domingo, 20 de dezembro de 2015

A contribuição milionária da imprensa para ampliar a crise econômica

A contribuição milionária da imprensa para ampliar a crise econômica. Por Paulo Nogueira



A contribuição milionária da imprensa para ampliar a crise econômica.

Só notícias ruins
Só notícias ruins
Existe uma expressão em inglês chamada self fulfilling prophecy. Numa tradução livre, profecia auto-realizável. O termo foi cunhado em 1949 pelo cientista social americano Robert Merton.


É mais ou menos o seguinte.



Você tanto fala numa coisa com bases falsas que ela acaba se tornando
realidade. Um exemplo comumente citado é o de alguém que, ao acordar,
já fala que vai ter um mau dia. Se ele colocar isso na cabeça, acabará
por criar as condições para que seu dia seja, efetivamente, ruim.


O Brasil vive um momento de profecia auto-realizável. Tanto a mídia,
por motivações políticas, gritou que o Brasil vivia um inferno econômico
que as coisas, efetivamente, se complicaram.


Não há economia que resista a maciços ataques de catastrofismo.


Seria um ano difícil, sem dúvida. O Brasil vinha de dez anos de
crescimento ininterrupto, e não há vento que sempre bata para um só lado
na economia.


Adicionalmente, a crise global começou a cobrar – enfim – seu preço
do Brasil. Mundo afora, o dólar estourou, para ficar num caso.


Mas a imprensa se apressou em atribuir o drama do dólar apenas ao
Brasil. Não era o universo em convulsão. Era o Brasil. Quer dizer, era o
governo Dilma.


Demorou semanas para que alguém, na mídia, mostrasse a floresta, e não a árvore: o dólar crescera diante de todas as moedas, do euro ao yuan chinês.


Agora, imagine. Você é empresário, e está submetido a uma corrente interminável de previsões apocalípticas.


O que você faz?


Vai para a defesa, naturalmente. Isso significa demitir, cortar investimentos e coisas do gênero.


Pronto. A profecia se auto-realizou.


Os rugidos negativistas da mídia encontraram o parceiro ideal numa
oposição obcecada em derrubar Dilma, e cassar assim 54 milhões de votos,
a qualquer preço.


Projetos fúnebres para o país – as apropriadamente chamadas pautas
bombas – foram aprovados com a execução de Eduardo Cunha e a
contribuição milionária do PSDB de Aécio.


A crise política nascida abjetamente do desejo sujo de dar um golpe
na democracia acabou piorando, também, a crise econômica. Mais uma vez,
era a profecia auto-realizável em ação.


Ainda haveria um outro fator para dar dimensões muito maiores a um
problema que poderia ser relativamente pequeno: a Lava Jato, com seu
espalhafato.


Segundo a BBC, a Lava Jato pode ter tido um impacto negativo no PIB
de 2,5 pontos. Uma recessão de coisa de 1% negativo pode chegar a menos
3,5%. Grandes corporações ficaram imobilizadas com a Lava Jato.


Alguém terá feito a conta do custo benefício da Lava Jato? Moro pegou uma calculadora? Duvido.


Haveria uma forma de enfrentar a corrupção no mundo do petróleo sem o custo devastador que se apresentou? Muito provavelmente.


E o ciclo pode continuar. O economista Gustavo Loyola, presidente do
Banco Central na era FHC, está no noticiário dizendo que a crise
econômica vai até 2018.


É bom que se desconfie dessa previsão, muito mais fundada na política do que nos fundamentos econômicos.


Até porque, se ela se propagar, poderemos perfeitamente estar, neste
final de 2015, começando a fabricar uma crise que cederá apenas em 2018.


A isto o professor americano Merton deu, em meados do século passado, o nome de profecia auto-realizável.

Nenhum comentário:

Postar um comentário