Tetos, pisos e a avalanche
Jose Roberto de Toledo
29 setembro 2014 | 00:59
Os pilares da eleição de presidente do Brasil não mudam de
lugar há 25 anos. Desde o segundo turno de 1989, a disputa se estrutura
entre eleitores pró-PT, antiPT e volúveis. No domingo, será a décima
votação seguida comandada por essa lógica. A dúvida é quem representará o
antipetismo. O favoritismo de Marina Silva (PSB) para ganhar o papel é
cada vez menor.
O Ibope e o Estadão Dados elaboraram um modelo estatístico para medir
os três grupos de eleitores e identificar suas tendências. Após muitos
cálculos e comparações, chegaram a cinco respostas que separam
pró-petistas de antipetistas e demais. Se o eleitor concorda com ao
menos três, ele é pró-PT (é diferente de ser petista; só tem mais
probabilidade de votar no PT). Se não concorda com nenhuma, é antiPT.
Uma ou duas o tornam volúvel.
As respostas-chave são: 1) acha o governo bom ou ótimo, 2) aprova
Dilma Rousseff (PT), 3) diz que votaria com certeza ou poderia votar em
Dilma, 4) diz ter preferência partidária pelo PT, 5) é beneficiário do
Bolsa Família (ou mora com alguém que seja). Algumas delas podem parecer
redundantes, mas o seu cruzamento elimina inconsistências nas respostas
dos eleitores.
O modelo foi testado em três rodadas de pesquisas presidenciais e
mostrou-se quase imutável. Na mais recente, feita na semana passada, 39%
dos eleitores se encaixaram no grupo pró-PT. Os anti-PT, que não se
enquadram em nenhuma das cinco respostas, são 33% do eleitorado
nacional. Os 28% restantes podem ir para um lado ou para outro. Como
nenhum dos grupos antagônicos tem maioria absoluta, os volúveis acabam
decidindo a eleição.
Não basta, porém, ter metade mais um dos volúveis. Há nuances que
tornam a conta mais complexa. Por exemplo: como o grupo pró-PT é maior, o
candidato antipetista precisaria conquistar mais de 60% dos votos do
grupo volúvel para ser eleito. Isso se ele tivesse todos os eleitores
antiPT, e o candidato petista tivesse 100% dos votos pró-PT. O problema é
que eles nunca têm.
“Apenas” 82% dos pró-PT são eleitores de Dilma no primeiro turno. Há
quem caia nesse grupo e prefira outros candidatos. Afinal, a segunda
colocada é uma ex-petista: 8% dos pró-PT declaram voto em Marina Silva
(PSB), e 4%, em Aécio Neves (PSDB). É o grupo onde há menos eleitores
que vão anular ou votar em branco: só 1%. São também poucos os
indecisos: 5%.
Já entre os antiPT, só 1% dizem que vão votar na presidente. Também
há poucos indecisos (6%), mas abundam os que não estão satisfeitos com
nenhuma das alternativas e vão anular: 15%. Marina leva vantagem de 45% a
34% sobre Aécio nesse grupo.
A ex-petista vai ainda melhor do que o tucano entre os volúveis: 38% a
19%. E Dilma tem o suficiente para embolar a disputa entre os rivais e
manter-se com chances no turno final: 21%. Em nenhum outro grupo há
tantos indecisos: 14%. A taxa de branco/nulo entre eles se aproxima da
média histórica e não deve mudar: 8%.
Como o modelo ajuda a saber quem passará ao segundo turno? A partir
dele são estimados os tetos de votação dos candidatos, cruzando os
grupos com as taxas de rejeição e o potencial de voto. O modelo mostra
que, até a última pesquisa, Marina tinha teto e piso mais altos do que
os de Aécio. Era uma vantagem.
A análise combinatória das taxas a que Aécio e Marina poderiam
chegar, respeitados seus tetos e pisos, mostrava que há menos cenários
em que o tucano poderia chegar à frente da rival. Até a última pesquisa
divulgada pelo Ibope, a proporção era de 3 para 1 em favor da candidata
do PSB. Porém, sua curva descendente sugere que as chances do tucano
tenham aumentado desde então.
Se a perda de votos de Marina continuar acelerando e virar avalanche,
os pisos e tetos serão solapados. As pesquisas de terça, quinta e
sábado mostrarão o tamanho do estrago.
…
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