telegramas do consulado norte-americano no Brasil falando sobre como
petroleiras estrangeiras estavam preocupadas com a lei de partilha do
pré-sal, que dava à Petrobras a condição de operadora única da reserva, e
como contavam com políticos e grupos empresariais brasileiros para
reverter a situação, como José Serra (PSDB) e a Fiesp
Por WikiLeaks
Brazil – Nos bastidores, o lobby pelo pré-sal
“A indústria de petróleo vai conseguir combater a lei do pré-sal?”.
Este é o titulo de um extenso telegrama enviado pelo consulado americano
no Rio de Janeiro a Washington em 2 de dezembro do ano passado.
Como ele, outros cinco telegramas a serem publicados hoje pelo
WikiLeaks mostram como a missão americana no Brasil tem acompanhado
desde os primeiros rumores até a elaboração das regras para a exploração
do pré-sal – e como fazem lobby pelos interesses das petroleiras.
Os documento revelam a insatisfação das pretroleiras com a lei de
exploração aprovada pelo Congresso – em especial, com o fato de que a
Petrobrás será a única operadora – e como elas atuaram fortemente no
Senado para mudar a lei.
“Eles são os profissionais e nós somos os amadores”, teria afirmado
Patrícia Padral, diretora da americana Chevron no Brasil, sobre a lei
proposta pelo governo . Segundo ela, o tucano José Serra teria prometido
mudar as regras se fosse eleito presidente.
Partilha
Pouco depois das primeiras propostas para a regulação do pré-sal, o
consulado do Rio de Janeiro enviou um telegrama confidencial reunindo as
impressões de executivos das petroleiras.
O telegrama de 27 de agosto de 2009 mostra que a exclusividade da
Petrobrás na exploração é vista como um “anátema” pela indústria.
É que, para o pré-sal, o governo brasileiro mudou o sistema de
exploração. As exploradoras não terão, como em outros locais, a
concessão dos campos de petroleo, sendo “donas” do petróleo por um
deteminado tempo. No pré-sal elas terão que seguir um modelo de
partilha, entregando pelo menos 30% à União. Além disso, a Petrobrás
será a operadora exclusiva.
Para a diretora de relações internacionais da Exxon Mobile, Carla
Lacerda, a Petrobrás terá todo controle sobre a compra de equipamentos,
tecnologia e a contratação de pessoal, o que poderia prejudicar os
fornecedores americanos.
A diretora de relações governamentais da Chevron, Patrícia Padral,
vai mais longe, acusando o governo de fazer uso “político” do modelo.
Outra decisão bastante criticada é a criação da estatal PetroSal para administrar as novas reservas.
Fernando José Cunha, diretor-geral da Petrobrás para África, Ásia, e
Eurásia, chega a dizer ao representante econômico do consulado que a
nova empresa iria acabar minando recursos da Petrobrás. O único fim,
para ele, seria político: “O PMDB precisa da sua própria empresa”.
Mesmo com tanta reclamação, o telegrama deixa claro que as empresas americanas querem ficar no Brasil para explorar o pré-sal.
Para a Exxon Mobile, o mercado brasileiro é atraente em especial
considerando o acesso cada vez mais limitado às reservas no mundo todo.
“As regras sempre podem mudar depois”, teria afirmado Patrícia Padral, da Chevron.
Combatendo a lei
Essa mesma a postura teria sido transmitida pelo pré-candidtao do
PSDB a presidência José Serra, segundo outro telegrama enviado a
Washigton em 2 de dezembro de 2009.
O telegrama intitulado “A indústria de petróleo vai conseguir
combater a lei do pré-sal?” detalha a estratégia de lobby adotada pela
indústria no Congresso.
Uma das maiores preocupações dos americanos era que o modelo
favorecesse a competição chinesa, já que a empresa estatal da China,
poderia oferecer mais lucros ao governo brasileiro.
Patrícia Padral teria reclamado da apatia da oposição: “O PSDB não apareceu neste debate”.
Segundo ela, José Serra se opunha à lei, mas não demonstrava “senso
de urgência”. “Deixa esses caras (do PT) fazerem o que eles quiserem. As
rodadas de licitações não vão acontecer, e aí nós vamos mostrar a todos
que o modelo antigo funcionava… E nós mudaremos de volta”, teria dito o
pré-candidato.
O jeito, segundo Padral, era se resignar. “Eles são os profissionais e
nós somos os amadores”, teria dito sobre o assessor da presidência
Marco Aurelio Garcia e o secretário de comunicação Franklin Martins,
grandes articuladores da legislação.
“Com a indústria resignada com a aprovação da lei na Câmara dos
Deputados, a estratégia agora é recutar novos parceiros para trabalhar
no Senado, buscando aprovar emendas essenciais na lei, assim como
empurrar a decisão para depois das eleições de outubro”, conclui o
telegrama do consulado.
Entre os parceiros, o OGX, do empresário Eike Batista, a Federação
das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) e a Confederação Naiconal
das Indústrias (CNI).
“Lacerda, da Exxon, disse que a indústria planeja fazer um ‘marcação
cerrada’ no Senado, mas, em todos os casos, a Exxon também iria
trabalhar por conta própria para fazer lobby”.
Já a Chevron afirmou que o futuro embaixador, Thomas Shannon, poderia
ter grande influência nesse debate – e pressionou pela confirmação do
seu nome no Congresso americano.
“As empresas vão ter que ser cuidadosas”, conclui o documento.
“Diversos contatos no Congresso (brasileiro) avaliam que, ao falar mais
abertamente sobre o assunto, as empresas de petróleo estrangeiras correm
o risco de galvanizar o sentimento nacionalista sobre o tema e
prejudicar a sua causa”.
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