Lava Jato vira caricatura de investigação partidária
A cobertura política está inteiramente tomada pela Lava Jato, e a
Lava Jato virou uma investigação puramente político-partidária, com
objetivo de realizar todo o tipo de devassa contra o PT e abastecer a
imprensa de vazamentos cuidadosamente seletivos.
De vez em quando, a Lava Jato deixa escapar alguma informação contra a
oposição, geralmente contra a vontade, mas nenhuma denúncia feita pelos
delatores que não se encaixe estritamente na campanha contra o PT tem
continuidade ou recebe atenção maior por parte da força tarefa.
Vários delatores já acusaram Aécio Neves, por exemplo. Mas a Lava Jato prefere investigar o sítio frequentado por Lula...
Hoje, a mesma coisa. As seções políticas dos jornalões vieram cheias de denúncias e ilações contra o PT.
A matéria
contra João Santana na Folha é um exemplo típico de jornalismo
pistoleiro, feito sob encomenda para atingir um objetivo político,
auxiliado, como sempre, pela meganhagem.
Pior: o próprio Sergio Moro se aliou aos meganhas, visto que é o
padrinho de uma situação em que as informações do processo são mantidas
em conveniente sigilo. Sigilo para o público em geral e para a defesa,
mas não para a mídia. O sigilo é fundamental para conferir poder para a
mídia montar uma linha narrativa. Aí quando as informações vierem a
público, a narrativa já estará consolidada na cabeça da opinião pública.
A reportagem da Folha contra João Santana, um texto repugnante, cheio
de ilações, de verbos na condicional, de "suposto isso", "suposto
aquilo", tem um objetivo bem claro: alimentar a narrativa golpista da
mídia e a ação do PSDB contra as eleições em 2014, no TSE.
Não vai ter golpe.
Os golpistas serão derrotados novamente, antes do primeiro semestre. O
golpe via TSE não vingará porque teria de engolfar o PMDB, e seria
ainda mais traumática que o impeachment, porque mais covarde, mais
autoritário, deixando o país ingovernável.
Para o PT, um golpe hondurenho seria até útil politicamente, porque
sairia como vítima - vítima real - de um processo golpista, o que lhe
daria uma aura heroica que poderia assegurar seu futuro político por
várias décadas.
Mas seria ruim para o Brasil, manchando severamente nossa imagem,
construída com tanta dificuldade, de uma democracia sólida, em que o
direito político da maioria é respeitado acima de tudo, não sendo
violado pelo covardia de meia dúzia de togados intimidados pela
meganhagem midiática.
Em artigo
malicioso na Folha, Bernardo Mello Franco diz que o TSE terá que
escolher entre a tese de Sergio Moro ou a tese da dupla Dilma e Temer.
Não é nada disso.
O TSE terá que optar pelo justo. E o justo é que o resultado das
urnas, o voto da maioria, de 54 milhões de eleitores, deve prevalecer
sobre qualquer teoria oportunista defendida por derrotados.
A tentativa de tapetão judicial promoveu a união política - meio
forçada, mas nem por isso menos sólida e interessante - entre Michel
Temer, presidente do PMDB, e Dilma Rousseff. Ambos agora estão no mesmo
barco, o que debilita um bocado uma oposição que contava com a divisão
das forças governistas para reinar.
Esse é ponto-fraco dos golpistas, quase todos os instrumentos da
democracia tendem em favor da defesa do resultado das urnas. Quanto mais
os golpistas se agitam, mas eles se afogam no mar de suas contradições.
Eles precisam provocar caos econômico, revolta social. Ou seja, para
derrubar a presidente, precisariam se tornar quase revolucionários, mas
aí desperteriam forças que eles não querem, de maneira nenhuma,
despertar. As figuras mais esclarecidas do grande empresariado já sabem
disso. Os americanos, que já viram de tudo em seus mais de três séculos
de democracia, sabem disso. Por isso muitos empresários e os americanos,
ao contrário de outras épocas, não estão interessados num golpe aqui.
Um golpe abriria uma caixa de pandora que não seria fechada tão cedo.
Se vale tudo para derrubar governante, não o faremos para cumprir
agendinha neoliberal para beneficiar os nababos, como querem os tucanos.
Se for para derrubar o governo, então será para fazer uma revolução de
verdade.
Como os conservadores, alçados subitamente ao poder, sem legimitidade, sem votos, poderão conter as massas insatisfeitas?
Para isso existem movimentos sociais organizados, para canalizar e
civilizar a revolta, de maneira que ela não se desencaminhe dos trâmites
democráticos.
Há muito os movimentos sociais poderiam, por exemplo, pegar em armas.
Mas não. Eles escolhem o caminho das reinvindicações pacíficas, democráticas.
Um golpe romperia brutalmente esse pacto de confiança, delicado, frágil, contraditório, entre as elites e as massas.
Em outros tempos, a oposição teve de apelar para violentíssima
repressão, numa onda crescente de truculências, praticando tortura,
censura, assassinato político, proibindo qualquer tipo de reunião,
aterrorizando a sociedade - sempre com auxílio e apoio das mesmas
empresas de mídia que hoje se arvoram, hipocritamente, paladinas da
liberdade.
Se a oposição repetir essa fórmula, explodirão o país, e nos
transformarão em motivo de vergonha para o resto do mundo, após os anos
em que fomos o orgulho do planeta, sob a gestão Lula, por causa do
admirável e acelerado processo de ascensão social que promovemos.
Não, não podem fazer isso, porque não combina com os dias de hoje, mais transparentes em tudo.
A tese de Temer, que é a mesma de Dilma, é simples e lógica como uma
rocha: as doações de campanha para Dilma foram registradas, carimbadas,
protocoladas. É caixa 1. Criminalizar o caixa 2, tudo bem. Agora...
criminalizar o caixa 1, é ridículo.
Ainda mais que Aécio recebeu ainda mais dinheiro, das mesmas empreiteiras às quais se acusa de terem doado ao PT como propina.
Como assim, propina? As empreiteiras sabiam que o PT venceria as eleições presidenciais? Não.
Além do mais, a tese embute um teoria absolutamente bizantina, para
não dizer surreal: a de que as empreiteiras estavam mancomunadas para
manter o PT no poder ad eternum.
Ora, a própria imprensa já vazou que executivos de algumas
empreiteiras postavam mensagens nas redes sociais em favor de Aécio
Neves.
As empreiteiras doam dinheiro para ambos os lados, tentando manter as boas relações com o vencedor das eleições, seja qual for.
Apenas o risco de golpe já provoca imenso estrago na economia, e a
culpa recai, mais uma vez, numa imprensa historicamente golpista e que,
em caso de golpe, terá feito justiça à sua fama, aliada aos meganhas da
hora, um punhado de procuradores ultracoxinhas, com apoio expresso de um
juiz ultratucano, sob o olhar intimidado ou cúmplice de outros juízes.
A "força-tarefa" da Lava Jato está prevaricando, manipulando uma
investigação para agir de maneira criminosa, pautando a mídia a partir
de "indícios" sem base alguma.
É óbvio que, na atual conjuntura, apenas a publicação da matéria já é uma condenação política em si.
A força tarefa "vê indícios"?
Como assim?
A reportagem não traz uma mísera informação sobre quais seriam estes
indícios, a não ser que João Santana tem contas no exterior, contas não
secretas, declaradas, porque ele presta serviços a vários países, como
todos sabem.
Diz a matéria que João Santana fez campanhas políticas onde a
Odebrecht tem obras. Ora, a Odebrecht tem obras em vinte e um países! E é
lógico que tanto ela como Santana tendem a operar em países onde há
abertura para a venda de serviços brasileiros.
A Lava Jato não apenas tenta criminalizar a política, como também o marketing?
Não tenho nenhuma simpatia por João Santana, mas ele é um cidadão
brasileiro de talento que está vendendo seus serviços para o exterior,
ou seja, trazendo recursos para o país. Não é um procurador coxinha
fazendo de tudo para sabotar a economia nacional.
Hoje, no Valor, vemos uma série de notícias que desmente cabalmente a
narrativa vira-lata, patrocinada pela grande mídia, de que o mundo
estaria muito bem, e que todos os nossos problemas derivam-se
exclusivamente de nossa incompetência.
Os mercados estão derretendo e quase todas as principais economias do
mundo tem fundamentos menos sólidos do que os do Brasil. Tem menos
reservas, tem mais dívidas, suas taxas de juros estão negativas (ou
seja, não tem mais o que fazer neste sentido).
O Brasil precisa, por sua vez, vencer o vira-latismo e apostar no crescimento e no combate ao desemprego.
Ainda no Valor, há uma matéria sobre o Banco Central americano (Fed),
que traz alguns depoimentos da presidente da instituição, Janet Yellen.
Ela afirma que o "Fed fará o que for necessário para cumprir seus
mandatos de inflação estável e pleno emprego".
Ou seja, o Banco Central americano não age apenas contra a inflação. A sua política está atrelada ao emprego.
Aqui, não.
Aqui, o Banco Central não pensa no emprego e os economistas
neoliberais defendem abertamente aumento do desemprego como estratégia
para melhorar a economia.
É algo que lembra muito os problemas que alguns navios negreiros
enfrentavam em sua dura travessia do atlântico, trazendo escravos da
África para o Brasil. Quando havia problemas de navegação, o capitão
apelava para uma solução simples: livrar-se do peso excessivo, lançando
ao mar dezenas, quiçá centenas, de seres humanos.
Conforme o tempo passa, a hipocrisia midiática se torna mais
gritante. A revista Forum revelou que FHC acaba de comprar, de presente,
para sua namorada, um apartamento de 1 milhão de reais. Tudo bem. Não
há crime nisso. Na reportagem da Forum, porém, descobrimos que FHC mora
num apartamento de 450 metros quadrados, num bairro nobre de São Paulo.
E a mídia fazendo aquele carnaval todo em cima de um triplex de 290
metros quadrados, num prédio fulero em Guarujá, e que, diga-se de
passagem, não é do Lula!
A Camargo Correia pode fazer estrada apenas para melhorar o acesso à
fazenda do FHC. Pode fazer um aeroporto ao lado desta fazenda, usado
exclusivamente por familiares de FHC. E isso DURANTE o mandato de FHC,
não depois. A filha de FHC pode trabalhar sete, oito anos, no Senado
como funcionária fantasma. A filha de Serra pode ser citada na Forbes
como sócia do homem mais rico do Brasil.
FHC pode frequentar, praticamente morar por um tempo, um apartamento
de 20 milhões de reais em Paris que pertence a um sócio enredado em
várias tretas.
Lula? Lula não pode nem visitar um apartamento que pensava em adquirir em Guarujá.
Não pode nem frequentar um sítio em Atibaia...
A mídia faz de tudo, com um sucesso relativo e com o qual ela se
embriaga precocemente, para lançar suspeitas sobre fatos normais da
vida. Visitar um apartamento que se deseja comprar? Normal, não? Para a
mídia, é muito estranho. Então ela faz reportagens e mais reportagens,
com depoimentos de gente que confessa ter visto o presidente visitar o
apartamento. Só que o presidente jamais negou que o tenha visitado.
A mesma coisa vale para o sítio em Atibaia. Procura-se pintar o
trivial com tintas sombrias. Lula jamais negou que frequentasse a
propriedade. E aí, quando o presidente publica mais um texto dizendo
que, sim, que frequentava o sítio, a mídia publica manchetes
escandalosas, dizendo que "o presidente agora admite" que frequentava o
sítio. A Época faz matéria sensacionalista, com informações "exclusivas"
sobre quantas vezes Lula visitou o sítio...
É a mesma coisa que eu publicar no Cafezinho: "Exclusivo! FHC visitou 100 vezes o apartamento de seu amigo em Paris!"
O que que tem isso? Nada. Mas com a linguagem certa, o contexto bem ajeitado, ficará parecendo a revelação de um grande crime!
É uma guerra semiótica tocada por profissionais.
Dá até pena ver o governo, o PT e o próprio Lula tentando correr atrás do prejuízo.
O PT virou um partido dos tuitaços, um esforço bonitinho e simpático,
mas insuficiente no embate político. Tanto que a mídia e oposição até
permitem que o PT faça seus tuitaços tranquilamente, sem contraparte.
Enquanto isso a mídia constrói cuidadosamente, junto a seu exército
de zumbis coxinhas, o ódio político a Lula, porque ele "frequenta" o
sítio de um amigo em Atibaia, reformado por empreiteiras do "petrolão".
A informação de que Lula visitou o sítio mais de cem vezes em pouco
tempo deveria servir de atestado de simplicidade do presidente. Sim,
porque ele poderia estar curtindo férias em praias suntuosas do Caribe,
desfrutando de longas temporadas em hoteis de luxo em Londres, Paris e
Hong Kong.
Afinal, segundo o coxinhato furibundo, ele não é o maior ladrão do Brasil?
Como assim ele prefere passar tanto tempo num sitiozinho fulero em
Atibaia, cuidando da horta, preparando comida caseira, comprando pão na
padaria, pescando numa canoa de lata?
A Lava Jato se tornou caricatural, porque ela parece ter perdido o
foco. Uma hora investiga o triplex de Lula, dias depois esquece o
triplex e já está no sítio frequentado por Lula; na semana seguinte "vê
indícios" nas contas de João Santana, "marketeiro ligado ao PT"...
Onde querem chegar? Atiram para todo lado, como que desesperados para
achar alguma coisa contra Lula, contra o PT. Não acham aqui, não
importa, abandona-se tudo, e parte-se para outra.
E tudo isso - milhões de reais em helicópteros, jatinhos, diárias de
hotel - bancado com nosso dinheiro, em plena crise econômica?
Não fariam melhor combatendo os grandes sonegadores, incluindo aí a Rede Globo?
A teoria de que o caldo pode ter entornado é arriscada, porque a
truculência da meganhagem judicial não tem limites quando é chancelada
pela mídia. Procura-se implementar uma justiça política inteiramente
centrada no arbítrio, na publicidade opressiva, na intimidação
midiática.
Eles não são bobos, além disso. Quando o caldo se encontra prestes a
entornar, eles vazam uma delaçãozinha contra um tucano, apenas para
diminuir o fogo.
Mas nenhuma denúncia contra a oposição é analisada em profundidade.
É coisa de profissional.
De bandidos.
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