Folha de S.Paulo - Outro lado: Não fizemos nada errado, defende-se investigador - 26/09/2010: "OUTRO LADO
Não fizemos nada errado, defende-se investigador
DE SÃO PAULO
O investigador Oswaldo Cardenuto confirma que deu um carro ao empreiteiro no valor de R$ 28 mil. 'Eu não tinha dinheiro. Perguntei ao empreiteiro se ele aceitava um carro e ele topou. Comprei por R$ 20 mil, R$ 22 mil e passei por R$ 28 mil'.
Cardenuto afirma que fez um empréstimo na Nossa Caixa para comprar o veículo que deu ao empreiteiro. 'Essa foi a corrupção que fiz. Peguei dinheiro emprestado'.
Ele diz ter feito isso porque 'é obrigado a trabalhar'. 'O prédio estava inabitável. Tinha até pomba morta na caixa d'água. Se deixo de cumprir uma ordem, não é o Estado que é punido. Sou eu'.
Segundo ele, todos os distritos são reformados com dinheiro levantado pelos próprios policiais. O mesmo tipo de procedimento ocorre com viaturas e computadores.
Ele cita o que considera um exemplo: o Estado comprou 15 mil computadores para a polícia com o sistema operacional Linux, que não funcionam, segundo ele. 'Os policiais compram Word pirata para trabalhar. O Estado brinca de administrador. Dizer que isso gera corrupção é uma visão simplista'.
O investigador Mario Lúcio Gonçalves diz que a informação do empreiteiro Wandir Falsetti de que ele deu R$ 10 mil está errada. 'Dei uns R$ 4 mil, R$ 5 mil, de forma parcelada. Todo mundo fez vaquinha na delegacia. Não dava para entrar no prédio. Tinha mosca, barata, rato. Porque do lado do prédio tem um depósito de lixo'.
Gonçalves afirma ter dado dinheiro por 'necessidade'. 'Não fiz nada de errado. Eu precisava trabalhar'.
Um investigador que pediu para seu nome não ser citado diz ter trabalhado como peão na reforma. Relata ter caído de uma escada de três metros de altura. 'Se eu tivesse dinheiro, não teria trabalhado como peão, pedreiro e eletricista'.
A Secretaria da Segurança diz que a investigação sobre irregularidades na reforma do prédio existe, mas não pode dar detalhes para não atrapalhar o caso. Segundo a secretaria, a investigação corre sob 'sigilo policial'.
A Folha procurou o delegado Marcos Vinicius Vieira na última sexta-feira, mas não conseguiu localizá-lo.
O ex-secretário de Segurança Ronaldo Marzagão diz que reformas de prédios não passavam por seu gabinete.
'Eu só determinava a mudança, não acompanhava o processo.' Segundo ele, a autonomia dos órgãos da secretaria é tamanha que eles prestam contas diretamente ao Tribunal de Contas.
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