Os efeitos dos juros internacionais nos preços dos ativos
sex, 09/01/2015 - 06:49
Algumas explicações financeiras para entender os efeitos das taxas de
juros internacionais nos preços dos ativos. Ou, porque qualquer ameaça
de aumento dos juros chacoalha os mercados.
As grandes bolhas especulativas decorrem da volatilidade dos ativos. A
riqueza financeira não é uma medida em si, mas em comparação com os
ativos reais adquiridos..
Suponha uma economia em equilíbrio e uma empresa com histórico de
vendas. Torna-se relativamente fácil precifica-la (isto é, definir seu
valor). Basta estimar o fluxo futuro de resultados, a rentabilidade que o
comprador espera para definir uma faixa preço.
A especulação ocorre quando se perdem esses referenciais.
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No grande jogo financeiro internacional, há três espécies de ativos-alvo:
1. As empresas tradicionais, com histórico de receitas e relativa previsibilidade em relação aos fluxos futuros.
2. Os commodities, alimentos, minérios etc.
3. As empresas da nova tecnologia, sem parâmetros de desempenho, porque muito novas e atuando em áreas sem histórico.
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Teoricamente, o primeiro grupo seria aquele para investimentos mais previsíveis.
Uma das formas de precificar uma empresa é através do fluxo de caixa descontado ou de um múltiplo dos resultados anuais.
Suponha a empresa A:
1. Fatura 10 por ano.
2. O preço da empresa é de 10 vezes seu resultado anual, ou 100.
3. O custo de oportunidade é de 10% ao ano.
4. Ao final de dez anos, o investidor revende a empresa pelo preço que pagou.
Para que, nesse período, seu investimento renda 10% ao ano, o preço a
ser pago será de 100. Ou seja, aplica 100, durante dez anos recebe 10
por ano de resultados e ao final do período revende a empresa por 100.
Se o custo de oportunidade (representado pela remuneração em dólar
dos títulos públicos dos EUA) cair para 5%, o investidor se disporá a
pagar 139 pela fábrica – 39% de valorização apenas pela redução dos
juros de 10% para 5% ao ano. Com as taxas de juros caindo para 1% ao
ano, o preço da empresa saltará para 185.
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Suponha que, com os novos controladores, a empresa aumente em 20%
seus resultados no primeiro ano e em 8% ao ano nos anos seguintes –
possibilidade razoável, especialmente, em processos de fusão e
incorporação.
Mantidas as demais hipóteses, o valor potencial da empresa saltaria para 295.
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Ou seja, com a extrema liquidez internacional, com a profusão de
novos mecanismos permitindo a ampliação da alavancagem (capacidade de
tomar recursos), com os ganhos de escala decorrentes de fusões e
incorporações, mesmo o segmento mais conservador – as empresas em
atividade – sofrerem valorizações extraordinárias.
Apenas o efeito-juros produziu uma enorme bolha de ativos mesmo em mercados mais conservadores – como o imobiliário.
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Agora, lenta e penosamente, a economia mundial está retornando aos
trilhos originais. Cada aumento de juros provocará uma redução
proporcional nos valores de ativos. A queda desses ativos impactará as
garantias bancarias, em alguns casos obrigando os investidores a
queimarem seus investimentos.
Esse processo foi nítido na crise de 2008. Mas não resolveu o
problema da inflação de ativos. Agora tenta-se, com mais cuidado,
promover uma nova rodada deflação que não leve de todo a economia
mundial.
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