domingo, 24 de outubro de 2010

Diário do Centro do Mundo

Diário do Centro do Mundo: "Quem sou eu
24th outubro
2010
written by Paulo Nogueira

Neste momento da vida, aos 30, a mistura de leituras de esquerda com leituras de direita me transformará já num homem de centro

NÃO SEI EXATAMENTE por que, meu artigo sobre a palhaçada de Serra no Rio de Janeiro circulou com intensidade na internet. Desconfio que seja por se tratar de um texto de alguém sem interesse partidário nenhum.

Fui apresentado como um “tucano” por pessoas empenhadas em reforçar a essência de meu texto – o repúdio a um golpe baixo que é um insulto aos brasileiros.

Muita gente que espalhou o texto perguntava quem sou eu. É compreensível. Estive na retaguarda quase toda a minha vida. Aos 29 anos tive meu primeiro cargo de editor, e dali até recentemente, quando fui a Londres ser correspondente, mexi em textos alheios muito mais do que fiz meus próprios. Ter voltado a escrever foi minha maior conquista pessoal dos últimos tempos.

Espero jamais deixar de escrever.

Não sou tucano. Tampouco petista. Sou apartidário.

Votei quase sempre, isso é verdade, em tucanos. Por afinidade com uma linha de centro que, sob FHC, dominava o partido. Só votei em Lula – que admiro sem no entanto idolatrar, e em quem reconheço o óbvio, que foi um grande presidente – contra Collor.

Cheguei à beira da eleição determinado a mais uma vez votar no PSDB. Fui batido pelos sucessivos golpes sujos de Serra. Dois episódios me marcaram particularmente. O primeiro foi Monica Serra ter falado na morte das criancinhas. O segundo foi o atentado da bolinha de papel. Antes, já ficara enojado com as promessas demagógicas de Serra – um retrocesso criminoso em relação aos parâmetros de decência em campanha trazidos ao Brasil por FHC.

Não me senti representado por Serra. Acabei votando em Marina – sem nenhum entusiasmo – no primeiro turno. Prestei mais atenção em Dilma no segundo, e fundamentalmente gostei. Dilma pode ser uma grande presidente. É culta, como tinha forçosamente que ser quem militou como ela no movimento estudantil, e na vida adulta teve que incorporar o senso prático, aliás uma das grandes virtudes de Lula.

Lembro, numa conversa que tive com o empresário Jorge Paulo Lemann, da satisfação com que ele revelou que uma vez, ao relatar a Lula um problema que a Ambev enfrentava no exterior, viu o presidente pegar o telefone e tentar resolvê-lo ali mesmo. Lula entendia que era bom para a economia brasileira que a Ambev não fosse cerceada.

Isso é senso prático. Dilma com certeza viu isso no seu chefe. De resto, é bom ver uma mulher no poder. Margaret Thatcher, Angela Merkel, são vários os casos de mulheres que fizeram coisas interessantes no poder nas últimas décadas. Por que Dilma não poderia fazer o mesmo?

Ideologicamente, fui influenciado na juventude por autores de esquerda, Marx, Lênin, Trotski mais que todos. Na maturidade, em escritores de direita acabei encontrando um contraponto: Hayek e o próprio Adam Smith. Acabei me situando no centro.

Como muitos, estou órfão de partido no Brasil.

Não aprovo o nacionalismo estatista do PT. Também não posso votar num partido que desce tão baixo como o PSDB de Serra.

Para que o PSDB não definhe e morra, é vital que Serra perca para que gente nova apareça. É claro que não estou falando de Aécio, o novo velho.

Se não houver gente nova capaz de devolver perspectiva e dignidade ao PSDB, ele morrerá, merecidamente. Ou, num retorno espetacular às origens, se transformará numa outra versão do PMDB.

Haveria, neste caso, uma chance para um partido que seja o que o PSDB foi no passado.

– Enviado usando a Barra de Ferramentas Google"

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