.
Com
uma mão, Tio Sam jogava moeda na circulação, para irrigar o sistema
capitalista global; com a outra, enxugava parte da liquidez, emitindo
títulos da dívida americana, para evitar estouro monetário
hiperinflacionário.
A dívida pública foi, nessas sete
décadas, expressão total do poder imperial, embora, em diferentes
períodos, Washington, pressionado pelos déficits crescentes, tenha feito
correções de rumo, cujas consequências representavam, em vez de
solução, problemas, acúmulos, a velha saída do capitalismo de fugir prá
frente.
Nos anos 1970, diante do grande déficit
acumulado pela guerra do Vietnan, Nixon, descolou o dólar do ouro e
deixou a moeda flutuar.
Começava a instabilidade capitalista global.
Os bancos americanos e ingleses, ou
seja, o poder anglo-americano, super-capitalizados, jogaram dólar
adoidado pelo mundo afora, a juro de 3%, 4% ao ano.
A periferia capitalista, como o Brasil, naquela época, sob regime militar, nadou de braçada no endividamento público.
Com essa fartura de dólar barato, os
militares construíram a infraestrutura nacionalista autoritária apoiada
na expansão das empresas estatais, por meio das quais saia a garantia
aos bancos internacionais, que, depois, cobrariam privatizações delas,
na era FHC.
Em 1979, o Banco Central americano, comandado por Paul Volcker, puxou as taxas para 21% ao ano.
Quebradeira geral na periferia.
O poder
anglo-americano passou a impor o chamado Consenso de Washington aos
superendividados, tomando tudo, por meio de privatizações, arrochos
salariais, ajustes fiscais draconianos, espalhando pelo mundo leis de
responsabilidade fiscais aos governos, de modo que priorizassem
pagamento de dívidas aos bancos credores.
Entrou
em cena o neoliberalismo econômico para os endividados, a receita para
seguirem: metas inflacionárias, câmbio flutuante e superávits primários
elevadíssimos, bloqueando crescimento econômico.
Ao mesmo tempo, o Consenso de Washington
ampliou seu domínio internacional, determinando supressão de regras
financeiras prudenciais, liberando geral, para instalar a
financeirização econômica global.
O que fora fixado para conter a crise especulativa de 1929 era rasgado.
Os especuladores ficam totalmente
liberados para agirem, ou seja, assaltarem especulativamente as
economias periféricas, até que tudo foi aos ares na grande depressão de
2008.
Chegara ao limite a sobreacumulação de
capital especulativo, com os derivativos, como alternativa capaz de
garantir reprodução ampliada dos lucros por meio de expansão de
empréstimos garantidos por títulos das dívidas públicas governamentais.
O lucro passara a ser auferido na moeda,
na especulação, para compensar redução da lucratividade insuficiente
gerada na produção e no consumo, afetados pela ampliação das
desigualdades sociais, produtoras de subconsumismo em escala global.
A financeirização econômica levara à inviabilização das dívidas públicas dos governos como alternativa desenvolvimentista.
Os bancos
centrais, depois do crash de 2008, resolveram rasgar os livros de
economia ortodoxa com seus ensinamentos que deixaram de ser úteis ao
capitalismo.
A tese cara aos ortodoxos segundo a qual excesso de dinheiro produz inflação foi jogada no lixo.
Os BCs americano, europeu e japonês partiram para ampliação da oferta monetária para jogar a taxa de juro a zero ou negativa.
Desse modo puderam conter expansão da
dívida dos governos, das empresas e dos consumidores, a fim de abrir
espaço à recuperação econômica.
A convivência com a ortodoxia, no
entanto, não foi, totalmente, removida pelos agentes criados em Bretton
Woods, FMI e Banco Mundial, para gerir o sistema monetário ancorado no
dólar.
Ambos, em meio ao colapso das dívidas
públicas governamentais, aceitaram, a contragosto, a heterodoxia dos
bancos centrais dos países ricos, mas continuaram impondo aos BCs dos
países da periferia capitalista a velha receita dos ajustes fiscais que
perderam utilidade.
Nesse contexto de grande contradição, os
ricos não conseguiram sair satisfatoriamente das suas crises de
sobreacumulação de capital especulativo.
Por uma razão simples: insistiram em
impor aos países pobres a velha ortodoxia que elimina consumo, sem o
qual o capitalismo não sobrevive.
A atualidade de Marx voltava a impor-se: produção é consumo e consumo é produção, interagindo-se dialeticamente.
Entrou em colapso o comércio internacional e a instabilidade se expandiu.
Junto
com esta, emergiram crise políticas e pressões dos ricos para se
protegerem, como no caso americano, por meio de produção de guerras, sem
as quais as taxas de desemprego, por exemplo, nos Estados Unidos,
ampliam-se, colocando em risco o sistema capitalista.
A emergência de Trump é expressão da
explosão das contradições desse capitalismo ancorado em dívida pública
impulsionadora de guerra entre aliados poderosos(Otan) contra o resto do
mundo.
Diante do caos, o novo titular da Casa Branca instala a nova ordem, o Reinado de Murici, cada um por si.
Individualismo total.
Os Estados Unidos, sem condições de
expandir mais sua dívida pública, para sustentar a velha aliança e suas
respectivas regras fixadas em Bretton Woods, voltam-se para dentro, com
discurso nacionalista, populista.
Despacham os velhos aliados europeus,
que ficaram, no âmbito da Otan, muito caros para serem sustentados pelo
dólar, que não é mais aquela Brastemp.
Não é mais possível para Tio Sam,
superendividado, bancar o velho jogo econômico de produzir superávit
financeiro(déficit orçamentário), na moeda, via expansão monetária, para
bancar déficit comercial, via importações, de modo a fortalecer
aliados.
A capacidade de endividamento público dos Estados Unidos se esgotou.
Insistir nessa linha, seria jogar o dólar no chão.
O que Washington, pelo visto, tentará fazer é o contrário, valorizar o dólar, puxando os juros.
Mas, aí, pintaria outra contradição: juro alto impacta a dívida pública e prejudica o próprio dólar.
Se com o juro zero foi possível evitar a
crise, sem, contudo, gerar recuperação satisfatória, se puxar os juros,
será melhor ou pior?
Pode pintar nova crise monetária global.
O juro alto, nos Estados Unidos, atrairia dólares espalhados pelo mundo.
A periferia capitalista, para barrar
saída de dólares, entraria em crise, subindo os juros, com o que
sobrevalorizaria sua moeda, cujas consequências seriam aumento de
importações, crises cambias, desindustrialização, desemprego, dívidas,
crise.
Nesse contexto de super oferta de dólar
dentro dos Estados Unidos, Trump seria levado ou não a fazer nova
reforma monetária, tirando, por exemplo, um zero do dólar, para
construir NOVO DÓLAR?
Não seria com esse NOVO DÓLAR que Trump
pretende, à moda keynesiana, tocar a infraestrutura para construir um
novo Estados Unidos?
As contradições apontam para incógnitas sem fim, diante do colapso final de Bretton Woods, 73 anos depois.
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