quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Folha de S.Paulo - Mercado - A madrinha dos bancos - 11/09/2014

Folha de S.Paulo - Mercado - A madrinha dos bancos - 11/09/2014







Vinicius Torres Freire

A madrinha dos bancos

Marina e Dilma jogam para a galera e trocam insultos vazios a
respeito de quem mima a banca
A JULGAR PELA troca de acusações e insultos entre Dilma Rousseff (PT) e Marina
Silva (PSB), no próximo governo haverá choro e ranger de dentes na Paulista, na
Faria Lima e na Berrini, avenidas e rua de São Paulo que sediam bancos e
assemelhados.



Nenhuma das duas quer ter parte com o demo financeiro; se acusam de serem
madrinhas ou afilhadas da banca. Logo, imagina-se que as candidatas proponham
providências, mesmo que idióticas, em relação a lucros, juros, serviços e
dimensão dos bancos.



Só que não.



Para começo de conversa, qual exatamente o problema da petista e da pessebista
com os bancos? Lucros e juros altos, pelo que se depreende dos xingamentos
entre as candidatas.



O lucro dos bancos aumentou muito nos anos Lula, nos anos petistas? É
verdade. Em boa parte porque o crédito, o total de dinheiro emprestado, cresceu
bem, de um quarto do PIB no início de Lula 1 para mais da metade do PIB sob
Dilma.



A lucratividade (rentabilidade) dos bancos cresceu? A conta aí é mais
enrolada, mas o retorno dos bancos foi alto sob Lula, com picos na metade da
primeira década, aparentemente caindo um pouco nos primeiros anos Dilma, quando
rentabilidades e crescimentos em geral foram menores ou decrescentes, para onde
quer que se olhe.



A rentabilidade dos bancos é muito alta em geral? É. Mas a rentabilidade da
grande empresa no Brasil é muito alta, por vezes tanto quanto a dos bancos. Por
que ninguém reclama do lucro das montadoras, que a gente aliás desconhece?



Além de passar carraspanas públicas nos bancos privados, o que Dilma fez a
respeito de lucros, juros etc? Mandou os bancos públicos baixarem juros, de
modo a aumentar a concorrência. Os juros caíram um pouco, por um tempo, mas
continuam a aberração brasileira de sempre. Não dá para limitar preços e lucros
no grito.



Dilma propôs cobrar mais impostos sobre o lucro dos acionistas dos bancos
(ou, por falar nisso, sobre mais ricos em geral)? Não. Marina também não. De
resto, foi do governo petista por um tempão. Um partido dito de esquerda ficou
uma dúzia de anos no poder e quase não disse palavra sobre a reforma social da
tributação (social ou qualquer outra, aliás).



A rentabilidade da grande empresa no Brasil porque o custo do capital é alto
(juros altos) e porque a competição é pequena (a economia ainda é fechada à
concorrência externa e há muito oligopólio). Dilma e Marina acham que há cartéis
da banca? Sugerem medidas para aumentar a proteção do cliente impotente diante
de organizações-mamute? Não.



Os juros poderiam cair um tanto se o governo, num dia de são Nunca, não
pedisse emprestado mais de 3% do PIB por ano, o que faz porque tem deficit
(deixe-se, por ora, o refinanciamento da dívida velha, várias vezes maior). Com
uns R$ 150 bilhões sobrando na mão (dinheiro que o governo toma emprestado
anualmente), a banca teria de rebolar para fazer o dinheiro render. Mas Dilma
acha que fazer superavit primário decente prejudica o povo.



Em suma, Marina e Dilma jogam para a galera; fazem de banqueiros os párias
morais desta campanha com base em preconceitos medievais ("usura") em
vez de lançarem um debate sério sobre lucros, impostos e juros.

 


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