domingo, 24 de outubro de 2010

Revista pode ser o último obstáculo para vitória de Dilma | Brasil | Reuters

Revista pode ser o último obstáculo para vitória de Dilma | Brasil | Reuters: "Por Stuart Grudgings

RIO DE JANEIRO (Reuters) - Já se tornou um ritual nas manhãs de sábado durante a atual corrida presidencial --funcionários dos partidos e jornalistas correm às bancas para verem se, desta vez, a edição da revista Veja derruba a candidata Dilma Rousseff (PT).

Com sua capacidade para fazer ataques, a revista mais lida do Brasil --que já divulgou dois escândalos de corrupção que afetaram Dilma-- parece ser o último grande trunfo da oposição, numa disputa em que a candidata governista chega à penúltima semana ampliando sua vantagem na dianteira das pesquisas.

Alguns analistas políticos descrevem a corrida em termos de quantas capas da Veja faltam para a eleição: duas.

A incansável campanha da publicação contra Dilma é um sinal daquilo que alguns dizem ser uma profunda tendência da mídia brasileira contra o PT e o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, primeiro presidente brasileiro egresso da classe operária.

O esquerdista Lula tem a aprovação de 80 por cento dos brasileiros e é muito elogiado no exterior pela trajetória que fez o ex-operário virar um presidente que tirou milhões de pessoas da miséria. Mas isso não impede que sua relação com a imprensa brasileira esteja desgastada.

'Há uma revista cujo nome eu não lembro. Ela destila ódio e mentiras,' disse Lula em setembro num comício, em um dos seus muitos ataques à imprensa durante esta campanha, em que ele acusa alguns veículos de comunicação de agirem como partidos políticos.

Membros do PT admitem que a irritação de Lula com a imprensa pode ser contraproducente, e que talvez tenha até custado votos a Dilma no primeiro turno. Mas as pesquisas ainda a apontam como favorita no segundo turno, no dia 31, depois da aparente perda de fôlego na recuperação da candidatura de José Serra (PSDB).

Embora a Veja tenha uma orientação clara, suas reportagens têm se provado corretas, e resultaram na demissão de Erenice Guerra, ex-braço-direito de Dilma, do Ministério da Casa Civil após denúncia de envolvimento num suposto esquema de corrupção.

Os grandes grupos da imprensa dizem que as críticas de Lula têm ido longe demais e citam seu direito constitucional à liberdade de imprensa. A antiga desconfiança da grande imprensa de que o PT gostaria de restringir a liberdade de imprensa foi alimentada, no começo da campanha, quando um documento do partido --depois retirado às pressas-- sugeria propostas por um maior controle sobre a mídia.

'Acho que essa tensão entre mídia e poder é normal --basta ver o presidente (dos EUA, Barack) Obama e a Fox News,' disse Ricardo Pedreira, presidente da Associação Nacional de Jornais.

HISTÓRICO DE DESEQUILÍBRIO

Ainda assim, alguns creem haver provas concretas para justificar a irritação de Lula, e consideram que a postura negativa da imprensa pode ser um problema também para Dilma, caso eleita.

'É inquestionável,' disse James Green, professor de assuntos latino-americanos na Universidade Brown, dos EUA, que vem acompanhando a campanha. 'Sempre que um evento ocorrer ele será distorcido de um modo claramente destinado a favorecer a candidatura Serra e a diminuir a candidatura Dilma.'

Segundo ele, o paralelo entre Obama e o canal Fox News não se sustenta, porque no Brasil, ao contrário do que ocorre nos EUA, não há grandes jornais ou redes de televisão com posições de esquerda, que poderiam equilibrar a cobertura.

Lula, com sua origem humide do Nordeste, é sistematicamente retratado como 'ignorante, analfabeto, rude e preguiçoso,' disse Bernardo Kucinski, professor de Jornalismo e ex-assessor de comunicação do governo Lula no primeiro mandato.

'Ultimamente, os jornalistas reconheceram sua habilidade política e abandonaram os termos mais insultantes, mas continuam a retratá-lo como um homem não-educado e, portanto, despreparado para a Presidência.'

Kucinski disse que Dilma, por ser oriunda da classe média, será poupada de tais ataques pessoais, mas não de uma cobertura ideologicamente tendenciosa. 'A meta da elite é impedir outros oito anos 'deste tipo de governo,'' afirmou.

Lula se queixa de que 'nove ou dez famílias' controlam a mídia brasileira.

Num dos casos mais famosos de comportamento ideológico da mídia, a TV Globo, em 1989, editou o debate de Lula contra seu então adversário Fernando Collor de modo a ressaltar os maus momentos do petista, que acabou derrotado naquela eleição presidencial, a primeira após a redemocratização do país.

Hoje em dia, a Globo faz uma cobertura mais neutra, mas muitos acharam que os apresentadores do Jornal Nacional a trataram de forma mais agressiva do que aos demais candidatos numa série de entrevistas feita em agosto, o que também provocou uma reação de Lula. O jornal O Globo, pertencente ao mesmo grupo, também tem um claro viés anti-Dilma.

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