VINICIUS TORRES FREIRE
Você sabe com quem está falando?
Eleitor relevou ou ignorou as críticas a Dilma e ao PT; talvez falte intimidade da oposição com os cidadãos |
O GROSSO do eleitorado até agora não se abalou com os protestos da campanha de José Serra (PSDB) contra o PT e sua candidata. Nem com as vinhetas televisivas tucanas que procuram refrescar a memória do cidadão a respeito do passivo moral do lulismo-petismo, indica pesquisa Datafolha. Mesmo assim, na noite de sexta-feira, quando era escrita esta coluna, ia forte o rumor ou o odor de que o jorro de lixo na campanha iria crescer. Lixão é que não falta para vasculhar.
Dilma Rousseff perdeu pontos relevantes apenas entre eleitores com ensino superior (14% do total da amostra do Datafolha) e/ou com renda maior que dez salários mínimos (5% do total). Note-se, porém, que as intenções de voto dessa fatia mínima do eleitorado têm flutuado de modo meio selvagem. Pode ser que a variação de Dilma nem se deva ao caso da Receita. Enfim, Serra não levou os votos que caíram da cesta de Dilma. Aparentemente, eles foram para Marina Silva (PV).
O grosso do eleitorado pode ter relevado as acusações contra o PT. Muitos podem não ter tomado conhecimento delas -faz uma semana, não cresce o número de eleitores que já viu a propaganda eleitoral na TV, ainda em 51%. O eleitor pode não entender bem o que se passa -a barafunda noticiosa da quebra de sigilos. Ou não quer ou pode se dar ao trabalho de compreendê-la.
O acesso ao noticiário não é lá tão escasso. Talvez seja difícil compreender o que se lê ou se ouve pois, na média, os brasileiros não têm mais de oito anos de escola ruim. Ainda assim, cerca de 37% das pessoas com mais de 18 anos usaram a internet no ano passado, segundo dados do IBGE (Pnad). Quase metade vê pelo menos algum noticiário televisivo. Porém, os motivos imediatos da falta de apelo do protesto tucano ou indignação diante do caso ficam no domínio da especulação, na falta de pesquisa específica.
Mas especulativa também é a ideia de que o eleitor reagiria, sem mais, à campanha tucana. Por que um eleitor sujeito a anos da ubíqua discurseira de Lula, à propaganda oficial, feliz com políticas públicas populares e melhorias no seu bem-estar material, iria, de hora para outra, começar a prestar atenção ao escândalo da Receita? Ou, em geral, às críticas de Serra e dos tucanos? Nem se mencione que, para a maioria dos cidadãos, mal ou bem, por "sorte" ou não, tanto faz, Lula cumpriu seu pacto político com o eleitorado: "melhorar a vida dos mais pobres", para simplificar bem a coisa.
A oposição, por sua vez, esteve ausente do debate político por quase oito anos, para nem dizer que bajulava Lula até ontem. Chegou quase como forasteira à eleição. Não tem base social relevante. Por que se dá de barato que seria ouvida, por mais fundamentada que seja a sua queixa? Por que acredita que o grosso do eleitorado tem na memória a biografia de José Dirceu, que aparece em anúncios tucanos como um espírito maligno da tropa dilmista? O mensalão não fez estragos suficientes no lulismo nem com imagens vívidas de cuecas endinheiradas.
Enfim, a oposição "sabe com quem está falando"? O grosso do eleitorado confiaria nos críticos de Lula e do PT, que aparecem indignados na TV na véspera da eleição?
Sim, a crítica à oposição nefelibata é também especulativa. Mas é desarrazoado imaginar que falta à oposição intimidade com o eleitor?
Nenhum comentário:
Postar um comentário