domingo, 26 de setembro de 2010

Folha de S.Paulo - "Para reformar, tem de ter ajuda de empresário amigo" - 26/09/2010

Folha de S.Paulo - "Para reformar, tem de ter ajuda de empresário amigo" - 26/09/2010: "'Para reformar, tem de ter ajuda de empresário amigo'

Em entrevista a repórter da Folha, delegado dá detalhes da obra no Denarc

Everardo Tanganelli Jr. diz como polícia recorre a 'jeitinho' para sanar deficiências; 'não acho que estimule corrupção'

DE SÃO PAULO

Leia o depoimento do delegado Everardo Tanganelli Jr., da Polícia Civil paulista, feito ao repórter especial da Folha Mario Cesar Carvalho:
'No meio de 2008, veio a ordem de mudança. O delegado-geral, Maurício [Lemos], disse que a gente tinha de achar um prédio. Respondi que isso era dever do Estado, não meu.
Quando mostraram o prédio do Bom Retiro, que era da Secretaria da Educação, falei: 'Fica do lado de um lixão, cheira mal, tem rato para tudo quanto é lado'.
Não tem estacionamento suficiente: cabem 150 viaturas e o Denarc tem 280.
Tinha sujeirada nos corredores, não tinha divisória para delegacias, o teto estava caindo e só havia três banheiros para 500 pessoas.
O Maurício começou a encher o saco: 'Tem de mudar, tem de mudar!' [procurado, o ex-delegado-geral não quis dar entrevista].
Eu dizia: 'Não dá, o prédio tá um lixo'. Diziam para fazer a reforma com verba de adesão. Fui ao Tribunal de Contas e o conselheiro Fulvio Biazzi falou que não dá para fazer reforma com verba de adesão. Queriam que a gente mudasse em um mês e uma licitação demora oito meses, no mínimo. O projeto inicial ficava em R$ 2 milhões.
Numa reunião do conselho da Polícia Civil, falei que não ia assinar nada se não houvesse licitação. O Maurício bateu na mesa e gritou 'quem pode manda, quem tem juízo obedece' e saiu da sala. Falei que precisava de licitação e ele disse depois: 'Você tem de mudar nem que seja para barraca de campanha do Exército'.
Aí apareceu a figura do Wandir [Falsetti, empreiteiro que fez a reforma]. Ele disse que fazia obras para a Secretaria da Segurança e que daria um jeito. Não tem papel formal nenhum sobre a reforma. Nada. Ele fez 15 banheiros, fez as divisórias, colocou o piso, o teto.
Para reformar você tem de bater canequinha, pedir ajuda aos empresários que são amigos. Para as viaturas, ou você vai no desmanche ou não tem carro. Não acho que esse tipo de coisa estimule a corrupção. Eu não tinha saída. O delegado-geral pôs a faca no meu pescoço.
Mudar do jeito que mudamos é afronta. Não tinha dinheiro para contratar faxineira. Cada tira dava R$ 5, R$ 10 para pagar faxineira. O Denarc não tinha CNPJ com aquele endereço para fazer um contrato emergencial.
Eu não fiz nada de errado. Tive de colocar dinheiro do bolso para trabalhar. Não criei ônus para o Estado.
Dei R$ 20 mil para o empreiteiro porque ele falou que estava acostumado a receber. Depois ia me devolver. Fiquei no prejuízo.'

– Enviado usando a Barra de Ferramentas Google"

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