quinta-feira, 18 de setembro de 2014

O “Pessimildo” e os urubólogos da mídia

O “Pessimildo” e os urubólogos da mídia











Por Altamiro Borges
O programa de rádio e tevê da campanha de Dilma Rousseff, agora mais
politizado e aguerrido, criou um personagem que expressa bem o que é a
mídia nativa. Ele se chama “Pessimildo”, um típico rabugento. Com seu
cenho franzido e os olhos esbugalhados, ele acha que tudo está errado no
Brasil. “Viu que os empregos continuam subindo?”, indaga o locutor.
“Tudo o que sobe desce”, responde o ranzinza. “O mundo está em crise,
Pessimildo, e o Brasil está protegendo salários"; o boneco-catástrofe
discorda. O marqueteiro João Santana, responsável pela peça, até poderia
ser mais direto. Ao invés de “Pessimildo”, poderia chamar o personagem
de Miriam Leitão ou de Carlos Alberto Sardenberg, os dois mais famosos
urubólogos da TV Globo.
Nos últimos doze anos, eles e outros “analistas do mercado” – nome
fictício dos porta-vozes dos agiotas financeiros – sempre esbravejaram
que o país rumava para o caos por culpa das “incompetentes” gestões de
Lula e Dilma. Quase diariamente, eles usaram o espaço de uma concessão
pública de televisão para garantir que a inflação iria explodir; que o
Brasil ficaria isolado na economia internacional; que o desemprego
dizimaria milhares de famílias; e que as contas públicas estavam à beira
da falência. Os seus diagnósticos e prognósticos nunca deram certo.
Mesmo assim, eles nunca fizeram qualquer autocrítica. A cada erro, os
“Pessimildos” radicalizavam ainda mais o seu discurso.
Duas razões explicam esta ranzinze – um politico e outro econômico. Até
por uma questão de classe social, os barões da mídia nunca aceitaram a
chegada ao Palácio do Planalto de um operário, de um sindicalista. Para
eles, trabalhador é para trabalhar e não para pensar – menos ainda para
comandar o país. Na sua visão elitista, eles sempre torceram contra o
que rotularam de “lulopetismo”. Na ditadura, os barões da mídia apoiaram
os generais golpistas; na redemocratização, eles apostaram suas fichas
em Collor de Mello; no reinado neoliberal, eles torceram por FHC, “o
príncipe da Sorbonne”. Com a vitória de Lula, eles investiram tudo no
pessimismo, seja para enquadrar o governante ou mesmo para derrubá-lo.
Além do motivo político, há as razões mais mundanas, econômicas. A mídia
monopolista, parte dela totalmente endividada, hoje está associada ao
capital financeiro. Para os banqueiros, a presidenta Dilma é um estorvo.
No início do seu governo, ela reforçou os bancos públicos e adotou
medidas de estímulo ao crédito. Já o Banco Central reduziu as taxas de
juros. Os rentistas, que adoram juros altos e o famoso superávit
primário – nome fictício da reserva de caixa para pagar os bancos – não
gostaram e fizeram terrorismo. O governo até recuou, mas não
reconquistou a confiança. Como disse Neca Setubal, a herdeira do Itaú
que “educou” Marina Silva, “o mercado é contra Dilma”. A mídia amplifica
esta visão.
O “Pessimildo” é realmente uma desgraça para o Brasil. Ele serve aos
interesses mesquinhos da elite e prejudica a sociedade. Para derrotá-lo,
porém, não basta vencer o pleito de outubro. Ele não é um personagem
apenas do período das campanhas eleitorais. Ele manipula a informação e
deforma os comportamentos no cotidiano – seja nos programas de TV e
rádio ou nas “reporcagens” da mídia impressa. O novo governo deveria
enfrentar este rabugento empedernido sem medo ou vacilações. O
boneco-catástrofe ajuda a confirmar a urgência de uma regulação
democrática da mídia no Brasil. Do contrário, o “Pessimildo” continuará a
infernizar nossas vidas depois de outubro.

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