domingo, 8 de fevereiro de 2015

O x da questão da Petrobras - Carta Maior

O x da questão da Petrobras - Carta Maior



O x da questão da Petrobras

Corriam soltas as salivações, orgasmos múltiplos se
multiplicavam pelas redações. Quando, de repente, só que não. Deu zebra.
Dilma nomeou o presidente do BB.

por Emir Sader em 07/02/2015 às 12:56



Estava tudo pronto. A
pantomima parecia funcionar conforme o desenhado. Cada ator cumpria
perfeitamente o seu papel. Tudo parecia indicar o final sonhado.

Primeiro
criou-se a imagem do caos da Petrobras, apesar da empresa bater
recordes de produção. Mas o monopólio privado da mídia encarregou-se de
reverter o nome publico da empresa. O fundamental parecia ter sido
feito: a reversão da imagem da empresa de orgulho nacional para problema
nacional.

Aí se passou à segunda fase da operação. Empresa
falida, soluções: abertura do capital estrangeiro no Pré-sal (lógico),
contra o regime de partilha, fim dos componentes nacionais, vender o que
dá prejuízo, baixar o perfil da empresa ao mínimo. Soluções e agentes:
abriu-se o álbum de figurinhas e se colocou a circular os novos heróis
da direita, que iam resgatar a Petrobras das garras estatizantes do PT e
jogá-la no colo do mercado. De Paulo Lehman a Henrique Meirelles, não
faltou nenhum.

Era só sentar pra esperar a que salvador do
mercado a Dilma ia apelar. E começar a sonhar com entrar na sala da
presidência da Petrobras – como em outros tempos – para entrevistas e
outros papos.

Soltar periodicamente boatos para que a bolsa e as
próprias ações da Petrobras disparassem – o preferido era que o
Meirelles ja estaria assumindo -, para desovar ações compradas na baixa.
E preparar as manchetes: Dilma se rende ao mercado, nomeia tal ou qual,
mercado adora e Bolsa dispara.

Corriam soltas as salivações tipo
pavloviano, orgasmos múltiplos se multiplicavam pelas redações. Quando,
de repente, só que não. Deu zebra. Dilma nomeia o presidente do Banco
do Brasil.

Aí acionou-se o plano B: Mercado se decepciona e Bolsa
despenca! Onde está o dossiê de denuncias do cara nomeado? O que fazer
agora? Dizer que a Dilma tentou todos os da lista do mercado e nenhum
aceitou?  Ou que o vicio estatizante dela prevaleceu? Dizer que houve
muita divergência dentro do governo, na Petrobras e no próprio PT.

Passar
a tomar o Bendine como vítima privilegiada, para tentar que não se
fortaleça, que não se estabilize, que não dirija um processo de resgate e
de fortalecimento da Petrobras.

Clima depressivo nas redações,
de rancor, de ódio, de frustração. As manchetes de domingo, as capas das
revistas, estavam prontas. A euforia deu lugar à depressão, ao clima de
derrota. Tudo para dar no Bendine.

A pantomima deu errado, essa é
que é a verdade, quando até alguns no campo da esquerda davam a batalha
por perdida. Os nomes não eram apenas nomes, representavam interesses
radicalmente distintos. A grande maioria, do “mercado”, que é que jogou
pesado contra a Petrobras, cuja simpatia haveria que reconquistar, então
nada melhor que alguém do “mercado”, para que o “mercado” ficasse
contente.

Só que essa conquista significaria atentar centralmente
contra o caráter público da Petrobras e entregá-la à esfera mercantil,
aos interesses privatistas. Os mesmos que chegaram a fazer com que ela
se chamasse, por um dia, Petrobrax. Esse o x da questão. Quem resgata a
Petrobras é o mercado ou é a esfera publica?

Depende do
diagnóstico que se faça. O da direita é o de que os problemas da empresa
vem do seu caráter estatizante. O diagnóstico da esquerda é de que os
problemas vieram da penetração de interesses e comportamentos
privatizantes no seio da empresa.

No primeiro caso, se trataria
de avançar na direção da privatização da empresa, da sua imersão na
dinâmica do mercado. No segundo, de restabelecer plenamente seu caráter
público, eliminando comportamentos e interesses mercantis de dentro da
empresa.

Esse o x da questão da Petrobras, o mesmo x que o governo FHC quis introduzir no nome da empresa, mas a opinião pública impediu.

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