“Desorganizada”, corrupção na Petrobras começou no primeiro mandato de FHC e rendeu frutos ao PSDB até 2010
publicado em 22 de dezembro de 2015 às 03:27
Da Redação
O acúmulo de informações sobre a Operação Lava Jato deixa claro:
o Petrolão começou no governo do ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso.
Diz ele que era, então, um esquema “desorganizado”. Ou seja, a
corrupção do PSDB é mais “vadia” que a do PT/PMDB/PP/PSB e outros,
parece sugerir o sociólogo.
É exatamente a mesma lógica utilizada para justificar como legais
doações feitas pelas empreiteiras envolvidas na Lava Jato a Aécio Neves
em 2014, quando aquelas que abasteceram os cofres de Dilma teriam sido
“criminosas”.
“Mas, não tínhamos o que dar em troca, já que não controlávamos o Planalto”, argumentam os tucanos.
Porém, e os contratos fechados pelas mesmas empreiteiras com os
governos paulistas de José Serra e Geraldo Alckmin, totalizando R$ 210
bilhões? E os fechados com os governos de Aécio Neves e Antonio
Anastasia em Minas? Não poderia ter se dado aí o quid-pro-quo?
A lógica do PSDB, endossada pela mídia, deu certo no mensalão: embora
os tucanos tenham amamentado Marcos Valério no berço, com dinheiro
público de empresas estatais como Copasa (Companhia de Saneamento de
Minas Gerais), Comig — hoje Codemig, Companhia de Desenvolvimento de
Minas Gerais — e o extinto Bemge, o banco estadual mineiro, ninguém foi
preso; o ex-presidente nacional do PSDB e senador Eduardo Azeredo foi
condenado em primeira instância a 20 anos de prisão (leia íntegra da sentença aqui), depois de 17 anos! Dificilmente passará um dia na cadeia, já que em 2018 completa 70 anos.
Enquanto isso, o mensalão petista deu no que deu, apesar da
controvérsia sobre se o dinheiro da Visanet, afinal, era ou não público.
Vejamos quais são os fatos que localizam o berço do Petrolão no quintal de FHC:
1. Delcídio do Amaral, ex-líder do governo Dilma no Senado, hoje
preso, assinou ficha de filiação no PSDB em 1998 e foi diretor de Gás e
Energia da Petrobrás em 2000 e 2001, no segundo mandato de FHC, quando
conheceu Nelson Cerveró e Paulo Roberto Costa, que agora se tornaram
delatores. Os negócios entre eles começaram então.
2. As usinas termelétricas construídas às pressas na época do apagão
elétrico — o verdadeiro, não aquele que a Globo prevê desde o governo
Lula –, durante o governo FHC, deram prejuízo à Petrobrás superior
àquele atribuído à compra e venda da refinaria de Pasadena, no governo
Dilma, segundo calculou a Folha de S. Paulo. Mas, vejam que interessante: a Folha apresenta
o senador como sendo do PT quando, à época dos negócios denunciados,
ele tinha ficha de filiação assinada no PSDB e servia ao governo FHC.
3. Delcídio é acusado de ter recebido R$ 10 milhões em propina da
Alstom neste período. A Alstom foi operadora do trensalão tucano em São
Paulo, que atravessou os governos Covas, Alckmin, Serra e Alckmin com
uma velocidade superior àquela com que se constrói o metrô paulistano.
4. A Operação Sangue Negro, deflagrada pela Polícia Federal,
refere-se a um esquema envolvendo a empresa holandesa SBM, que operou de
1998 a 2012, envolvendo pagamentos de U$ 46 milhões. Em 1998,
registre-se, FHC foi reeleito para um segundo mandato.
5. Em delação premiada, o ex-gerente da Petrobras, Pedro Barusco,
disse que coletou um total de R$ 100 milhões em propinas desde 1996.
Portanto, desde a metade do primeiro mandato de Fernando Henrique
Cardoso. Barusco, se contou a verdade, atuou no propinoduto durante seis
longos anos sob governo tucano. Por que Lula e Dilma deveriam saber de
tudo e FHC não?
6. Outro delator, Fernando Baiano, disse que seus negócios com a
Petrobrás começaram em 2000, na metade do segundo mandato de FHC.
O curioso é que, em março de 2014, o PSDB acusou o PT, em nota no seu site, de ter tentado bloquear investigações sobre a Petrobrás.
Desde 2009, o PSDB no Senado solicita investigaçõesPorém, mais tarde soubemos que foi o ex-presidente do PSDB e
sobre denúncias de irregularidades e na direção oposta, o esforço para
aprovar a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre a
estatal petroleira foi derrubada pelo governo federal no mesmo ano. […] Em
15 de maio de 2009, o senador Alvaro Dias (PSDB-PR) protocolou um
pedido de abertura da comissão, assinado por 32 colegas de diversos
partidos, incluindo até mesmo alguns de legendas que apoiam o governo. O
requerimento pedia a investigação a fraudes que já haviam sido motivo
de trabalhos na Polícia Federal, Tribunal de Contas da União e
Ministério Público federal.
Na justificativa, o tucano argumentou que havia indícios de
fraudes em construção e reforma de plataformas de petróleo – em especial
relacionadas a grandes superfaturamentos – e desvios de verbas de
royalties da exploração do petróleo, sonegação de impostos, mal uso de
verbas de patrocínio e fraudes em diversos acordos e pagamentos na
Agência Nacional de Petróleo. No entanto, o governo operou
internamente com sua base para engavetar o pedido de CPI. Mas o PSDB
apresentou requerimentos relacionados à Petrobras, no esforço de buscar
respostas às denúncias.
ex-senador Sergio Guerra, já falecido, quem teria recebido R$ 10 milhões
para enterrar a CPI, segundo o delator Paulo Roberto Costa.
No Estadão:
O ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás PauloVejam vocês que os tucanos denunciados são graúdos: dois senadores e
Roberto Costa afirmou em sua delação premiada que o então presidente
nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra – morto em março deste ano –, o
procurou e cobrou R$ 10 milhões para que a Comissão Parlamentar de
Inquérito da Petrobrás, aberta em julho de 2009 no Senado, fosse
encerrada. Segundo Costa, o tucano disse a ele que o dinheiro seria
usado para a campanha de 2010. Aos investigadores da Operação
Lava Jato, Costa afirmou que os R$ 10 milhões foram pagos em 2010 a
Guerra. O pagamento teria ocorrido depois que a CPI da Petrobrás foi
encerrada sem punições, em 18 de dezembro de 2009. O senador era um dos
11 membros da comissão – três integrantes eram da oposição e acusaram o
governo de impedir as apurações.
A extorsão, segundo Costa, foi para abafar as descobertas de
irregularidades nas obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco –
alvo do esquema que levou ao banco dos réus o ex-diretor da estatal e o
doleiro Alberto Youssef. A obra era um dos sete alvos suspeitos na Petrobrás que justificaram a abertura da comissão, em julho. […] O
ex-diretor declarou que o então presidente do PSDB estava acompanhado
do deputado federal Eduardo da Fonte (PP-PE), a quem chamou em seu
relato de “operador” […] O delator afirmou que Guerra
relatou a ele que o dinheiro abasteceria as campanhas do PSDB em 2010.
Naquele ano, o presidente do partido foi o coordenador oficial da
campanha presidencial do candidato José Serra. Integrantes da campanha
informaram que o ex-senador não fez parte do comitê financeiro.
ex-presidentes do partido, Eduardo Azeredo e Sergio Guerra. Não é,
portanto, coisa da arraia miúda do PSDB.
No caso de Guerra, supostamente atuou com um operador de outro
partido, demonstrando que o Petrolão obedecia a linhas partidárias tanto
quanto aquela famosa foto de Delcídio (PT) com Romário (PSB), Eduardo
Paes, Pedro Paulo e Ricardo Ferraço (PMDB) celebrando uma “aliança
partidária”.
Nosso ponto é que o mensalão, assim como o trensalão e o petrolão,
são suprapartidários e expressam a destruição do sistema político
brasileiro pelo financiamento privado, aquele que transformou o
presidente da Câmara Eduardo Cunha num traficante de emendas
parlamentares escritas pela OAS e apresentadas por gente como Sandro
Mabel (PMDB) e Francisco Dornelles (PP).
Se é certo que o PT hoje age igualzinho a todos os outros partidos,
também o é que o PSDB não paira ao lado do DEM no panteão da moralidade,
né Agripino?
As informações acima não diminuem ou pretendem diminuir a
responsabilidade de integrantes do PT e de todos os outros partidos
envolvidos no Petrolão: PMDB, PP, PSB e outros.
Porém, servem para demonstrar que o Petrolão floresceu num período em
que, tendo a oportunidade de fazê-lo, o PSDB não fortaleceu as
instituições que poderiam desmontá-lo no nascedouro. Pelo contrário, os
dois mandatos de FHC ficaram famosos pela atuação do engavetador-geral
da República. O presidente se ocupava de coisas mais importantes, como
vender por U$ 3 bilhões uma empresa que valia U$ 100 bi, noutro
escândalo, aquele sim, jamais investigado.
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