terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Altamiro Borges:

Altamiro Borges: Paulo Skaf e os patos da Fiesp



Skaf e os patos da Fiesp


Por Altamiro Borges



O oportunista Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias de São
Paulo (Fiesp), deve estar com cara de nádega - ou de pato. Excitado com a
conspiração do correntista suíço Eduardo Cunha, que manobrou na Câmara
Federal para acelerar o processo do impeachment de Dilma, ele passou a
pregar abertamente a derrubada da presidenta. Distribuiu bonecos do
"pato" - símbolo da campanha dos sonegadores contra os impostos - na
marcha golpista da Avenida Paulista e ainda fez a Fiesp aprovar um
documento pelo impeachment que relembra o sombrio período em que os
industriais paulistas financiaram o golpe de 1964 e apoiaram os crimes
da sanguinária ditadura militar.

Sua excitação, porém, durou pouco tempo. O Supremo
Tribunal Federal derrotou o golpe do lobista e afastou a possibilidade
do assalto ao poder do vice Michel Temer - que o falso peemedebista
Paulo Skaf jura representar junto ao empresariado. Para piorar sua
situação, o eterno derrotado em eleições - já perdeu duas seguidas para o
governo de São Paulo - ainda foi criticado por seus pares. Segundo a
Folha deste sábado (19), o industrial José Velloso Dias Cardoso, diretor
da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), acha um
equívoco a partidarização da Fiesp.


"Quem se posiciona num tema tão agudo quanto esse, logicamente que há
polarização, e o outro lado vai te enxergar como inimigo, como
adversário... Porque hoje os lados não estão respeitando quem tem a
opinião contrária. Quem se posiciona corre esse risco", afirmou. Ele
lembrou que na Abimaq os dirigentes são proibidos de ter atuação
partidária, diferentemente do que ocorre na Fiesp. A própria Folha
registra que a discussão sobre o tema na entidade não foi tranquilo.
"No decorrer do debate, um dos dirigentes afirmou que a Fiesp não
deveria declarar-se a favor do impeachment, porque iria derrubar pontes
com o governo - e acabou duramente criticado pela maioria dos
presentes".



O oportunista Paulo Skaf, famoso por golpear a democracia na própria
Fiesp e por utilizar os recursos bilionários da entidade para seus
projetos eleitorais, não conta com unanimidade na sua tese golpista do
impeachment de Dilma. O que unifica os empresários paulistas -
principalmente os sonegadores - é a luta contra os impostos. Daí a
campanha do "pato", em que eles tentam envolver os incautos, os
verdadeiros patos, na guerra por menos tributos - para os ricos. Sobre o
tema, vale conferir excelente artigo publicado na Folha  da semana
passada por Laura Carvalho.
*****



Quem paga o pato?

A Fiesp oficializou na segunda-feira seu
apoio ao impeachment da presidente Dilma Rousseff, fundada, segundo ela,
em uma pesquisa que realizou com 0,7% das empresas do Estado.

A
decisão da Fiesp já havia sido antecipada na véspera: símbolo de sua
campanha pela redução de impostos, seu pato serviu para alegrar as
muitas crianças que passeiam pela Paulista aos domingos.

Mas as
ações da federação também servem para deixar clara a origem de vários
dos erros de política econômica cometidos pelo governo Dilma desde seu
primeiro mandato.

Os dados apresentados por Rodrigo Orair no
"Texto para Discussão" número 2.117 do Ipea (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada) mostram que a carga tributária brasileira, que subiu
cinco pontos percentuais –de 27% para 32% do PIB– entre 1995 e 2002,
chegou ao patamar de 33,7% em 2007, mas se manteve relativamente estável
desde então.

O estudo esclarece, entretanto, que o que aumentou a
arrecadação entre 2005 e 2014 foram os tributos sobre a folha de
pagamentos e os rendimentos do trabalho, devido à expansão da massa
salarial e do nível de emprego formal no período. Os impostos sobre o
lucro das empresas e sobre bens e serviços, ao contrário, contribuíram
para uma redução da carga tributária de 2,3 pontos percentuais.

Na
realidade, o setor empresarial foi o maior beneficiado pela expansão
fiscal do primeiro governo Dilma Rousseff, que se deu essencialmente
pela via das desonerações tributárias e outras formas pouco criteriosas
de subsídios às suas margens de lucro. Desonerações que, diferentemente
dos numerosos itens aprovados no ajuste fiscal de 2015, que já bateram
–direta ou indiretamente– no bolso dos trabalhadores, ainda não foram
eliminadas pelo Congresso.

Além disso, assim como em quase todos
os países da OCDE, até 1995 também se tributavam dividendos no Imposto
de Renda de Pessoa Física (IRPF) no Brasil. De acordo com outra pesquisa
recente de Orair e Gobetti do Ipea, essa isenção de IRPF sobre os
lucros convertidos em renda pessoal é o principal fator que explica por
que os brasileiros que ganham mais de R$ 1,3 milhão por ano pagam apenas
6,7% em impostos, em comparação a uma média de 11,8% pelos que ganham
entre R$ 162,7 mil e R$ 325,4 mil.

Uma reforma tributária que
vise reduzir impostos sobre o consumo e a produção, e elevar impostos
progressivos sobre a renda e o patrimônio, seria muito bem-vinda. O
mesmo vale para uma política industrial estratégica.

Esses não
parecem, no entanto, ser os verdadeiros alvos da campanha "Não vou pagar
o pato", da Fiesp, que, aliás, vem sendo muito eficaz no cumprimento de
seu objetivo. O pato quem vem pagando é o resto da população, ora
cedendo suas fatias no bolo cada vez menor do Orçamento público, ora
sofrendo as consequências da atuação política da entidade.

A
federação pode não ter sido tão sincera quando, acusada pela Comissão
Nacional da Verdade de seu envolvimento com os crimes da ditadura
militar, declarou, por meio de nota oficial, que sua atuação tem se
pautado pela defesa da democracia e do Estado de Direito.

Seus
membros mais afoitos devem ser avisados de que, desta vez, podem não
contar com o apoio nem do governo americano nem de nossas Forças Armadas
para o desmonte das instituições democráticas brasileiras.

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