domingo, 18 de novembro de 2012

O que diria Raimundo Faoro ao PT

O que diria Raimundo Faoro ao PT

O que diria Raimundo Faoro ao PT

Lula e o ‘efeito borboleta’: O que diria Raymundo Faoro ao PT?


Reflexões errantes sobre o pensamento do ponto de vista estético e não científico”, “atores somos todos nós, e cidadão não é aquele que vive em sociedade: é aquele que a transforma”.
O olhar, ver e reparar no espelho da memória (des)oprimida, a vida teatral de cada ser vivente nas palavras, nos sons e nas imagens do pensamento sensível e simbólico de Augusto Boal.
O tema de traçar cenários é propício para trazer a reflexão de dois grandes Intérpretes do Brasil, Boal e Faoro, pois trata-se de um questão muito além do quantitativo científico, trata-se de possibilidades, do sistema complexo, do qualitativo e da especulação humano desde milênios, ou pré-humana na caverna rupestre.
Os primeiros povos que se tem informação de tentar se antecipar as possibilidades de cenários futuros, foram os Egípcios a cinco mil anos, ao monitor os três afluentes do rio Nilo, se a água estava limpa, meio turva ou muito turva, para traçar quais eram as possibilidades de enchentes das margens do rio Nilo e da área para o plantio do trigo.
Raymundo Faoro e a visão da complexidade no momento histórico, no momento em que a história está acontecendo. História é tempo passado e também tempo presente.
Raymundo Faoro era cauteloso e cético, com sorriso maroto-machadiano: “A única profecia válida é a retrospectiva”, mas suas prospectivas e análises de cenários eram brilhantes, como se pode checar em seus escritos. Isso “é do conhecimento até do mundo mineral”, há até quem o chamava de profeta, são exemplo memoráveis, como a brilhante análise nos dias seguintes a queda do muro de Berlim (1989), ele identificou no ato da dialética, que o fato era o ostracismo da América Latina e da ascensão e renascimento da Europa e Ásia, e consequentemente, queda do império americano, “se um cai o outro não permanece” (A Democracia Traída, 2008). Para termos algumas referências sobre as análises densas e profícuas de Faoro com outros pensadores, algumas comparações: Giovanni Arrighi, em Adam Smith in Beijing (2007), relata que o primeiro economista americano a perceber a importância da China foi Joseph Stiglitz em 2002. Joseph Stiglitz ocupa o topo do ranking entre os economistas, de acordo com a comunidade dos economistas. Peter Schwartz, o engenheiro e futurologista, entre os principais especialista americano em cenários, que trabalhou na Shell com o francês, Pierre Wack, no livro China´s Futures (2000), também deixou de captar as principais mudanças ocorrida na China nas décadas de 80 e 90 para sua análise de cenários.
Minha percepção e experiência intuem que hoje temos geração de professores que fazem a crítica ao Intérprete do Brasil, intelectual orgânico e outsider da academia, Raymundo Faoro, que aparenta ser uma mera reprodução, de quem ouviu a critica de seus professores quando era estudante. Se o atual professor leu ou não Raymundo Faoro, é apenas mais um detalhe, de uma leitura enviesada: “Alunos forever” (artigo de Paulo Nogueira Batista Jr., FSP, Caderno B p:2, 04-09-2003). Somos uma sociedade em que a mediocridade é institucionalizada, se não em tudo, em quase tudo. Será que, ao sul do equador, a nobreza realmente vem do povo?
Lula e o ‘efeito borboleta’:
Para trazer o assunto aos nossos dias, o companheiro Lula e a matemática do caos, ‘o efeito borboleta’ nas eleições de São Paulo em 2012, ou no Brasil em 2010 com Dilma (ex PDT). Diante de um cenário que não está escrito em lugar algum, só na cabeça do “sapo barbudo”, ele mexe, estrategicamente uma peça no tabuleiro do xadrez, na qual os adversários, e até mesmo correligionários, só irão entender dez ou mais jogadas à frente, já no desenrolar do jogo, em seu segundo tempo, aí meus caros, “Inês é morta”.
Como mencionou em artigo recente o Nassif, O xadrez de Lula(28-10-12), ou como diz Fornazieri, “mito determinante das eleições,.., o ponto determinante é a conjuntura. Há conjuntura de continuidade e conjuntura de mudança.”
A nossa intelectualidade cartesiana e medíocre de plantão na mídia e o ‘academissismo’ da ciência da certeza, simplesmente odeia essa esperteza inerente a evolução de todo ser humano, parafraseando Popper, da ameba a Lula.
Assim como considero assertiva a colocação do Nassif (já manifestado em posts anteriores), sobre o animal político Lula: “No caso do PT, houve a renovação – com Dilma e, agora, com Haddad – exclusivamente devido ao enorme poder que Lula desenvolveu internamente no partido, especialmente após o esvaziamento da liderança de José Dirceu, após o episódio do ‘mensalão’.”
Assim como considero também importantíssimo a colocação de André Singer sobre o lado neoliberal do governo Lula (bem mais interessante do que o refrão uníssono da companheirada: “temos um projeto de país”): “O primeiro mandato misturou políticas díspares. De um lado deu continuidade ao tripé neoliberal (metas de inflação, câmbio flutuante e superávit primário). Teve efeitos nefastos, na quebradeira da cadeia produtiva de diversos setores industriais. Em certa medida ainda está presente na política atual, diz Singer.... Na outra ponta, Lula ganhou espaço político para políticas sociais exatamente opostas ao ideário neoliberal, que consistiram em distribuir renda para setores mais necessitados. Mas considera que o modelo lulista esgotará nos grandes centros urbanos, que exigirão muito mais recursos do que as quireras distribuídas pelo Bolsa Família.Sistema de saúde que dê conta de uma população como SP, exige muito dinheiro.”
Raymundo Faoro disse, após as eleições da Erundina em São Paulo, e também após o segundo turno em 1989 com Collor e Lula, “todo o jogo político de agora em diante vai girar em volta do PT, e a reação ao petismo virá, o estamento ainda não está preparado, mas virá e ela será difícil, violento”,..., o PSDB, “eles se definem como um partido de centro-esquerda, mas na verdade é um partido de centro”. Continuando, Raymundo Faoro lembra a nossa história política partidária, do pós-guerra, “Faoro achava fundamental o PT manter a lealdade ao projeto que o fez nascer e não crescer a qualquer custo. Isso seria uma barreira à fluidez que tomou conta do PTB de Vargas e do PMDB de Ulysses. O entrevistado liga o alerta: Se o PT conseguir esta lealdade, terá condições de superar todas as armadilhas que vêm por aí” (1989. A Democracia Traída, 2008, p: 125). Vale dizer, nos anos 90, ocorreu o mesmo com o suposto partido que se definia e era definido pelo Estamento, como de centro esquerda e de quadros, os tucanos do PSDB.
Nas eleições de 2006 e após, nos debates e trocas de email com os amigos engenheiros (que adoram uma planilha, como eu), evoluindo da analise de Rubem Alves que escreveu artigo em 2002, comparando Lula com Abraham Lincoln, comparei Lula a Thomas Jefferson, pois o “Time” de Thomas Jefferson governou os EUA de 1801 a 1828 (Jefferson morreu em 1926).
Mas lembrando Faoro, tenho que “ligar o alerta”, o cenário já é outro, e o momento político aparenta estar entrando numa nova fase, com o PT mostrando-se como é, quando se olha além da cortina de fumaça e da névoa, quando se olha não nas espumas na superfície do rio , mas quando se mergulha no fundo, vê-se, menos o PT ‘Capitalismo de Estado’ e mais mercadista como cita André Singer. Se o Lula, como disse Vladimir Safatle, “... percebeu que era possível desconcentrar renda e criar um processo de ascensão social sem acirrar de maneira radical conflitos de classe. O tempo mostrou que ele não estava errado”, (Revista CartaCapital, edição N:706, 18-07-12, pág. 52-53), o tempo mostra hoje que a ascensão social é uma mera migalhas de pão, e o subproletário sabe que não é classe média, mas deseja, quer e vai cobrar a promessa.
Para essa nova fase de enfrentamento, “mudança de classe”, uma tese de Raymundo Faoro de nossos dias: “A Questão Nacional e a Modernização” (de 31 de março de 1992).
O animal político Lula vai ter que se reinventar, terá Lula e o PT condições de se manter no poder e na centro esquerda, ou veremos a "A terceira alma do PT: o caminho para a centro-direita?”, ou como disse Faoro à Mino Carta, sobre o Governo Lula em abril de 2003: “não espere nada desse Governo, não vai dar em nada.”?

Nenhum comentário:

Postar um comentário