terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Os personagens de dois mensalões

Os personagens de dois mensalões



Os personagens de dois mensalões

Por Frederico Vasconcelos

Condenação de Eduardo Azeredo (PSDB) confirma que, em 1998,
os advogados de Itamar Franco (PMDB) já haviam antecipado os esquemas
do mensalão petista.




Valerioduto mineiro





Na sentença que condenou o ex-governador mineiro Eduardo Azeredo
(PSDB) a 20 anos de prisão pelo mensalão tucano –decisão da qual cabe
recurso–, a juíza Melissa Pinheiro Costa Lage registra que o mensalão
petista talvez pudesse ter sido evitado “se os fatos aqui tratados
tivessem sido a fundo investigados quando da denúncia formalizada pela
coligação adversária perante a Justiça Eleitoral”.


Ainda não foi suficientemente realçada a atuação dos advogados do
então candidato Itamar Franco (PMDB-PST), que anteciparam os mecanismos
que hoje são considerados o embrião do mensalão do PT.


Quando a imprensa ainda apurava fatos do mensalão petista, dez anos
atrás, a assessoria de Itamar já conhecia os esquemas de repasses de
dinheiro público e patrocínios fraudulentos por intermédio da SMP&B,
agência de publicidade de Marcos Valério.


A releitura dos fatos mostra que alguns personagens transitaram nos dois “mensalões”.


O esquema do mensalão tucano veio à tona com a transferência de R$ 3
milhões de estatais mineiras à SMPB Comunicação em 1998, empresa de
Marcos Valério, quando Azeredo disputou, sem sucesso, a reeleição ao
governo de Minas Gerais.


Os autos do processo citam o desvio de recursos da Comig (empresa
estatal de mineração) e da Copasa (empresa estatal de saneamento), a
título de apoio, sem licitação, ao “Enduro da Independência”, em 1998.


Rogério Lanza Tolentino, condenado no mensalão petista, era advogado
de Marcos Valério e da SMPB. Ambos também foram condenados no mensalão
tucano.


Tolentino foi juiz do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais,
nomeado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. Foi denunciado por
receber dinheiro do valerioduto durante a campanha de 1998. Como juiz
eleitoral, Tolentino votou favoravelmente ao candidato Azeredo em
decisões próximas a depósitos feitos em sua conta e na conta de sua
mulher.


Até 20 dias antes da operação que gerou o mensalão tucano, o
ex-senador Clésio Andrade (PL), então candidato a vice-governador na
chapa de Azeredo, controlava a Holding Brasil, que detinha a maior parte
do capital da SMPB. Para o Ministério Público Federal, a transferência
das quotas da holding de Clésio Andrade foi simulação.


A título de comprovar que encerrara a sociedade com Valério antes da
apuração do mensalão tucano, Clésio Andrade enviou documentos à CPI dos
Correios, que antecedeu a CPI do mensalão petista.


O material foi remetido ao presidente da CPI, senador Delcídio do Amaral (PT).


Clésio Andrade foi vice-governador de Minas no governo Aécio Neves
(PSDB). Difícil imaginar que o esquema denunciado pela coligação de
Itamar Franco ganhasse manchetes em Minas Gerais.

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