sábado, 17 de junho de 2017

O procurador da Lava Jato

O procurador da Lava Jato que desabafou no Facebook deveria pedir desculpas a Dilma. Por Joaquim de Carvalho




O procurador da Lava Jato que desabafou no Facebook deveria pedir desculpas a Dilma. Por Joaquim de Carvalho


Por
Joaquim de Carvalho


Já que o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima gosta de usar o
Facebook, para comentários sobre política e desabafos, ele bem que
poderia ser o primeiro a pedir desculpas a Dilma Rousseff por ter
colaborado, conscientemente ou não, para tirá-la da presidência da
república.


Em uma de suas mais recentes postagens, ele diz:


Infelizmente, entretanto, algumas das pessoas que nos apoiavam o
fizeram por motivos mesquinhos ou ingênuos. Os primeiros queriam apenas
substituir um partido pelo seu próprio partido, sem qualquer pretensão
de buscar o bem comum. 



O fato é que a Lava Jato contribuiu, decisivamente, para o resultado do jogo político.


Carlos Fernando não sabia que os policiais federais que trabalharam
ou trabalham com ele militavam nas redes sociais em favor da campanha de
Aécio Neves a presidente?


Igor Romário de Paula, um dos delegados que chefiam a Lava Jato,
pediu votos nas redes sociais para Aécio e participou de um grupo no
facebook chamado Organização de Combate ao Crime Organizado.


A imagem do grupo mostrava Dilma com dois dentes para fora da boca e o selo “Fora, PT!”.


Em uma das postagens, que mostravam Aécio rodeado de mulheres, escreveu: “Esse é o cara!!!!!”


Ele também compartilhou link de uma revista inglesa (Economist), que
defendia o voto em Aécio: “Brasil precisa se livrar de Dilma e eleger
Aécio”.


A jornalista Júlia Duailibi, do Estadão, relatou este e outros
exemplos de militância em favor de Aécio no interior da Lava Jato.


“Alguém segura essa anta, por favor”, declarou o delegado Marcio
Anselmo, ex-coordenador da Operação Lava Jato, em uma notícia cujo
título era: “Lula compara o PT a Jesus Cristo”.



Como cidadão, a manifestação é livre, mas, para policiais que
trabalhavam na investigação de corrupção nas estatais do governo,
declarar apoio a Aécio significava fechar os olhos para o que já se
sabia da participação do PSDB nos esquemas de roubalheira.


A Lava Jato foi seletiva contra o PT e contra um ou outro membro do
PMDB até que, em Brasília, a equipe de Rodrigo Janot escancarasse as
portas que blindavam Michel Temer, Aécio Neves e outros tucanos.


O que foi feito com a informação, contida na delação de Nestor
Cerveró, de que o filho de Fernando Henrique Cardoso, Paulo Henrique,
foi beneficiário da corrupção na Petrobrás?


Ele prestou depoimento? Teve sigilo quebrado, como aconteceu com os filhos de Lula?


Duas fotos são simbólicas desse momento em que a Justiça,
principalmente em Curitiba, se apresenta com dois pesos e duas medidas.


Em uma, Moro aparece sorridente conversando ao pé do ouvido com Aécio.


Em outra, ele sorri feliz no cumprimento a Michel Temer.


A Lava Jato de Curitiba foi tudo, menos republicana.


Comparando as datas das principais fases da operação com o calendário eleitoral ou das manifestações, encontra-se uma sincronia.


Por exemplo, no dia 6 de março de 2016, Moro determinou a condução
coerciva de Lula, sexta-feira da semana anterior a uma manifestação
programada pelos movimentos anti-PT – o pretexto era corrupção, mas a
motivação era outra: vingar-se da derrota eleitoral de 2014.


Os líderes das manifestações em todo o Brasil comemoraram o que
chamaram de injeção de ânimo dada pela Lava Jato com aquela condução
coercitiva.


Um deles, Syllas Valadão, de um movimento chamado Patriotas, disse
que a presença do público nas ruas dobraria graças à força dada pela
turma de Curitiba.


E foi o que aconteceu.


Era uma manifestação de enorme maioria branca e de classe média.


Mas, para quem queria uma foto de muita gente na rua para justificar a derrubada da presidente, isso não importa.


Era o que faltava para impulsionar o golpe.


Com o apoio dos antigos adversários de Dilma e do PT, Michel Temer mudou de lado e assumiu, pouco depois, o Palácio do Planalto.


E do palácio ele não quer sair, apesar do selo que carrega na testa:
“chefe da quadrilha mais perigosa do Brasil”, como definiu o corruptor
confesso Joesley Batista, na entrevista à revista Época.


Michel Temer tem, a seu favor, o silêncio cúmplice dos ex-batedores de panela.


Em 26 de setembro de 2016, também na sexta-feira da semana anterior
às eleições municipais, a Lava Jato prendeu Antônio Palocci, ministro da
Fazenda de Lula.


O ministro da Justiça de Temer na ocasião, Alexandre de Moraes,
deixou um registro histórico, ao antecipar para militantes do MBL em
Ribeirão Preto que haveria uma grande operação na véspera da eleição.


“Vocês vão se lembrar de mim”, disse ele, com um sorriso maroto, conforme captaram câmeras de celular dos militantes de direita.


A vitória do PSDB, partido a que o ministro Alexandre de Moraes era
filiado, e a derrota do PT devem, em grande medida, à repercussão da
prisão de um dos nomes mais expressivos do PT.


Quanto a prisão de Palocci contribuiu para que não houvesse segundo turno em São Paulo e Doria vencesse com facilidade?


Óbvio que ninguém defende a impunidade – se há motivos para Palocci
ser investigado, processado ou até mesmo preso, que seja –, mas parece
evidente que o relógio da Lava Jato de Curitiba parecia sincronizado com
as ações da direita no Brasil.


No desabafo postado no Facebook, Carlos Fernando dos Santos Lima diz
que algumas das pessoas que os apoiaram o fizeram por motivos mesquinhos
ou ingênuos.


E sobre ele próprio e os demais membros da Lava Jato de Curitiba? Ao
conduzir uma investigação e um processo que, ao final e ao cabo,
serviram para derrubar Dilma e agora interditar Lula, o fizeram por
ingenuidade ou mesquinharia?


Ou existe outra motivação?

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