Azeredo afirma que ajudou na campanha de FHC em 98
Segundo senador, dinheiro arrecadado foi usado por comitês do ex-presidente
Sobre Walfrido, o tucano diz que o ministro não tinha o papel de coordenador, mas que "participou da campanha ativamente"
ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pivô do escândalo que colocou o PSDB sob suspeita de ter se beneficiado do valerioduto, o senador Eduardo Azeredo (MG) afirmou que prestações de contas de campanhas políticas, no passado, eram mera "formalidade", que não "existia rigor". Azeredo disse que teve "problemas" ao prestar contas, mas que a campanha envolvia outros cargos e partidos.
Disse que contou na eleição para o governo de Minas, em 1998, com o apoio do ministro Walfrido dos Mares Guia (Relações Institucionais), inclusive na captação de recursos. Segundo o senador, Walfrido não tinha o papel de coordenador, mas participava de tudo.
Azeredo afirmou ainda que o dinheiro arrecadado para sua campanha -oficialmente foram gastos R$ 8,5 milhões- foi usado para campanhas de deputados e senadores da sua coligação e, até mesmo, do então candidato à Presidência Fernando Henrique. "Ele não foi a Minas, mas tinha comitês bancados pela minha campanha."
FOLHA - A Polícia Federal diz que houve caixa dois na sua campanha...
EDUARDO AZEREDO - Tivemos problemas na prestação de contas da campanha, que não era minha só, mas de partidos coligados, que envolvia outros cargos, até mesmo de presidente da República. FOLHA - Que "problemas"?
AZEREDO - Essas prestações de contas no passado eram mais uma formalidade, é hipocrisia negar isso, não existia rigor. O que se conclui é que no caso de Minas, a minha [prestação] foi a mais alta naquele ano, foi ela que se aproximou mais da realidade. E se concluiu que houve recursos a mais que não chegaram a ser formalizados.
FOLHA - O sr. acha que sua campanha custou quanto na verdade?
AZEREDO - Os R$ 8,5 milhões que informamos e alguma coisa a mais que teve do empréstimo que eu não autorizei. Mas nunca perto dos R$ 100 milhões que estão falando.
FOLHA - Qual foi a participação do Walfrido na campanha do sr.?
AZEREDO - Ele não foi coordenador [da campanha], o coordenador foi o ex-deputado Carlos Eloy, mas é evidente que o Walfrido participou da campanha ao meu lado ativamente.
FOLHA - De que forma? Na parte política ou na captação de recursos?
AZEREDO - Participou da campanha como um todo.
FOLHA - A PF achou papéis em que o ministro fez anotações de valores arrecadados. Ele tem conhecimento dos valores não contabilizados?
AZEREDO - Acho que ele é quem deve explicar. Cabe a mim dizer que ele participou da campanha, mas não era coordenador.
FOLHA - Mas o senhor disse que ele participou de toda a campanha, o que me faz concluir que também da parte de arrecadação de dinheiro.
AZEREDO - É evidente que ele tinha relações com pessoas que podiam apoiar a campanha.
FOLHA - Com relação ao empréstimo que o ministro Walfrido disse que pagou em seu nome por dívidas de campanha. O sr. pediu para ele?
AZEREDO - Como não tinha e não tenho até hoje posses que me garantam tirar empréstimo bancário maior, o Walfrido é que tirou o empréstimo, com meu aval para quitar a dívida.
FOLHA - O sr. vai pagar o ministro?
AZEREDO - Não. É uma dívida que foi quitada porque ele é meu amigo, continua sendo e tem condições de poder arcar com uma dívida dessas.
FOLHA - Com relação ao PSDB, o governador José Serra não quis comentar sobre o senhor.
AZEREDO - Sempre tive apoio do partido e tenho total confiança de que terei o apoio necessário no momento necessário. Serra me deu não só solidariedade, mas apoio também.
FOLHA - O dinheiro da sua campanha financiou a de FHC em Minas?
AZEREDO - Sim, parte dos custos foram bancados pela minha campanha. Fernando Henrique não foi a Minas na campanha por causa do Itamar Franco, que era meu adversário, mas tinha comitês bancados pela minha campanha.
FOLHA - Por que o senhor acha que esse assunto voltou à tona agora?
AZEREDO - O PT colocou esse assunto no seu congresso porque não está satisfeito com a presença de um ministro [Walfrido] que não seja do seu partido e como compensação para o desgaste que o partido sofreu pela aceitação do STF de abertura do processo do mensalão.
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