Diário do Centro do Mundo

Diário do Centro do Mundo: "No mundo da lua
22nd outubro
2010
written by Paulo Nogueira

'Quem acredita nisso, acredita em tudo'

LER O GLOBO, hoje, pode levar o cidadão a viver num universo paralelo.

Ou, mais prosaicamente, no mundo da lua.

Uma carta publicada ontem é expressiva. Roberto Lorenzi, um leitor, diz o seguinte: “O desespero começa a tomar conta dos militantes do PT. A agressão sofrida por José Serra (…) mostra como são despreparados aqueles que apóiam sua adversária, inconformados com a derrota sofrida no primeiro turno.” E por aí vai, numa louca cavalgada que poderia e deveria ser detida por um editor.

Não sou simpatizante do PT, já disse algumas vezes. Em minha vida adulta votei no PT em situações extremas. Contra Collor, por exemplo. Até em Alckmin votei. Temi Lula em 2002, mas oito anos de um governo sério foram suficientes para que eu visse que o medo que tive era desnecessário. Temer Dilma agora é apenas para quem se compraz no medo.

Mesmo não sendo simpatizante do PT, é óbvio para mim de quem o desespero toma conta, e não de agora.

Desespero — básico – é para quem está na iminência da derrota, não da vitória. Sinais disso apareceram no gesto de Monica Serra quando associou o aborto à morte de criancinhas. E ressurgiram agora espetacularmente no atentado de que Serra foi vítima com uma bolinha de papel.

O Duque de Wellington, herói britânico de Waterloo, tinha uma frase perfeita para a dramatização de Serra. Alguém fez uma afirmação tão disparatada a Wellington que ele respondeu: “Quem acredita nisso acredita em tudo.”

O leitor aponta inconformismo dos adeptos de Dilma por causa da derrota do primeiro turno.

Derrota? Ela teve mais de 13 milhões de votos que Serra. Ganhou, mas não em dose bastante para liquidar a disputa de cara. (Aliás, se existe algo que merecia o lixo é este sistema de dois turnos.) Em seus dois mandatos, Lula foi eleito no segundo turno. Mas na mente do leitor do Globo Dilma foi derrotada.

O leitor se abastece de informações de seu jornal. Se essas informações o transportam a um universo paralelo, ou para o mundo da lua, alguma coisa está errada. Antes de dar aulas sobre como agir — ontem até a China mereceu um sermão num editorial — talvez o Globo devesse olhar primeiro para si mesmo.

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