quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Clipping do dia | Brasilianas.Org

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Correio do Povo - Porto Alegre - 04/10/2012
Blog do Juremir Machado da Silva
Barbosa e Lewandowski, dois gigantes da retórica
Postado por Juremir em 4 de outubro de 2012 - Política
O julgamento do mensalão pelo STF está revelando dois gigantes da argumentação.
Joaquim Barbosa tem-se mostrado extraordinário, consistente, claro, contundente, lógico, implacável, firme e quase sempre convincente. Encontrou uma teoria, a do domínio do fato, embora não a cite nominalmente, para embasar a sua percepção dos acontecimentos e enquadrá-los de maneira a não permitir que os réus escapem, mais uma vez, por faltas de provas.
 Num campo marcado pelas interpretações, pelas teorias  e pelos adjetivos, Barbosa tem usado a retórica com uma espada para marcar seus avanços. O julgamento tem sido um curso de educação jurídica para a população. Os mais simplistas acham que se trata apenas de um enfrentamento entre petistas e tucanos ou petistas e antipetistas. Barbosa e Lewandowski têm mostrado que se trata de muito mais, de um confronto entre diferentes visões sobre autoria de ilícitos e tipos de prova.
Barbosa, na retórica melodramática da mídia, tem sido destacado por ter sido menino pobre, por ser negro, por ter estudado nas melhores universidades, por não ter precisado de cotas – o que já mostra a origem ideológica do argumento – e por estar alterando o paradigma de julgamento do STF, o que espanta e apavora alguns dos chamados garantistas.
Petistas e antipetistas acham que o mundo se divide entre petistas e antipetistas.
Barbosa e Lewandowski têm mostrado que o PT não está sendo julgado, não como totalidade, o que não exime o petismo de responsabilidade pelos ilícitos e nem absolve o partido integralmente. Apenas o situa numa temporalidade.
É uma luta que chega a ser divertida.
O antipetismo mais visceral quer “pegar o Lula”, revelando a empreitada ideológica.
O petismo, para se defender, lembra que FHC não foi “pego” pela emenda da reeleição.
Trocando em miúdos, a plateia reage ideologicamente, assim como parte da mídia.
Há uma cruzada contra o petismo por causa da sua arrogância, da sua ideologia, das suas reformas, da sua promessa de ser diferente, do seu moralismo em outros tempos, do seu dedo em riste, da sua empáfia e dos seus métodos no poder.
É a lógica do ressentimento contra quem chegou a atrapalhar os negócios antes de entrar neles.
O Brasil tem custado a entrar na rotina democrática.
Getúlio Vargas suicidou-se.
JK governou acossado por golpistas.
Jânio renunciou.
Jango foi derrubado.
Veio a ditadura.
Depois dela, Collor, o primeiro eleito, sofreu impeachment.
FHC, eleito para um mandato, alterou a Constituição para se reeleger.
Foi acusado de compra de votos.
Lula governou duas vezes e fez a sucessora.
Mas sua era mergulhou no escândalo do mensalão.
Velha guerra ideológica?
Mais do mesmo?
Falta de tradição de aceitação da regra do jogo?
Sempre que tem esquerda no poder, a direita agarra-se à corrupção como bote salva-vida.
A esquerda é mais corrupta de fato?
Quando a direita governa não há corrupção?
Menos?
Ou essa corrupção é menos focalizada pela mídia amiga?
Collor era de direita.
A mídia não o perdoou.
Ponto para a mídia.
A mesma Veja que bombardeia os mensaleiros, torpedeou Collor.
Fez o mesmo com o FHC da emenda da reeleição?
Com a mesma virulência?
O STF vem julgando acima disso tudo.
A desqualificação fez crer que Lewandowski, amigo da mulher de Lula, absolveria todo mundo.
Os larápios estão sendo condenados implacavelmente.
Delúbio Soares e Marcos Valérios, nomes mais destacados nas operações do mensalão, não escaparão das condenações.
São favas contadas.
As diferenças aparecem em torno da existência ou não de provas em relação aos mentores.
Barbosa não tem dúvidas: José Dirceu arquitetou e comandou tudo.
Genoíno foi seu valete.
Ricardo Lewandowski, ao contrário, afirma que a denúncia do Ministério Público, no que se refere a Genoíno, “foi paupérrima em muitos pontos e generalizou as condutas para tentar comprovar fatos que não foram provados”.
O ministro bateu forte: denúncia vaga. E enfiou o pé: “Não se pode condenar alguém pelo simples fato de ele ocupar um cargo”.
Ironizou: “Não há nada ilegal em uma reunião entre o presidente de um partido e membros de outro partido. Não podemos criminalizar a política. Se uma reunião entre partidos for ilegal, podemos fechar país”.
Duvidou: “Onde está o quando, onde, porque, quanto? Em nenhum momento o Ministério Público apontou para quem Genoíno teria oferecido propina. Assim fica fácil para o Ministério Público”.
Desferiu um petardo. Segundo ele o Ministério Público “não conseguiu, nem de longe, apontar de modo concreto”  provas contra Genoíno. O revisor não viu provas e disse estar aberto para recebê-las e mudar de posicionamento.
Barbosa viu tudo.
Lewandowski nada viu.
Os petistas vibram: é a prova de que não há provas.
Os antipetistas desqualificam: esse Lewandowski é um petista mesmo.
O cético observa: que estranho!
Pergunta: como provar quem está certo?
Única resposta: pelo voto da maioria.
Lewandowski ensinou:  “O que não está nos autos, não está no mundo”.Teorizou: Genoíno “sempre foi um deputado ideológico, não fisiológico”.
Estarreceu: “À luz das provas dos autos, a acusação revelou-se frágil e especulativa. Paupérrima”.
Relativizou: “Embora a denúncia seja um pouco dúbia, ao longo da instrução criminal ficou comprovado que Delúbio Soares agia com plena desenvoltura junto com Marcos Valério. Foram os dois grandes articuladores desse esquema criminoso de repasse de verbas para parlamentares e políticos”.
Só os simplórios continuarão achando que Barbosa é o bem e Lewandowski o mal.
Só os ideológicos continuarão achando que Lewandowski é o bem e Barbosa o mal disfarçado de bem.
São dois gigantes.
Possivelmente a posição de  Barbosa seja mais útil para o Brasil atualmente, ampliando o campo da condenação e afinando a malha para pegar corruptos. Mas a posição de Lewandowski trabalha no fundamento: a prova.
O leigo simplório ou ideológico não quer saber de provas ou firulas jurídicas.
Expressa sua pobreza intelectual assim: “Tem mais é que botar essas ladrões em cana”.
Tem mesmo.
Dentro das regras do Estado de Direito.
O resto é conserva de gente com uma ervilha no lugar de cérebro.
Ou de muita mala sem alça nem rodinha babando ideologia barata de direita ou de esquerda.

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