Joesley e a Globo. Por Leandro Fortes
Por
Leandro FortesA Globo capturou as manifestações de 2013 e as colocou em sua grade
de programação – com agendas e transmissões ao vivo – para fazer
daquelas “jornadas” o primeiro movimento manipulado de massas com vistas
a tirar o PT do poder.
Deu no que deu: em três anos, ajudou a colocar essa quadrilha
chefiada por Michel Temer no Palácio do Planalto. Exatamente como fez,
em 1989, quando usou seu poder de monopólio para colocar, no mesmo
lugar, outra quadrilha, a de Fernando Collor de Mello.
Agora, como no caso de Collor, anuncia um desembarque triunfante,
entregando Temer aos leões, mas com o cuidado recorrente de se tornar
dona do processo para que, como de costume, as coisas possam mudar de
tal forma que permaneçam da mesma forma que estão.
Essa entrevista de Joesley Batista à revista Época, como tudo que vem
do esgoto global, tem que ser observada com muito cuidado, justamente
porque nada, ali, acontece por acaso.
Não tenho a intenção de ler as 12 páginas que anunciam ser o
depoimento de Joesley Batista, da JBS, à revista impressa. Nem com um
vidro de Milanta Plus eu me disponho a uma coisa dessa. Por isso, me
atenho ao que foi disponibilizado na internet, o que, imagino, seja o de
mais importante da entrevista.
Assim, é bom prestar atenção na manchete de letras garrafais que chama para a publicação:
“Temer é o chefe da quadrilha mais perigosa do Brasil”.
Pelo que se depreende da entrevista na internet, essa manchete é
fruto de um silogismo pedestre. O que está lá é o seguinte, dito por
Joesley:
“O Temer é o chefe da Orcrim da Câmara. Temer, Eduardo, Geddel,
Henrique, Padilha e Moreira. É o grupo deles. Quem não está preso está
hoje no Planalto. Essa turma é muita perigosa”.
Sacaram?
Logo na chamada introdutória, o texto supervaloriza a entrevista
porque esta teria sido fruto de “semanas de intensas negociações”.
Ora, a notícia da delação de Joesley foi publicada em 17 de maio. Há
quatro semanas, portanto. Mesmo que Época tivesse entrado em contato com
o empresário no minuto seguinte ao furo de O Globo, essa valorização já
seria ridícula.
Por isso, algo me diz que as negociações podem até sido intensas, mas longe do conceito tradicional de persuasão jornalística.
Também, lá pelas tantas, Época informa aos leitores que, segundo
Joesley, “o PT de Lula ‘institucionalizou’ a corrupção no Brasil”.
Bom, pode ser que nas intermináveis 12 páginas disponíveis nas bancas
tenha algo mais sólido, a respeito. Mas o que tem na entrevista
disponibilizada, no site da Época, é o seguinte, dito por Joesley:
“O PT mandou dar um dinheiro para os senadores do PMDB. Acho que R$ 35 milhões”.
Ou seja, Joesley Batista tem um problema grave de metodologia, quando
se trata de dar propina ao PT. Na delação formal, diz que abriu uma
conta na Suíça para Dilma e Lula, mas no nome dele. E só ele tem a
senha. Agora, revela que o PT “mandou dar dinheiro” para os senadores do
PMDB. E acha (!) que eram R$ 35 milhões (!!).
O repórter, simplesmente, não pergunta quem do PT deu a ordem de dar
dinheiro, nem quem eram os senadores do PMDB que o receberam. Nem por
curiosidade.
Mais adiante, Joesley revela que Eduardo Cunha, então presidente da
Câmara, pediu R$ 5 milhões para evitar uma CPI contra a JBS. Segundo
Cunha, esse era o valor oferecido por uma empresa concorrente de Joesley
para a tal CPI ser aberta.
Qual era a concorrente? Nenhuma pergunta a respeito.
Na mesma linha, segundo Joesley, o operador de propinas do PMDB,
Lúcio Funaro, fazia a mesma coisa. Colocava-se para barrar requerimentos
de CPIs na Câmara, mas o empresário descobriu que era “algum deputado”,
a mando de Funaro, que protocolava as ações.
Quem era um desses deputados pagos por Lúcio Funaro? Nenhuma pergunta a respeito.
Além disso, o repórter incrivelmente não se interessou em perguntar a
razão de a JBS ter dado R$ 2,1 milhões a Gilmar Mendes, a título de
patrocínio de uma faculdade da qual o ministro do STF é sócio.
A não ser que essa pergunta esteja nas tais 12 páginas, estamos diante de um lapso jornalístico bastante curioso.
Então, é o seguinte.
A Globo decidiu capturar, também, o #ForaTemer, depois de ter sido a
protagonista do golpe que colocou essa gente no poder. Por isso, mantém
Joesley Batista acorrentado a si.
Quer, outra vez, estar à frente do processo de sucessão presidencial
para manter seus negócios e interesses intocados. Para isso, precisa de
um presidente eleito indiretamente por esse Congresso vil e repugnante
resultado, justamente, das tais jornadas de 2013.
Joesley Batista, ao que parece, é o novo Pedro Collor, o
irmão-delator que a Veja usou para derrubar o “caçador de marajás” que
ela ajudou a criar junto com a Globo – e que foi enterrado pelas duas
com a mesma desfaçatez com que pretendem se livrar, agora, de Michel
Temer.
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