Veta Dilma?
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Em toda sociedade existem preferências e necessidades, sejam coletivas, sejam individuais. Algumas são comuns a muitos ou a maioria, e resultam em consenso ou acordo, mas infelizmente, a grande parte delas, não. E numa economia em que os recursos são limitados, o conflito é inevitável.
Para isso existe a Política. Aparentemente simples, mas a Política serve para que uma sociedade resolva seus conflitos sem a necessidade de ruptura, em que cada individuo (ou grupo de indivíduos) se arma de facão e foice para resolvermos nossas diferenças, e impor nossa vontade. Uma solução pacífica de diferenças e demandas conflitantes.
Assim, atores políticos são artistas que atuam num teatro para resolver nossos problemas. Por mais que tentemos evitar uma conexão entre suas atitudes (escusas) e as nossas (virtudes) temos uma ligação umbilical com eles. E é o voto. Não tem como fugir desse fato. Eles são o que somos. E nós somos eles. Só replicam, e na maioria dos casos, exacerbam nossas atitudes cotidianas.
Aceitem ou não, a realidade é essa. E o quanto antes aceitarem esse fato, mas rápido chegaremos a uma solução para os problemas da nossa infante democracia.
Em assuntos complexos (eg.: Pré-Sal, Reforma Tributária, Reforma Previdenciária, etc.) é difícil enxergar o jogo de xadrez envolvido. O público não gosta dos detalhes, assim como a maioria come “fast-food”. Querem soluções rápidas, mesmo que lhes causem uma indigestão posteriormente. O que importa é o resultado.
“Política é um iceberg, se olharmos só pela superfície, é bem provavelmente que vai dar merda.” – disse o capitão do Titanic.
Assim o que ocorreu no Congresso entre a “Divisão dos royalties do Pré-Sal” e os “100% para Educação” não é tão simples. Tanto à esquerda, como à direita, ninguém prestou a devida atenção no processo legislativo (realmente não é fácil), ninguém se mobilizou. Ninguém, exceto os prefeitos e governadores, claro. O resultado é que o Congresso não aprovou o substitutivo (não é fácil) e o projeto foi aprovado com tantas destinações que a Educação vai ficar na mesma. Congresso estranho, aprova o PNE (Plano Nacional de Educação) prevendo, na teoria, 10% para Educação, e quando tem a oportunidade de, na prática, destinar os 10% não o faz.
Afinal a culpa é de quem? Fácil é colocar a culpa nos políticos. Será? O usual é ficarmos com a resposta mais fácil. Difícil é aceitar que os políticos só expressam nossa própria aflição ante a decisões que só terão resultados no longo prazo. É humano. É assim que nossa mente, forjada pelas dificuldades evolutivas, funciona. É a história de comer o chocolate agora e fazer a dieta. A mesma história. Comprar um carro financiado por 60 meses ou andar no velho e comprar dois daqui a 5 anos. A mesma história. Economizar agora pra ter um boa aposentadoria.
A questão é saber se daqui a 2, 4, 6 ou 8 anos, votaremos nos deputados e senadores que votaram a favor dos 10%. Como garantimos isso a eles? Mobilizando. Mas a maioria nem se lembra em que votou em outubro de 2012. Essa ignorância e covardia não nos permite assumir que a falha, nesse caso, é nossa. De todos brasileiros. Assistimos “realities” absolutamente todos os dias. Só não encaramos nossa própria realidade. Nossos problemas mais profundos e importantes.
Chancelamos diariamente, assistindo ou lendo, essa mídia escrota e corrupta. Dos socio-eco-chatos de plantão a ativistas de sofá. Antipetistas culpam o PT e o Mensalão. Antitucanos culpam FHC e a Privataria. Moscas sem asas que não querem mudar nada, só fazer pose de indignado. Posers. Professores que destruíram um ano letivo inteiro, por melhores salários e mobilizaram um batalhão de incautos nas redes sociais, mas agora, sequer abriram a boca. Estudantes se mobilizarão, num futuro distante e improvável, mas só depois de uma partida de Minercraft.
Cada um tem suas prioridades. Cada um sabe aonde aperta o calo. Pela última vez: patético.
E o resultado? Idiotas – da esquerda e da direita, simultaneamente – demandam que a Presidenta vete o projeto. Como assim? Vetar o quê? Não acompanham a política. Ignoram que um veto presidencial é uma bomba de hidrogênio. Que cria uma fissura na coalizão governista. Fissura que só reaparecerá daqui a alguns anos, quando a popularidade não for mais aquela. Fissura, rachadura, a coalizão de suporte político desmoronará. E a oportunidade que quem está fora do poder surgirá. Como passe de mágica. Justamente aqueles que votaram “Não” no Congresso. Exatamente como no Código Florestal. Vou desenhar: a cota de veto pra meio mandato já foi usada. E vocês vibraram!
Exatamente como os juízes no STF, abominam a política. Consideram o “Presidencialismo de Coalizão” um frankestein, um monstro a ser controlado. Mas são os mesmo que quando a política desaparecer, e as ruas estiverem em chamas, se esconderão debaixo de suas camas se borrando de medo. Falar é fácil. Difícil é fazer.
O que o Congresso construiu foi uma trava contra o veto: ou ela veta a destinação dos royalties para a educação e a redução dos ganhos dos estados produtores em detrimento dos demais estados e municípios; ou não sanciona do jeito que tá.
Não Dilma, não veta (sic)! Presidentes são eleitos pra governar, mas (ainda) não possuem o poder sobrenatural, quase divino, de transformar os cidadãos, em algo diferente daquilo que realmente são.
Não somos coreanos, não somos finlandeses. O problema é que somos brasileiros. Nos regojizamos que nosso ano começa só depois do Carnaval. Nunca somos responsáveis por nada. Culpar políticos é o cumulo da nossa própria covardia social e asco à política. O ápice. Pior que isso não fica. Dizemos (nos botecos) que consideramos a educação importante, pois prepara nossos filhos para o futuro, mas é pura dissimulação.
E não há veto no mundo que resolva isso.
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