"Se Dilma vencer, democracia estará em risco", diz Bicudo - Terra - Política: "O seu apoio ao candidato José Serra é na verdade um protesto contra a situação atual do PT?
Não, eu não tenho mais nada a ver com o PT. Eu não sou contra. Eu acho até que o militante do PT é sempre uma pessoa de boa vontade que tem anseios de ver as coisas no Brasil melhorarem cada vez mais. O problema é que hoje os partidos políticos são todos iguais. As direções partidárias impedem a criação de novas lideranças. Então fica aquilo num ciclo vicioso. Por exemplo, quem é que vai ser candidato ao governo de São Paulo? Quem vai ser candidato à presidência? É quem o Lula quer. Esse é o problema. Não é um problema do Lula, eu acho que é um problema da sociedade brasileira.
Por isso a defesa de uma reforma? Como os partidos poderiam ter mais representatividade?
Lógico. O povo não se representa na Câmara. Quem se representa são as direções partidárias. E elas também não representam o povo. Eu acho que é preciso fazer uma reforma política, mas quem é que vai fazer essa reforma? Os próprios que estão lá vão fazer a reforma a favor deles. Quer dizer, é preciso que a sociedade civil se mexa. E a sociedade civil está apática. A sociedade civil está muito interessada nos shoppings, nas baladas, nos shows, no futebol e pronto. A sociedade não tem representatividade. Para apresentar um projeto de lei que vai ser discutido pelo legislativo, precisa ter um 1,5 milhão de assinaturas. E depois esse projeto pode ser alterado - como o projeto da Ficha Limpa foi alterado - no Congresso, para pior. Então, quer dizer, a vontade popular no sistema brasileiro não vale nada.
Há ainda um grupo de intelectuais - que, nesta segunda-feira, até entregou um manifesto de apoio à candidatura Dilma - que se mantém com o PT. O que o senhor pensa disso?
São pessoas que ainda não raciocinaram democraticamente. Que não têm na cabeça o espírito democrático, mas têm o espírito de servir àquele que for o senhor.
Há uma história de que o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim e o Antonio de Aguiar Patriota ofereceram um cargo para o senhor na Unesco.
É verdade. Só que não era cargo. Eram férias pagas pelo governo, três vezes por ano, durante 15 dias, em Paris (risos).
O senhor já declarou que Amorim e Patriota disseram que seria ótimo, porque o senhor viajaria três vezes por ano por conta do governo. É isso mesmo?
Exatamente.
Em que circunstância esse cargo foi oferecido?
Bom, compromisso para o Lula não vale. Mas havia um compromisso dele com a Marta Suplicy no sentido de que, eu saindo da vice prefeitura de São Paulo, seria aproveitado em um posto internacional ligado aos direitos humanos. Era um negócio para trabalhar, não era uma sinecura. Nunca fui atrás de sinecura. Mas isso aí rodou, rodou e acabou nessa oferta de 45 dias em Paris por conta do governo. Eu, absolutamente, não aceitei e mandei uma carta ao Celso Amorim, dizendo que aquilo era um desaforo para mim. Mandei ainda uma cópia da carta ao Lula e ao Zé Dirceu. E acabou o assunto. Senti que estavam querendo me comprar. Para ir a Paris, não preciso de dinheiro público.
– Enviado usando a Barra de Ferramentas Google"
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