Tratamento intensivo — Rede Brasil Atual: "Saúde
Tratamento intensivo
Indicadores sociais mostram muitos avanços, mas o país ainda não melhorou a saúde materna nem se livrou de doenças antigas, como a hanseníase
Por: Cida de Oliveira e João Peres
Publicado em 03/09/2010
Tratamento intensivo
Saúde em casa e prevenção: a enfermeira Rose faz visita a dona Darci. (Foto: Danilo Ramos)
Embora médicos, cientistas e outros especialistas evitem comparar as gestões de Lula e de FHC na área da saúde, os números falam. Uma espécie de painel dos resultados das ações em políticas sociais implementadas no país, o 4º Relatório Nacional de Acompanhamento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio analisa a situação do Brasil quanto ao cumprimento de sua agenda para erradicar a extrema pobreza e a fome; universalizar a educação primária; promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres; reduzir a mortalidade na infância; melhorar a saúde materna; combater a aids, a malária e outras doenças; garantir a sustentabilidade ambiental e estabelecer parceria mundial para o desenvolvimento. Essas metas foram assumidas em 2000 pelos 191 estados-membros da Organização das Nações Unidas (ONU).
O documento, divulgado recentemente pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mostra evolução nos tópicos diretamente relacionados à saúde. “As taxas de incidência de aids, crescentes até 2002, se estabilizaram. A partir de 2004 diminuíram também os casos de tuberculose e, de 2006 para cá, a malária tem feito menos vítimas”, diz Jorge Abrahão de Castro, diretor de Estudos e Políticas Sociais do instituto.
Do mesmo modo, houve queda na taxa de mortalidade infantil. O Nordeste ainda é a região mais pobre. No entanto, as políticas de combate à desnutrição mais intenso entre os mais carentes já aproxima seus índices aos das regiões mais desenvolvidas. “Porém, grupos populacionais específicos, como quilombolas e indígenas, continuam apresentando taxas elevadas”, salienta Abrahão. Outro dado positivo é que, em 1996, cerca de 4,2% das crianças de zero a 4 anos tinham o peso abaixo do esperado para a idade. Em 2006 era de 1,8%.
Embora tenha havido também redução da morte materna no período, o Brasil não conseguirá atingir o objetivo de reduzi-la em três quartos até 2015. “É preciso melhorar a investigação dos óbitos maternos, reduzir a proporção de cesarianas e elevar a qualidade da atenção ao parto e ao puerpério (pós-parto)”, destaca o diretor do Ipea.
Outro desafio, segundo ele, é reduzir o coeficiente de detecção de casos novos de hanseníase em menores de 15 anos, que apesar de estável, é considerado alto. Em 2008, havia 5,9 portadores da doença por 100 mil habitantes. Além disso, é necessário ampliar a cobertura da testagem para o HIV no pré-natal e a utilização de preservativos para melhorar o controle da aids, cuja incidência tem aumentado entre as mulheres. É preciso ainda melhorar as condições sanitárias precárias, fazer uso correto dos medicamentos, zerar o abandono do tratamento contra a tuberculose e reforçar a prevenção e o controle da malária.
Peso idealPaulo Marchiori Buss, diretor do Centro de Relações Internacionais em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), aponta muitos outros avanços na saúde nos últimos 20 anos, entre eles o programa Farmácia Popular, criado em 2004. “Medicamentos mais usados contra males crônicos muito comuns, como diabete e pressão alta, que levam a sérias complicações e morte, tiveram seus preços reduzidos”, diz. “Os transplantes também receberam mais investimentos”. Segundo o Ministério da Saúde, entre 2002 e 2009, recursos para o setor cresceram 343%. No ano passado, chegaram a R$ 990 milhões. Mas o destaque, segundo Buss, é o aperfeiçoamento do programa de saúde da família. “Mais conhecido longe dos grandes centros, esse trabalho é muito importante na promoção da saúde porque, entre outras coisas, ensina hábitos alimentares saudáveis que ajudam a evitar problemas sérios, como doenças cardiovasculares, derrame e câncer”, diz. Exemplo dessa atuação vem dos agentes da Unidade Básica de Saúde República, localizada na região central de São Paulo. Eles vão de porta em porta nos antigos edifícios e ainda percorrem as ruas, onde atendem pessoas que têm ali a sua moradia. Em suas visitas periódicas a dona Darci, a enfermeira Rose de Lima conversa sobre os cuidados com a dieta, mede a pressão e a taxa de glicemia no sangue da paciente. “O sedentarismo e a alimentação inadequada, típicos das grandes cidades, desencadeiam doenças como a diabete em muita gente”, diz Rose. Ela conta que, no mesmo prédio, mora dona Teresa, que antes de ser atendida praticamente não andava e sequer tinha força para hábitos simples, como pentear os cabelos. Evolução, segundo a enfermeira, que sinaliza o quão importante é o trabalho dos agentes para a melhoria da saúde e da vida das pessoas.
Outra área destacada é a de pesquisa em saúde. Em 2008 foi criada a Rede Nacional de Terapia Celular (RNTC), por meio da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde. São oito centros tecnológicos localizados em cinco estados brasileiros, que reúnem 52 laboratórios selecionados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e pela própria pasta da Saúde. O objetivo principal da rede é aumentar a integração e troca de informações entre os pesquisadores de todo o Brasil que trabalham com células-tronco (CT). Entre eles está o neurocientista carioca Stevens Rehen, que estuda os mecanismos de formação de neurônios a partir de CT de pluripotência induzida e embrionárias e as consequências que o transplante pode ter no cérebro de roedores com mal de Parkinson.
Coordenador do Laboratório Nacional de Células-Tronco Embrionárias, localizado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ele diz que, embora longe do ideal em termos de investimentos na ciência, o Brasil tem avançado no setor, sobretudo de dez anos para cá. “Ao mesmo tempo que criou a rede, que é virtual, o ministério passou a investir na construção e ampliação de laboratórios, e na compra de insumos. Com isso, a pesquisa brasileira com célula-tronco é a mais avançada da América Latina”, diz Rehen. “Lula acertou ao colocar técnicos, e não políticos, no comando das pastas da Saúde e da Ciência e Tecnologia.” Agora, o que ele e seus colegas esperam é vontade política dos próximos governantes para investirem, cada vez mais, nessa área da pesquisa que é das mais promissoras para tratamento, no futuro, de diversas doenças.
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