América dividida. Os EUA podem voltar a se integrar?
Como os EUA podem se recuperar depois da eleição presidencial negativa e partidária de 2016? O psicólogo social Jonathan
Haidt estuda a moral que forma a base de nossas escolhas políticas. Em
um diálogo com o curador do TED Chris Anderson, ele descreve os padrões
de pensamento e as causas históricas que levaram a essa divisão tão
intensa nos Estados Unidos e apresenta uma visão de como o país pode
seguir em frente.
Fonte: TED – Ideas Worth Spreading
Tradução: Cláudia Sander. Revisão: Leonardo Silva
Jonathan Haidt estuda como – e por que – evoluímos para nos tornarmos
criaturas morais e políticas. Entendendo melhor nossa psicologia moral e
suas derivações, ele afirma que podemos criar instituições melhores do
que as atuais (incluindo nisso empresas, universidades e a própria
democracia), e podemos aprender a ser mais civilizados, e abrirmos muito
mais nossas mentes na direção daqueles que não pertencem ao nosso time.
Haidt é um cientista social cuja pesquisa sobre a moralidade através
das culturas e da história é ensinada e debatida hoje em alguns dos
melhores centros universitários norte-americanos.
Vídeo:
Tradução integral da palestra de Jonathan Haidt no TED, em dezembro 2016:
Chris Anderson: Então, Jon, isso parece assustador.
Jonathan Haidt: Sim.
CA: Parece que o mundo está de uma forma como não
víamos há muito tempo. As pessoas não discordam mais da forma que
estávamos habituados, divididos entre esquerda e direita. Diferenças bem
mais profundas estão em andamento. O que está acontecendo, e como
chegamos a este ponto?
JH: Isso é diferente. Há um sentimento muito mais
apocalíptico. A pesquisa feita pela Pew Research mostra que o grau de
sentimento que temos pelo outro lado não é só… nós não só não gostamos
deles; nós não gostamos muito deles, e achamos que eles são uma ameaça
para a nação. Esses número têm crescido cada vez mais, e estão em mais
de 50% agora, em ambos os lados. As pessoas estão com medo pois isso
parece ser diferente; é muito mais intenso. Sempre que olho qualquer
tipo de quebra-cabeça social, aplico os três princípios básicos de
psicologia moral, e acho que eles vão nos ajudar aqui. A primeira coisa
que sempre devemos ter em mente, quando pensamos em política, é que
somos tribais. Evoluímos através do tribalismo. Uma das maiores e mais
simples descobertas sobre a natureza social humana é o provérbio
beduíno: “Eu contra meu irmão; eu e meu irmão contra nosso primo; eu,
meu irmão e meus primos contra o estranho”. E esse tribalismo nos
permitiu criar grandes sociedades e nos unirmos para competir com
outros. Isso nos tirou da selva e dos pequenos grupos, mas significa que
estamos em um eterno conflito. A questão que devemos olhar é: quais
aspectos da nossa sociedade tornam isso mais difícil, e quais acalmam
esse conflito?
CA: Esse é um provérbio muito sombrio. Você está dizendo que isso está incutido nos circuitos mentais das pessoas, em certo nível?
JH: Sim. Absolutamente. Isso é só um aspecto básico
do conhecimento social humano. Mas também podemos conviver de forma
muito pacífica, e inventamos várias formas divertidas de, digamos,
brincar de guerra. Esportes, política, todos são formas de exercitarmos
essa natureza tribal sem realmente ferir ninguém. Também somos muito
bons em negociar, em explorar e em encontrar novas pessoas. Então temos
que ver nosso tribalismo como algo que tem altos e baixos: não estamos
fadados a estar sempre lutando uns com os outros, mas nunca teremos a
paz mundial.
CA: O tamanho dessa tribo pode encolher ou aumentar.
JH: Isso.
CA: O tamanho do que consideramos “nós” e do que
consideramos “o outro” ou “eles” pode mudar. E alguns acreditam que esse
processo pode continuar indefinidamente.
JH: Isso mesmo.
CA: E sem dúvida expandimos o sentido de tribo por um tempo.
JH: Sim, e acredito que estamos chegando,
possivelmente, à nova distinção entre esquerda e direita. A esquerda e
direita, como nós as conhecemos, vêm da distinção entre trabalho e
capital, das classes trabalhadoras e de Marx. Mas o que vemos agora, de
maneira crescente, é uma divisão, em todas as democracias
ocidentais, entre as pessoas que querem ir só até o conceito de
nação, as pessoas mais provincianas, e não falo isso de maneira
pejorativa, pessoas com um maior senso de ter raízes, que se preocupam
com sua cidade, sua comunidade e sua nação… e os que são
anti-provincianos e que… sempre que fico confuso, penso na música
“Imagine”, de John Lennon: “Imagine que não existem países, nada pelo
qual matar ou morrer”. Essas são as pessoas que querem uma governança
mais global, elas não gostam de nações nem de fronteiras. Vemos isso por
toda a Europa também. Um cara de grandes metáforas, na verdade seu nome
é Shakespeare, escrevia no Reino Unido dez anos atrás. Ele tinha uma
metáfora: “Nós vamos levantar ou abaixar a ponte?” E o Reino Unido está
dividido na proporção de 52 por 48. E os Estados Unidos estão divididos
nessa proporção, também.
CA: Então, aqueles de nós que cresceram com os
Beatles e com esse tipo de filosofia hippie de sonhar com um mundo mais
conectado, isso parece tão idealista e “como pode alguém pensar mal a
esse respeito?” E o que você está dizendo, na verdade, é que hoje
milhões de pessoas sentem que isso não é apenas tolo; na verdade é
perigoso e errado, e elas estão com medo disso.
JH: Acho que o grande problema na Europa, e também
aqui, é a questão da imigração. E acho que precisamos olhar com muito
cuidado para as ciências sociais sobre diversidade e imigração. Uma vez
que algo é politizado, uma vez que se torna algo que a esquerda ama e a
direita… nem mesmo os cientistas sociais conseguem ser imparciais a
respeito. A diversidade é boa em várias maneiras. Ela claramente traz
mais inovação. A economia americana cresceu enormemente em função
dela. A diversidade e a imigração trazem muitas coisas boas. Mas o que
eu acho que os globalistas não veem, o que eles não querem ver, é que a
diversidade étnica reduz o capital social e a confiança. Há um estudo
muito importante de Robert Putnam, o autor de “Bowling Alone”, que olha
bases de dados de capitais sociais. Basicamente, quanto mais as pessoas
sentem que são iguais, mais confiam nos outros, e mais podem ter um
Estado que redistribui bem-estar social. Os países escandinavos são tão
maravilhosos porque eles têm esse legado de serem países pequenos e
homogêneos. E isso leva a um Estado de bem-estar social progressivo, um
conjunto progressivo de valores de esquerda que diz: “Abaixem a ponte! O
mundo é um lugar ótimo. As pessoas na Síria estão sofrendo, devemos
recebê-las bem”. E isso é muito bonito. Mas se, e eu estava na Suécia
neste verão, se o discurso na Suécia é politicamente correto e não se
pode falar sobre as desvantagens, você acaba trazendo um monte de
pessoas. Isso vai reduzir o capital social, o que torna difícil manter
um Estado de bem-estar social, e eles podem terminar, como aqui nos
EUA, com uma sociedade visivelmente dividida por raças. Então é muito
desconfortável falar sobre tudo isso. Mas acho que é isso que precisa
ser visto, especialmente na Europa, mas também aqui.
CA: Você está dizendo que pessoas razoáveis, pessoas
que não se considerariam racistas, mas pessoas morais, éticas, têm um
lado racional que diz que os humanos são muito diferentes; que corremos o
risco de exceder nossa percepção sobre o que os humanos são capazes, ao
misturar pessoas muito diferentes.
JH: Sim, mas posso tornar isso mais
palatável dizendo que isso não tem, necessariamente, a ver com raça. Tem
a ver com cultura. Há um trabalho maravilhoso de uma cientista política
chamada Karen Stenner, que mostra que, quando uma pessoa tem a
percepção de que estamos todos unidos, somos todos iguais, há muitas
pessoas com predisposição para o autoritarismo. Essas pessoas não são
particularmente racistas quando elas sentem que não há uma ameaça à
nossa ordem social e moral. Mas se você colocá-las de prontidão,
pensando que estamos nos dividindo, que as pessoas estão ficando mais
diferentes, elas se tornam mais racistas, homofóbicas, querem expulsar
os diferentes. Em parte você obtém uma reação autoritária. A esquerda,
seguindo a linha lennonista, a linha de John Lennon, faz coisas que
geram uma reação autoritária. Estamos vendo isso nos Estados Unidos, com
a direita alternativa. Vimos isso no Reino Unido e por toda a
Europa. Mas a parte positiva disso é que os localistas, ou os
nacionalistas, têm razão: se enfatizarmos nossa similaridade cultural, a
raça realmente não significa muito. Então uma abordagem de assimilação
dos imigrantes elimina muitos desses problemas. Se você valoriza ter um
estado que oferece bem-estar social, deve enfatizar o fato de sermos
todos iguais.
CA: Certo, então o aumento da imigração e dos medos em relação a isso são duas das causas da atual divisão. Quais são as outras?
JH: O próximo princípio da psicologia moral é que
intuição vem primeiro, raciocínio estratégico vem depois. Provavelmente
você já ouviu o termo “raciocínio motivado” ou “viés de confirmação”. Há
trabalhos muito interessantes sobre como nossa inteligência e nossas
habilidades verbais podem ter evoluído não para nos ajudar a encontrar a
verdade, mas para nos ajudar a manipular os outros, defender nossa
reputação… Somos realmente muito bons em justificar a nós mesmos. E
quando você considera interesses de grupos, não é mais apenas eu, é o
meu time contra o seu, ainda que você avalie evidências de que o seu
lado está errado, simplesmente não podemos aceitar isso. Por isso não se
consegue vencer um argumento político. Se você está debatendo
algo, você não pode persuadir a pessoa com razões e evidências, porque
não é assim que o raciocínio funciona. Então vamos ver a Internet, vamos
ver o Google: “Eu ouvi que Barack Obama nasceu no Quênia. Vou pesquisar
isso… Nossa! Dez milhões de resultados! Veja, ele nasceu lá!”
CA: Então isso foi uma surpresa desagradável para
muita gente. As mídias sociais normalmente são consideradas pelos
tecno-otimistas como uma grande força de conexão que vai unir as
pessoas. E ocorreram alguns efeitos colaterais inesperados.
JH: Isso mesmo. Por isso estou encantado com a visão
yin-yang sobre a natureza humana e a esquerda e direita, de que cada
lado está certo sobre algumas coisas, mas cego sobre outras. A esquerda
geralmente acredita que a natureza humana é boa: vamos juntar as
pessoas, derrubar as paredes, e tudo ficará bem. A direita, os
conservadores sociais, não os libertários, conservadores sociais em
geral acreditam que as pessoas podem ser gananciosas, sexuais e
egoístas, e precisam de regulação e restrições. Sendo assim, se você
derrubar os muros e permitir que as pessoas de todo o mundo se
comuniquem, você terá muita pornografia e racismo.
CA: Então nos ajude a entender. Esses princípios da
natureza humana têm estado sempre conosco. O que mudou, que aprofundou
esse sentimento de divisão?
JH: Você deve ver seis a dez linhas diferentes se
unindo. Vou listar apenas algumas delas. Nos Estados Unidos, e na
verdade também na Europa, uma das maiores é a Segunda Guerra Mundial. Há
uma pesquisa interessante, feita por Joe Henrich e outros, que diz que
se seu país esteve em guerra, especialmente quando você era jovem, e 30
anos depois você for testado na tragédia dos comuns ou no dilema dos
prisioneiros, você é mais cooperativo. Devido à nossa natureza tribal,
você… meus pais eram adolescentes durante a Segunda Guerra Mundial, e
eles saíam à procura de pedaços de alumínio para ajudar nos esforços de
guerra. Quero dizer, todo mundo pegava junto. E assim essas pessoas
seguiram em frente, cresceram nos negócios e governos, assumiram
posições de liderança. Elas são muito boas em compromisso e
cooperação. Todas elas se aposentaram na década de 90. E fomos deixados
com os “baby boomers” no final da década de 90. E eles passaram a
juventude lutando entre si ou com outros países, em 1968 e depois. A
perda da geração da Segunda Guerra, a “Geração Grandiosa”, é
enorme. Essa é uma delas. Outra, nos Estados Unidos, é a purificação dos
dois partidos. Usualmente havia republicanos liberais e democratas
conservadores. Então os Estados Unidos em meados do século 20 era
realmente bipartidário. Mas devido a uma série de fatores que fizeram as
coisas se modificarem, na década de 90 temos um partido liberal e um
partido conservador puros. Então agora as pessoas em cada partido são de
fato diferentes, e não queremos que nossas crianças casem com elas, o
que, na década de 60, não importava muito. Então, a purificação dos
partidos. A terceira é a internet e, como eu disse, é a causa e efeito
que mais estimula o raciocínio e a demonização.
CA: O tom do que está acontecendo na internet é
muito inquietante. Eu fiz uma pesquisa rápida no Twitter sobre a
eleição e vi dois tuítes próximos um do outro. Um, sobre uma imagem de
um grafite racista: “Isso é nojento! A feiura nesse país foi trazida por
#Trump”. E o outro é: “Página da Hillary Desonesta. Repulsiva!” Essa
ideia de “repulsa”, para mim, é perturbadora. Se você tem um argumento
ou uma discordância sobre alguma coisa, você pode ficar raivoso com
alguém. A repulsa, ouvi você dizer, leva as coisas a um nível bem mais
baixo.
JH: Isso mesmo. Repulsa é diferente. Raiva… veja, eu
tenho filhos. Eles brigam dez vezes por dia, e se amam trinta vezes por
dia. Você só fica no vai e vem: fica brabo, deixa de ficar, fica brabo,
deixa de ficar. Mas repulsa é diferente. Repulsa dá a ideia de pessoa
sub-humana, monstruosa, deformada, moralmente deformada. Repulsa é como
tinta permanente. Há uma pesquisa de John Gottman sobre terapia de
casal. Se você olhar os rostos e um deles expressar repulsa ou
desprezo, é um indício de que em breve eles irão se separar, mas se eles
demonstram raiva, isso não indica nada, porque se você souber lidar com
a raiva, ela é até uma coisa boa. Então essa eleição é diferente. O
próprio Donald Trump usa muito a palavra “repulsivo”. Ele é muito
sensível a germes, então a repulsa importa muito a ele para ele é algo
bem pessoal, mas se demonizamos uns aos outros, e de novo, através de
uma visão maniqueísta de que o mundo é uma batalha entre o bem e o
mal, e isso tem aumentado, em vez de apenas dizer que eles estão errados
ou que não gostamos deles, dizemos que eles são malignos,
satânicos, são repulsivos, revoltantes. E não queremos ter nada com
eles. Penso que é por isso que temos visto muito disso nas
universidades. Temos visto a necessidade de manter as pessoas fora dos
campus, silenciá-las, mantê-las distantes. Receio que toda essa geração
de jovens, se a introdução deles na política envolve tanta repulsa, eles
não vão querer envolver-se com política quando ficarem mais velhos.
CA: E como lidamos com isso? Repulsa. Como se combate a repulsa?
JH: Você não consegue fazer isso com bom senso. Eu
acho… Eu estudei a repulsa por muitos anos e penso muito sobre
emoções, e acho que o oposto da repulsa é, na verdade, o amor. Amor
é… Repulsa é criar barreiras, fronteiras. Amor é derrubar muros. Então
acho que as relações pessoais são, provavelmente, os meios mais
poderosos que temos. Você pode sentir repulsa por um grupo de
pessoas, mas então conhece uma pessoa em particular e descobre que eles
são adoráveis. E isso gradualmente vai mudando sua percepção. A tragédia
é que os americanos costumavam ser bem mais misturados, em suas
cidades, pela direita e esquerda ou pela política, e agora isso se
tornou uma grande divisão moral, existem muitas evidências que estamos
nos aproximando de pessoas que são politicamente como nós. É difícil
encontrar alguém que esteja do outro lado. Eles estão lá, bem
distantes. É difícil conhecê-los.
CA: O que você diria para alguém, ou para os
americanos, para as pessoas em geral, sobre o que devemos entender sobre
os outros que pode nos fazer repensar, por um minuto, essa “repulsa”
instintiva.
JH: Sim. Uma coisa muito importante de ter em
mente… existem pesquisas feitas pelo cientista político Alan
Abramowitz mostrando que cada vez mais a democracia americana é
governada pela chamada “negação partidária”. Isso significa que você
pensa que tudo bem, há um candidato, você gosta dele e vota nele. Mas
com o aumento da propaganda negativa das mídias sociais e diversas
outras tendências, cada vez mais as eleições acontecem de forma que cada
lado faz o outro parecer tão horrível, tão medonho, que por falta de
opção você vai votar no meu candidato. E quanto mais votamos contra o
outro lado e não pelo nosso lado, temos que ter em mente que as pessoas
de esquerda vão pensar: “Bem, eu sempre achei que os republicanos eram
ruins, agora o Donald Trump comprova isso. Agora posso atribuir a todos
os republicanos essas coisas que penso sobre o Trump”. Isso não é
necessariamente verdade. Normalmente eles não estão satisfeitos com seus
candidatos. Essa é a eleição de maior negação partidária da história
dos Estados Unidos. Então primeiro você precisa separar seus sentimentos
sobre o candidato dos seus sentimentos sobre as pessoas que têm uma
escolha. E então você tem que perceber que, como todos nós vivemos em um
mundo moral à parte… e a metáfora que usei no livro é que estamos
presos em “Matrix”, ou cada comunidade moral é uma Matrix, uma
alucinação coletiva…. Então se você está do lado dos azuis, tudo
comprova que do outro lado eles são trogloditas, racistas, são as piores
pessoas do mundo, e você tem todos os fatos que comprovam isso. Mas
alguém na casa ao lado vive em um mundo moral diferente do seu. Eles
vivem um videogame diferente, e veem um conjunto de fatos completamente
diferente. E cada um vê ameaças diferentes ao seu país. E o que eu
descobri por estar no meio e tentar entender os dois lados é: os dois
lados estão certos. Existem várias ameaças a este país, e cada lado é
incapaz de ver todas elas.
CA: Então você está dizendo que todos nós precisamos
de um novo tipo de empatia? A empatia tradicionalmente é enquadrada
como: “Oh, eu sinto a sua dor e consigo me colocar nos seus sapatos”. E
aplicamos isso aos pobres, aos necessitados, aos sofredores. Normalmente
não aplicamos isso a pessoas que sentimos como opostas ou por quem
sentimos repulsa.
JH: Não. É isso.
CA: Como seria se conseguíssemos construir esse tipo de empatia?
JH: Na verdade, eu acho… Empatia é um tópico muito
em alta na psicologia, e é um termo muito popular, especialmente na
esquerda. Empatia para as classes preferidas de vítimas é uma coisa
boa. Então é importante sentir empatia pelos grupos que nós, da
esquerda, achamos importantes. Isso é fácil fazer, porque você ganha
pontos por isso. Você deveria receber pontos ao ter empatia em situações
difíceis de tê-la. E eu acho… Bem, tivemos um longo período de 50 anos
lidando com nossos problemas de raça e discriminação legal, e essa foi
uma das nossas prioridades por muito tempo e ainda é importante, mas
espero que, com este ano, as pessoas vejam que temos uma ameaça
existencial em nossas mãos. Acredito que a divisão em esquerda e
direita é a divisão mais importante que enfrentamos. Ainda temos
questões sobre raça, gênero e LGBTs, mas essa é a necessidade urgente
dos próximos 50 anos; as coisas não vão melhorar sozinhas. Precisaremos
fazer muitas reformas institucionais e podemos falar sobre isso, mas
essa é uma conversa longa e tortuosa, mas acho que ela começa com as
pessoas percebendo que esse é um ponto de virada. E sim, precisamos de
um novo tipo de empatia. Temos que nos dar conta: é disso que nosso país
precisa e é disso que você precisa, se não quiser… Levantem as mãos se
querem passar os próximos quatro anos tão raivosos e preocupados como
estiveram no último ano. Então, se você quer fugir disso, leia Buda,
Jesus, Marco Aurélio. Eles têm todo tipo de conselhos sobre como acabar
com o medo, repensar tudo, parar de ver os outros como inimigos. Há
muita orientação para esse tipo de empatia nas sabedorias antigas.
CA: Minha última pergunta: Pessoalmente, o que as pessoas podem fazer para ajudar nessa cura?
JH: Sim, é muito difícil decidir abrir mão de seus
preconceitos mais profundos. E as pesquisas mostram que hoje os
preconceitos políticos são mais fortes e profundos que os de raça em
nosso país. Então acho que é preciso fazer um esforço, isso é o
principal. Esforçar-se para realmente encontrar alguém. Todo mundo tem
um primo, um cunhado, alguém que é do outro lado. Então, depois dessa
eleição, espere uma semana ou duas, porque provavelmente vai ser
horrível para um de vocês, mas espere por umas semanas e então diga que
você quer conversar. E antes de fazê-lo, leia Dale Carnegie: “Como fazer
amigos e influenciar pessoas”. (Risos) Estou falando sério. Você vai
aprender técnicas, se você começar reconhecendo e dizendo: “Veja, não
concordamos em muita coisa, mas uma coisa eu realmente respeito em você,
tio”, ou “… em seu conservadorismo…” Você consegue achar alguma
coisa. Se você começar com algum elogio, é como mágica. Essa é uma das
principais coisas que aprendi que levo para minhas relações
humanas. Ainda cometo muitos erros tolos, mas sou incrivelmente bom em
pedir desculpas e em reconhecer que alguém tinha razão em alguma
coisa. E se você faz isso, o diálogo realmente flui bem e é divertido.
CA: Jon, é absolutamente fascinante conversar com
você. Realmente parece que o terreno sobre o qual estamos pisando é
habitado por profundas questões sobre a moral e a natureza humana. Sua
sabedoria não poderia ser mais relevante. Muito obrigado por
compartilhar esse tempo conosco.
JH: Obrigado, Chris. Obrigado a todos.
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